28/03/2012

o assunto chico anysio - II

Reproduzo aqui algumas mensagens de uma interessante e acirrada discussão acerca do papel do humorista Chico Anysio na televisão e  na cultura de massas. As mensagens foram postadas no 'Opiniões Cênicas', grupo de discussão aqui de Vitória, ES, e a polêmica teve início com a postagem, pelo dramaturgo Wilson Coelho, desse texto de Paulo Ghirardeli .

Seguem abaixo, então, algumas respostas, todas elas defenestrando o texto e a postura do filósofo Paulo Ghiradeli, e também  a própria atitude de Wilson, por ter aberto o debate.  Não me interessei pela discussão, até o momento em que Wilson, resistindo corajosamente aos ataques,  postou um outro texto, esse sim, mais convincente (leia aqui)  - conforme explicito em minha mensagem, dirigida há poucos instantes ao 'Opiniões...' (veja a mensagem ao final desta postagem)
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Em tempo: para muitos, a transcrição dessas mensagens e do texto do aqui pode até parecer deslocada, confusa ou até mesmo enfadonha, principalmente para quem não vê muita pertinência em debater Chico Anysio. 
Pode até ser, mas o que me motivou foi também  essa amostra da interatividade e da agilidade proporcionadas pela internet - não deixa de ser um exercício interessante, divertido e diferente.
Às mensagens. O texto de Luiz Cesar, ao qual faço referência em minha mensagem,  está em outra postagem, logo abaixo desta. 
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Mensagem de Waldo Motta, em 26 de março de 2012, 13:09:
Como são chatos esses filósofos, que de sabedoria nada têm, e querem ser mais reais do que o Rei, a realeza e a realidade.
 
Mensagem de Higor Campanaro, 26 de Março de 2012, 14:01
Wilson
o dono do texto tem tanto problema de estima, que sente inveja de homenagens feitas a um morto e vocifera no bloguinho dele: não ele não era bom... ele era um qualquer, alem do mais ele casou com a Zélia aquela da poupança dos anos 90, falou mal da mulher do Lula e blablabla sei la qualquer coisa. E tem a castimônia de definir aquilo que devemos achar ou não engraçado, e terminar o textinho dizendo que; quem não concordar com ele não tem inteligencia suficiente. (...) Era para rir?

De fato a globo faz a escola, porem ela pelo menos ela é pouco mais sutil e mostra umas imagem bonitas... eu nunca foi fã do Chico Anisio mas eu conheço um monte de gente que é, e já dei umas boas gargalhadas com ele. E se um sujeito debruça-se no seu computador para maldize-lo daquela maneira é porque de fato ele incomodou.
Se não valeu como humorista valeu como incomodo.

E todo o respeito as pessoas que fazem o que querem de suas vidas, e encontram espaço para realizarem seus trabalhos ainda que não sirva a ninguém.
Tem um vídeo do chico aí é só clicar e rachar o bico de tanto rir... ah isto é sugestão e não uma imposição: http://www.youtube.com/watch?v=XsW6dNs6MUI

Mensagem de Andeerson Lima, em 26 de março de 2012, 22:47:
porra!!! demoro tanto a ler os comentários daqui do opiniões e quando leio dou de cara com uma postagem ridícula dessas... Para Wilson, você é inteligente demais para mandar isso prá gente...

Mensagem de Elaine Rowena, em 27 de março de 2012, 9:49
Opiniões.....o nome já diz tudo. Opinar é saudável, fala-se o que se pensa e se quer, ouve-se muitas vezes o que não se quer. Essa discussão, quando respeitosa e sem baixarias, é salutar.
Ninguém é obrigado a pensar como o outro. Ainda bem que existem as divergências, a unanimidade, como dizia Nelson Rodrigues, é burra e incapacita o refletir.

