20/11/2012

ato de contrição - parada de beira de estrada

por várias semanas, no ano de 2000, eu  acompanhei as idas desse senhor a  uma pracinha perto de onde eu morava, aqui no centro de vitória.
sempre após o almoço, e sempre solitário, calado e meio que melancólico.
algum tempo depois eu vi que era mais um dos milhares de catadores de papel e de quinquilharias,  que vagam pelas esquinas
e lixos das cada vez mais absurdas cidades dos homens. 

e suas idas à pracinha me pareciam uma espécie de parada de beira de estrada, um repouso, um intervalo na sua solitária e anômina jornada em meio à cidade. 
somente consegui registrar suas idas e vindas em três ocasiões - ele sempre usava as mesmas duas camisas, na maior parte dasa vezes com uma sacola de plástico nas mãos, certamente a carregar suas parcas coisas. 
e o que me chamava  a atenção era o fato de ser uma parada na qual o peregrino  não se permitia nem mesmo se sentar ou se deitar num dos bancos da pracinha, como qualquer andarilho o faria.

como se um resto de dignidade o impedisse de demonstrar que era apenas mais um andarilho, um catador de coisas, de restos.
ou como se se estivesse a fazer -  ali em pé, solitário e silencioso - um espécie de ato de contrição.

um ato de contrição pelo pecado, pela falha de não ter sabido, ao longo da vida, tornar-se minimamente um vencedor, por não ter aprendido a se comportar de maneira minimamente obediente, disciplinada, ou apenas esperta, em meio à vitoriosa estupidez da civilização ocidental.

quem está na idade média: gaza ou israel?


Ódio e Negócios
por Laerte Braga - trechos


Estão juntos na barbárie nazissionista contra palestinos. O ódio bíblico da presunção de superioridade racial, de missão divina, os “negócios”, nos saques e na pirataria contra vidas e riquezas palestinas. Pior. Esse ódio e esses “negócios” se espalham pelo mundo no cinismo que caracteriza os sucessores de Hitler.

“Vamos levar Gaza de volta à Idade Média”. Foi a declaração de um dos ministros do gabinete terrorista de Tel Aviv. Ficou estampada em todos os jornais do mundo. Não havia como esconder. Os vídeos e fotos de corpos de crianças, mulheres, idosos mortos na insanidade fingida, na falsa indignação de quem ocupa terras alheias são universais e se incorporam à História da crueldade em todos os tempos.


Os ataques de Israel contra Gaza são crime de genocídio e têm o apoio de nações como os Estados Unidos e sua principal colônia na União Européia, a Grã Bretanha. O sangue de palestinos corre por todo o mundo despertando a revolta de seres humanos que ainda se mantêm como tal.


Os corpos estendidos, os olhares aflitos, a dor, a revolta, são da incompreensão de tanto ódio, de tantos “negócios”.


O governo terrorista de Israel se apropriou de terras e águas palestinas. No caso da água uma empresa sionista explora o bem em terras palestinas e cobra o dobro de palestinos. São ladrões contumazes ao longo da história. E curiosamente o Alcorão proíbe a cobrança de juros. É uma diferença abissal entre o ódio e os “negócios” e simplicidade de pastores de ovelhas, agricultores expulsos de suas terras, cercados por um muro e atemorizados por batalhões de homens bestas, ou bestas feras armados até os dentes e sem o menor brilho humano nos olhos. 

Em Gaza os palestinos vivem da produção de flores e frutas, entre outras atividades primárias, mas ricos em sua essência. As flores estão sendo mortas e não estão “vencendo canhões”.

Parar com esse horror? Basta que os chamados grandes queiram fazê-lo. Israel deixou de ser um direito de um povo – a despeito dos protestos de judeus em todo o mundo contra o seu governo – para se transformar naquilo que Einstein, ainda no final da década de 40 e início da década de 50, previa. Criminosos no governo.

É uma falácia a afirmação que foguetes do Hamas atingem Jerusalém. São rojões perto do arsenal químico (fósforo branco) e nuclear (urânio empobrecido) dos terroristas de Tel Aviv. Ou de Treblinka, difícil dizer a diferença.

É inexplicável o silêncio de governos do Egito, da Jordânia, dos países muçulmanos diante do massacre inaceitável. É um silêncio que soa como punhalada. (...)
(...) É ódio e são “negócios”.
A judiação imposta ao povo palestino só encontra paralelo nos campos de concentração do 3º Reich.
Vivemos o apogeu insano do 4º Reich.

