23/05/2012

sobre o apelo da poesia

pra mau (e presunçoso) escrevedor, nem um poema inteiro basta... de qualquer forma segue essa sutil e ao mesmo tempo séria diatribe de dritëro agolli. veja também este outro poema, do qual o poema  abaixo é uma espécie de justificação - e já que se está a falar de vacas, poetas e pássaros, vale também ler dedicado aos papagaios.
E já que se está falando de vacas e tetas generosas, para quem ainda não viu  neste mês há também  a vale, vaca e a pena - embora não haja ligação direta,  nem mesmo indireta, dos poemas com esse último texto, vale conhecer esse trabalho de resistência.    

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Dizes que escrevi demais sobre vacas
E que estraguei demasiados versos com os cereais dos campos.
E então? Tu tens manteiga e leite pela manhã
Ao jantar há sempre esse pãozinho branco
No teu prato e, além disso, o teu clamor por carne.

Sustentas que perdemos alguma emoção poética
Quando, nos nossos versos, falamos de vacas a toda a hora
A intensidade de um poema, dizes, não vem das pastagens
Nasce antes sob a nossa pele - quando uma linha explode
Em palavras, insistes, vindas de alguma reserva sublime.

Escuta, no entanto: no que diz respeito a vacas, eu nunca alcancei
Tudo o que queria, sim, elas merecem muito mais
Por isso não posso separá-las da minha caneta e das minhas folhas,
As vacas são a minha inspiração, a minha primavera, o meu outono
E, se pudesse, ensiná-las-ia a escrever poemas.

Tenho a certeza de que fariam melhor do que a maioria dos nossos bardos!

dritëro agolli  -  albânia (1931 -  ) 

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