Pois bem, Chico Anísio está morto.E gostando de sua obra ou não, de seu modo de fazer rir, tem uma história e trajetória no humor brasileiro. Mesmo os seus desafetos terão que reconhecer com muxoxos sua privilegiada inteligência, sua capacidade e carisma.
O link abaixo sobre a opinião de um filósofo, um homem( entenderam? UM) está dentro daquilo que chamamos de livre arbítrio, e do direito ( pois não estamos nem na Idade média e muito menos nos anos de chumbo da ditadura) de se manifestar que qualquer ser humano possui. Aprovar ou não as palavras deste homem é outra coisa.

Não vou usar esse espaço para atirar pedras na opinião de outrem. Falo por mim. Cresci vendo Chico Anísio, conhecendo sua obra e, principalmente através de suas entrevistas, conhecendo o rico ser humano que o mesmo foi, admirando sua mente privilegiada.
O que moveu o filósofo a escrever já é outra coisa. Pode-se falar de inveja, mesquinharia, dor de cotovelo, ressentimento e outros sentimentos menores. Mas pode-se falar simplesmente de alguém que extravasou seus pensamentos, ainda que para alguns sejam duvidosos.

A mim não afetou. Minhas opiniões cênicas são claras sobre o homem e o profissional.E concordo quando o filósofo diz que ele não foi um humorista. Foi muito mais do que isso, transcendeu: escreveu bem, compôs bem, viveu bem e cumpriu sua missão aqui nessa terrinha recheada de ressentidos que ficam na janela vendo o barco alegre passar. Mas essa é a minha Opinião cênica, não a sua que me lê nem a do outro. Então, amigo, viva e deixe viver.
Um abraço

Mensagem de Fraga Ferri, em 27 de março de 2012, 18:55:
Tenho todas as críticas à Rede Globo - como braço ideológico da ditatura e massificadora da cultura brasileira - mas nunca deixei de reconhecer o talento e capacidade inventiva de Chico Anysio.

Sou um dos que ria muito com ele e não me acho uma hiena acéfala, como afirma catergoricamente o texto do pseudo filósofo Guiraldelli, que só é reconhecido como "filósofo" por aqueles que se contentam com um título de academia.

É um texto é fraco, pretensioso, inconsistente e oportunista, que se aproveita do momento para promover acesso ao seu blog. Infelizmente caimos na armadilha e fomos levados a sua toca pouco iluminada.

Mensagem de Luiz Tadeu Teixeira, em 28 de março, 10:43:
Wilson Coelho
vc nos manda mais um texto dentre tantos os que colecionamos em nossas caixas postais. Gosto de vários, de outros nem tanto, mas desse aqui... Putz, êta visãozinha estreita! Chico Anysio era humorista e comedioante. Trabalhava com texto e com caracterização. Não acertou sempre, mas tem um legado de acertos respeitável. Compará-lo a Rafinha e outras peças descartáveis da nossa atual falta de humor é no mínimo um disparate. E o tal Luiz Carlos, que só faltou dizer que a Globe "come criancinhas", como antigamente se dizia dos comunistas, apresenta-se com um curriculo invejável ("Economista, Linguista, Mestre em Cultura, Mestre em Tecnologia (todos pela USP) e Master em Gestão Econômica de Projetos pela GV"). E eu pergunto: pra quê?
Saudações
Luiz Tadeu Teixeira

Mensagem de Roberto Soares, 28 de março, 11:42
Wilson
Com a indicação desse texto entendo que você se 'redimiu' de suas outras indicações referentes a Chico Anysio.
Esse texto do Luiz Cesar ao menos não é pedante, cansativo e enjoativo como o de Ghirardeli. E, mais importante, convence -nos de que, de fato, é importante discutir o papel de Chico Anysio no recente panorama cultural-televiso do país.