Começam a soprar ventos de insatisfação nos EUA. Nem os norte-americanos agüentam mais tanta violência e tanta crueldade.
Bem fez Chávez que, em 2006, percebendo o perigo da suástica transformada em cruz de Davi expulsou de seu país todo o corpo diplomático israelense da Venezuela.


Não basta pedir paz. Que paz? Há que ter ser liberdade para a Palestina. O Estado Palestino como decidido pela ONU.
Há que se cumprir as mais de 50 resoluções da ONU que condenam Israel por práticas terroristas, tais como uso de força excessiva (eufemismo para barbárie), armas químicas, biológicas, tortura, estupros, assassinatos seletivos.
Israel nunca quis a paz e quando a paz se ofereceu Israel matou seu próprio líder, Itzak Rabin. Atribuíram o crime a um “fanático” judeu. Se sabe, hoje, que era um agente do MOSSAD abrindo caminho para os terroristas; à frente, Ariel Sharon.
A sanha bárbara e terrorista de Israel quer terras, quer negócios, quer juros nos seus bancos, usa a bíblia como escudo, no fundo têm a convicção que são superiores.
Superiores sim na insanidade.
 
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A íntegra do texto está aqui

19/11/2012

guaranis-kaiowás x veja: direito de resposta

Campanha reivindica direito de resposta aos guaranis-kaiowás

A fúria conservadora contra o reconhecimento dos direitos constitucionais dos índios guarani-kaiowá ganha corpo na mesma proporção em que a campanha em prol da etinia ocupa mais e mais espaços, nas ruas e nas redes sociais de todo o mundo. E neste processo, a mídia conservadora, como era de se imaginar, se torna terreno fértil para a propagação de todo tipo de preconceitos e inverdades históricas contra as populações indígenas. É neste ambiente que índios e defensores dos direitos humanos se uniram para lançar a campanha “Direito de resposta aos Guarani-Kaiowá Já!”, direcionada à revista Veja, precussora dos ataques.

“A escrita, quando você escreve errado, também mata um povo”, afirmaram professores guaranis-kaiowás a respeito da matéria “A ilusão de um paraíso”, publicada na edição de 4/11. De acordo com os organziadores da campanha, a matéria é “claramente parcial no que diz respeito à situação sociopolítica e territorial em Mato Grosso do Sul, pois afirma que os indígenas querem construir ‘uma grande nação guarani’ na ‘zona mais produtiva do agronegócio em Mato Grosso do Sul’”.
Também distorce à atuação política de grupos indígenas supracitados e órgãos atuantes na região, “desmoralizando os primeiros ao compará-los, ainda que indiretamente, a ´massas de manobra´ das organizações supostamente manipuladoras e com uma ´percepção medieval do mundo´.

A campanha classifica a matéria como irresponsável e criminosa, por estimular medo, ódio e racismo. Um exemplo? “O resto do Brasil que reze para que os antropólogos não tenham planos de levar os caiovás (sic) para outros estados, pois em pouco tempo todo o território brasileiro poderia ser reclamado pelos tutores dos índios”, afirma o texto da revista.

A postura de Veja não é isolada. Hoje, foi a vez da Folha de São Paulo ceder espaço para um outro texto-síntese do pensamento conservador brasileiro. O artigo de Luiz Felipe Pondé aparentemente se volta contra os adultos que aderiram à defesa da causa guarani-kaiowá e uniram o nome da etnia aos seus próprios nas redes sociais. Os militantes virtuais são chamados de loucos, ridículos e mediocres, entre outros adjetivos de nível idêntido.

Mas o pano de fundo do texto também é atacar a causa do povo indígena também é duramente atacada. “Desejo que eles arrumem trabalho, paguem impostos como nós e deixem de ser dependentes do Estado. Sou contra parques temáticos culturais (reservas) que incentivam dependência estatal e vícios típicos de quem só tem direitos e nenhum dever. Adultos condenados a infância moral seguramente viram pessoas de mau-caráter com o tempo”, diz um trecho do artigo.

Participe da campanha.

somos todos gaza



transcrito  de   resistir

13/11/2012

josé dirceu: não acabou

"Esse processo viola a Constituição e o Estado Democrático de Direito"

por José Dirceu, em  carta maior

Dediquei minha vida ao Brasil, a luta pela democracia e ao PT. Na ditadura, quando nos opusemos colocando em risco a própria vida, fui preso e condenado. Banido do país, tive minha nacionalidade cassada, mas continuei lutando e voltei ao país clandestinamente para manter nossa luta. Reconquistada a democracia, nunca fui investigado ou processado. Entrei e saí do governo sem patrimônio. Nunca pratiquei nenhum ato ilícito ou ilegal como dirigente do PT, parlamentar ou ministro de Estado. Fui cassado pela Câmara dos Deputados e, agora, condenado pelo Supremo Tribunal Federal sem provas porque sou inocente.