Até então, os textos aqui apresentados e outros que li (mesmo esse texto elogioso de Gilson Caroni, colunista de 'esquerda' que sempre leio em Carta Maior) davam a impressão de apenas inventar um assunto, não convenciam de que Chico Anysio tinha realmente toda essa dimensão que os articulistas tentavam nos passar - pessoalmente, nunca vi Chico Anysio como um assunto 'sério', apenas mais um inócuo e engraçado produto da Rede Bobo, embora talentoso e inventivo no seu ofício (independente do que tenha feito política e moralmente desse talento).

Já o texto de Luiz Cesar, por tratar o asunto com competência, objetividade e coerência, me convenceu de que, para o bem ou para o mal, o assunto Chico Anysio deve ser, sim, refletido. Assim, divulguei o texto no meu blog, bem como um pouco dessa interessante polêmica aqui do Opiniões.

o assunto chico anysio - I

Fama feito de preconceito
por Luiz Cézar, transcrito de desacato.info

Leia comentários e esclarecimentos acima
Com a morte de Chico Anísio não morrerá a modalidade de humor por ele disseminada. Rafinha Bastos, Danilo Gentili e outros estarão aí para dar continuidade ao legado de deboches e de escárnio às diferenças que o humorista deixou estabelecido como padrão de riso na cultura televisiva brasileira.
Nunca será demais lembrar que Chico Anísio, um escroque a serviço das Organizações Globo fez fortuna marcando as diferenças sociais em seu País: de gênero, de raça, de nível econômico, de religião e de condições de saúde.
Quem não se lembra, tendo mais de 40 anos de idade, de suas imitações de gagos, fanhosos, velhos, mulheres, nordestinos, judeus, umbandistas e homossexuais?
Gerações acostumaram-se ao riso fácil das caricaturas que fazia dos mais fracos, reproduzindo depois essa modalidade de humor nas escolas e ambientes de trabalho, de modo a perpetuar a discriminação que pesava sobre os que se encontravam em oposição ao ideário de normalidade da classe média.

Chico Anísio não era um comediante como foi no seu tempo Oscarito, Zelloni, Golias e Zezé de Macedo. Foi um déspota do riso que apontava no meio da multidão o que era destinado à chacota e à humilhação.
Acomodou-se ao regime militar e a ele serviu comandando sessões apelativas de riso que desviavam a atenção dos rumores sobre as atrocidades cometidas pelos algozes, que seus patrões diariamente ocultavam.

Contribuiu para que se criasse em torno do último ditador do ciclo de governantes da ditadura militar, João Figueiredo, uma aura de simpatia e tolerância por meio de um quadro em que mantinha conversas intimistas com o governante.
Afeiçoado a bajulações dos poderosos, ainda depois da ditadura Anísio chegou ao cúmulo de dar sustentação ao confisco da poupança praticado pelos sócios de seus patrões, os Collor de Mello, vindo até a casar-se, em troca disso, com uma das primas e ministra da economia do ex-presidente Fernando Collor, Zélia Cardoso de Mello.
Viciado em cocaína, como ele mesmo declarou um dia às TVs, Chico Anísio nunca se recuperou da dispensa de seus serviços pela Rede Globo depois que a emissora – para a qual muito contribuiu com o elevado faturamento de seus programas – decidiu renovar sua imagem nos anos de 1990 apelando a uma nova abordagem de humor, representada por grupos humorísticos egressos do teatro.

Antes que iniciasse a lenta agonia em direção ao destino igualitário da morte, a Globo cedeu à mágoa do humorista e deu-lhe a chance de um breve retorno à cena representando a idosa que fazia ligações telefônicas para o ditador Figueiredo. Só que nesse ato de despedida, quem estava do outro lado da linha era a mulher e ex-prisioneira política Dilma, a quem o preconceito do humorista jamais perdoaria por haver derrotado o estigma machista e vergar, sem os favores da Globo, a faixa de presidente da República.
Um troco que, por felicidade, a vida dá aos homens sem caráter antes que caiam no esquecimento.

*Luiz César é Economista, Linguista, Mestre em Cultura, Mestre em Tecnologia (todos pela USP) e Master em Gestão Econômica de Projetos pela GV

21/03/2012

aos que vão nascer

aqui a primeira parte do tocante e vibrante poema de brecht. como se pode ver aqui, optei por inverter e publicar antes, em outubro de 2011, a segunda parte do poema. 

aos que vão nascer

I

É verdade, eu vivo em tempos negros.
Palavra inocente é tolice. Uma testa sem rugas
Indica insensibilidade. Aquele que ri
Apenas não recebeu ainda
A terrível notícia.

Que tempos são esses, em que
Falar de árvores é quase um crime
Pois implica silenciar sobre tantas barbaridades?
Aquele que atravessa a rua tranqüilo
Não está mais ao alcance de seus amigos
Necessitados?

Sim, ainda ganho meu sustento
Mas acreditem: é puro acaso. Nada do que faço
Me dá direito a comer a fartar.
Por acaso fui poupado.
(Se minha sorte acaba, estou perdido.)

As pessoas me dizem: Coma e beba! Alegre-se porque tem!
Mas como posso comer e beber, se
Tiro o que como ao que tem fome
E meu copo d’água falta ao que tem sede?

E no entanto eu como e bebo.
Eu bem gostaria de ser sábio.
Nos velhos livros se encontra o que é sabedoria:
Manter-se afastado da luta do mundo e a vida breve
Levar sem medo
E passar sem violência
Pagar o mal com o bem
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los
Isto é sábio.

Nada disso sei fazer:
É verdade, eu vivo em tempos negros.

bertold brecht: "an die nachgeborenen" -  "Aos que vão nascer"
tradução de paulo césar de souza





20/03/2012

o vale dos lamentos

Em "Vale dos Lamentos" o cineasta grego Theo Angelopoulos, ao contar a atribulada história amorosa dos jovens Alex e Eleni, tenta criar uma metáfora da também atribulada  história da Grécia nos começos do século XX.
Embora voltado para um panorama grego de um século atrás, o filme adquire um caráter atual e profético, afinal a história da Grécia está a se tornar novamente trágica, nos últimos 03 anos.

Alguns críticos consideram como tediosos e presunçosos os planos longos e demorados, utilizados constantemente por Angelopoulos em seus filmes. Isso fica a critério de cada um, mas eu gosto dos planos longos e demorados, quando feitos com serenidade, poesia e criatividade (como é o caso de 'Vale do Lamentos').
Eu os considero como superiores, como retratos do  mundo e da vida feitos numa outra dimensão, uma dimensão mais densa, menos distraída, uma dimensão que aproxima  mais o cinema da poesia, da literatura e  da filosofia.

Polêmicas e preferências à parte, o fato é que são belíssimas as cenas e imagens dessa poética e densa história da tragédia grega, que parece se repetir no tempo.

trecho transcrito de www.cineclick.com.br:
Um grupo de gregos expatriados foge do avanço do Exército Vermelho em Odessa, na Ucrânia, em 1919. Eles finalmente se estabelecem perto de Tessalônica, na Grécia. Na comunidade, há uma pequena órfã, Eleni, que é adotada pela família de outro menino, Alexis. Os dois crescem juntos e se apaixonam. A jovem dá à luz filhos gêmeos de Alexis, mas os bebês são dados para adoção. Quando Spyros, pai de Alexis, fica viúvo, Eleni aceita casar-se com ele. Antes mesmo do fim do banquete do casamento, Eleni e Alexis acabam fugindo, partindo o coração de Spyros. Alexis vive como músico itinerante e se envolve com militância política de esquerda, o que precipitará novos dramas na vida do casal. Primeira parte de uma trilogia em que o cineasta Theo Angelopoulos discute as raízes da Grécia no século XX.