A pena de 10 anos e 10 meses que a suprema corte me impôs só agrava a infâmia e a ignomínia de todo esse processo, que recorreu a recursos jurídicos que violam abertamente nossa Constituição e o Estado Democrático de Direito, como a teoria do domínio do fato, a condenação sem ato de ofício, o desprezo à presunção de inocência e o abandono de jurisprudência que beneficia os réus.

Um julgamento realizado sob a pressão da mídia e marcado para coincidir com o período eleitoral na vã esperança de derrotar o PT e seus candidatos. Um julgamento que ainda não acabou. Não só porque temos o direito aos recursos previstos na legislação, mas também porque temos o direito sagrado de provar nossa inocência.

Não me calarei e não me conformo com a injusta sentença que me foi imposta. Vou lutar mesmo cumprindo pena. Devo isso a todos os que acreditaram e ao meu lado lutaram nos últimos 45 anos, me apoiaram e foram solidários nesses últimos duros anos na certeza de minha inocência e na comunhão dos mesmos ideais e sonhos.

08/11/2012

poema de finados - 2

e como condenados

e como condenados
por trás de horas desapiedadas
ao vento confiamos
clandestinas mensagens, testemunhos
de que passamos, de que compreendemos
e tivemos um breve senhorio

para que ninguém
nos confunda
amanhã com o nada.

miguel d'ors - espanha  (1946  -   )
veja também poema da casa assassinada

06/11/2012

o bangue-bangue paulista: a cidade quer saber

 transcrito de  carta maior

(antes de passar propriamente ao texto de Carta Maior, vale registrar o comentário de um leitor, publicado no mesmo site:
Baco diz: Eu não entendo esse governo do PT. O PT sob fogo cruzado intenso-via mídia empresarial e "mini-ministros" do STF. E o Governo Federal se prontifica a ajudar ao governo do PSDB, que é o responsável direto por essa violência. Tinha que deixar eles solicitarem socorro e não socorre-los!
Na verdade, caro Baco, você não deixa de ter um pouco de razão, mas ocorre que é isso que diferencia um governo popular, ou ao menos progressista, de um governo despersonalizado e pró-elite: a generosidade e o compromisso sério com a vida e a dignidade das pessoas em primeiro lugar. E valeu pelo 'mini-ministros'. Ao texto de Carta Maior) 
  
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A criação de uma agência de cooperação e inteligência entre o governo de São Paulo e Brasílial é a primeira providência estrutural diante da pasmaceira de violência e incompetência que assola a maior e mais rica capital do país.

Com mais cinco assassinatos verificados na madrugada desta 3ª feira, São Paulo atingiu a apavorante marca de 290 homicídios nos últimos 60 dias. A marca da 3ª feira ficou dentro da média do período: quase 5 mortes (4,8) por dia.

O padrão equivalente a cerca de 150 mortes por mês é mais que o dobro do descalabro registrado em Ciudad Juarez, a capital conflagrada do narcotráfico mexicano. De janeiro a setembro deste ano Ciudad Juarez recolheu uma média mensal de 65 cadáveres de suas ruas, entre corpos baleados e algumas cabeças decapitadas.

São Paulo não é Ciudad Juarez. Assiste-se aqui a um surto; uma irrupção refletida no aumento de 90% no total de homicídios dos últimos dois meses, em relação ao bimestre equivalente de 2011.

Um surto de execuções, melhor dito. E isso guarda semelhança com o padrão de Ciudad Juarez. Lá e cá a matança em nada se confunde com latrocínio, o roubo seguido de morte, tampouco é fruto de confrontos eventuais entre policiais e bandidos. Esses são casos de contabilidade distinta.

A sangria desatada que interliga tristemente as estatísticas das duas cidades reflete a morfologia de uma violência planejada. Há listas de mortes programadas e jagunços a campo. Portanto, é mais assustador ainda.

O acerto de contas acontece nas ruas da maior e mais rica cidade brasileira, no estado cuja segurança pública é ordenada há 18 anos por governos do PSDB. A nominação é pertinente na medida em que a proficiência na matéria sempre foi um apanágio reclamado pelos tucanos. O que houve então?

Há 60 dias, alternam-se em toda a região metropolitana paulista execuções de policiais e civis. Noventa e dois policiais militares foram fuzilados em situações semelhantes desde o início do ano. Média de nove corpos por mês. A maioria, fora de serviço, vestida à paisana, muitas vezes próxima da residência ou dentro dela. Parentes também foram alvejados.

Até a semana passada, o governo do PSDB paulista repetia a cada enterro: temos o controle. Na 5ª feira depois das eleições, um telefonema da Presidenta Dilma ao tucano Geraldo Alckmin desfez a encenação: o governo de SP aceitou a ajuda federal para tentar conter a guerra. Nesta 3ª feira surgiram as primeiras iniciativas, como a da agencia de cooperação.

Outras providências de sensatez desconcertante pelo ineditismo serão tomadas a partir de agora. Líderes do PCC serão transferidos para presídios federais de segurança máxima.

Hoje, eles estão espalhados em cárceres do sistema prisional paulista sabidamente saturado e, é quase uma delicadeza colocar as coisas assim, co-administrados pelo crime.

A inteligência federal ajudará a deslindar um dos mistérios mais guardados pela cúpula tucana: quem está matando quem, e por qual motivo?

Documentos apreendidos em batidas policiais feitas em favelas comprovam a deliberada aritmética da morte comandada de dentro das prisões: dois policiais por bandido morto.

Há, ainda, a suspeita de um ajuste de contas entre milícias compostas de policiais da PM paulista fora do expediente e traficantes ligados ao PCC.

Os dois lados estariam redesenhando a chumbo e sangue os perímetros de controle do jogo clandestino e do comércio de drogas. É uma das hipóteses da investigação.

Sobram perguntas numa crise encoberta pelo lacre da opacidade conveniente à leniência oficial e ao matador clandestino. A cidadania tem o direito de saber o que se passa. E mais que isso, de arguir o que deixou de ser feito a ponto de se ter, não pela primeira vez, diga-se, a maior cidade brasileira ao sabor de bandos e balas fora do controle. Sobretudo, tem o direito de cobrar as providencias para que o horror cesse -- e a sua ameaça não se repita.

Assusta a opinião progressista de São Paulo que até hoje a sua Assembleia de representantes não tenha tido a coragem, e a responsabilidade soberana, de convocar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para tirar a segurança da sarjeta onde bandos armados disputam o território com a incompetência desarmada pela soberba e o interesse eleitoral. Ainda é tempo.

03/11/2012

poema de finados - 1

poema da casa assassinada

a casa abandonada foi encontrada.
e olhá-la do lado de fora, parece
ainda mais abandonada.

por segurança, melhor mesmo é
manter-se distante.
não haveremos de nos lembrar ?

pois somos nós, eternamente
o planeta das criaturas abandonadas.
como meninos largados
numa rua  qualquer do cosmos.

então de vez em quando cheiremos
alguma cola pela vida afora.

 e salve Proust:
''Mas quando nada subsiste de um passado remoto, após a morte das criaturas e a destruição das coisas, sozinhos, mais frágeis, porém mais vivos,mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis,o odor e o sabor permanecem ainda por muito tempo,como almas, lembrando, aguardando,esperando, sobre as ruínas de tudo o mais, suportando sem ceder, em sua gotícula impalpável, o edifício imenso da recordação."
vicente gonçalves - belo horizonte, minas

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Na verdade, na versão original do poema que Vicente Gonçalves enviou, o 7° e 8° versos eram assim:
Seremos nós,eternamente o
pais dos (menores) abandonados.
Gosto muito dos poemas de Vicente, e trocamos algumas idéias acerca de seus versos.
Desta feita, chegamos à conclusão de que a nova versão dos citados versos ganhou em amplitude, já que agora a denúncia não é apenas social, ou histórica - ela se trona cósmica, metafísica, fala da mistura de admiração e perplexidade, de desorientação  e impotência, ás vezes até mesmo de mágoa e de tédio, essas impressões que nos  perseguem quando desistimos de compreender o propósito último, claro e inquestionável de termos sido lançados  no meio do ser e do tempo (sem maiores explicações) pelos desígnios de uma potência até hoje desconhecida e para  a qual danos nomes vários: Ser, Cosmos, Espírito, Deus, Alah, Javé, Energia, Big Bang, Força, Tao etc etc etc. 

Na peculiar e comovente ironia que marca seus poemas, também acima  Vicente Gonçalves fecha bem a questão: já que numa etapa qualquer do tempo e do espaço, foi-nos dada a desgastante exigência, ou a privilegiada tarefa, de não mais cumprirmo-nos como pacificados animais, então  precisamos de uma forma ou de outra cumprir nosso compromisso histórico e/ou espiritual, entrar de fato no jogo, "cheirar uma cola qualquer", seja ela a cola da revolução, da fé, do ninho familiar, do poder ou do dinheiro, ou mesmo a 'cola' da arte, do poema, mesmo que às vezes a 'cola' de um poema irônico-desistente.