Mais sobre a trilogia "Vale dos Lamentos" em: http://www.contracampo.com.br/75/trilogiavale.htm

19/03/2012

guimarães rosa: um estado de cavalos, num estalinho de estrelas

No épico e poético, mágico e transcendente "Grande Sertão: veredas", do mineiro João Guimarães Rosa, há a cena em que o protagonista Riobaldo se encontra pela primeira vez, frente a frente, com o lendário mundo dos jagunços do norte dos Gerais, mundo do qual ele até então somente conhecia de histórias e narrativas.
Pela admiração e pelo entusiasmo respeitosos, com os quais ele vive o momento, ele talvez já percebesse como aquele encontro e aquele mundo iriam guiar o seu destino, alimentar a sua existência. É como se ele já soubesse que, lá na frente,  haveria um novo encontro entre eles.

A sua  lembrança desse primeiro encontro é, então,  pautada pela alegria em relembrar e, ao mesmo tempo, por  uma certa mágoa, por já não poder sentir mais aquele mesmo entusiasmo revelador e ingênuo, depois de ter vivido toda uma atribulada exitência  no meio dos jagunços - inclusive tendo vindo a se tornar chefe de seu bando.
Uma jornada que ele nunca vivenciou completamente sereno, mas sempre atribulado por questões de ordem moral, existencial  e metafísica, principalmente na sua recorrente preocupação com a existência do demônio e do mal, no meio do mundo ou dentro das pessoas. E também sempre atribulado pelas dúvidas de seu amor singular, desamparado e proibido por Diadorim, que todos achavam que era um rapaz, e que somente ao final, depois de morta em combate,  fica-se sabendo que era uma jovem.

Ainda a registrar, nesse primeiro encontro, a celebração discreta mas amorosa que Riobaldo faz da presença dos cavalos, a carregar equipagens e cavaleiros. No "Grande Sertão..." há uma outra cena  com cavalos, cena forte mas triste, de cavalos em meio ao constantes tiroteios dos bandos.   Fica para uma outra ocasião. Por ora, um poema também sobre cavalos, publicado aqui. Abaixo, um pouco da magia e da epopéia genialmente forjada pelo escritor e aventureiro dos Gerais.

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"Em que, eles dois a cavalo, eu a pé, viemos até onde estavam esperando os outros, dois passos, no baixo da estrada.(...) "
"(...) De repente, de certa distância, enchia espaço aquela massa forte, antes de poder ver eu já pressentia. Um estado de cavalos. Os cavaleiros. Nenhum não tinha desapeado. E deviam de ser perto duns cem. Respirei: a gente sorvia o bafejo - o cheiro de crinas e rabos sacudidos, o pelo deles, de suor velho, semeado das poeiras do sertão. Adonde o movimento esbarrado que se sussurra duma tropa assim - feito de uma porção de barulhinhos pequenos, que nem o dum grande rio, do a-flôr. A bem dizer, aquela gente estava toda calada, Mas uma sela range de seu, tine um arreaz, estribo, e estribeira, ou coscós, quando o animal lambe o freio e mastiga. Couro raspa em couro, os cavalos dão de orelha ou batem com o pé. Daqui, dali, um sopro, um meio-arquêjo. E um cavaleiro ou outro tocava manso sua montada, avançando naquele bolo, mudando de lugar, bridava. Eu nãos entia os homens, sabia só dos cavalos. Mas os cavalos mantidos, montados. É diferente. Grandeúdo. E, aos poucos, divulgava os vultos muitos, feito árvores crescidas lado a lado. e os chapéus rebuçados, as pontas dos rifles subindo das costas. Porque eles não falavam - e restavam esperando assim - a gente tinha medo. Ali deviam de estar alguns dos homens mais terríveis sertanejos, em cima dos cavalos teúdos, parados contrapassantes. Soubesse sonhasse eu? (...)"

"(...) A gente se encostava no frio, escutava o orvalho, o mato cheio de cheiroso, estalinho de estrelas, o deduzir dos grilos e a cavalhada a peso. Dava o raiar, entreluz da aurora, quando o céu branquece. Ao o ar indo ficando cinzento, o formar daqueles cavaleiros, escorrido, se divisava. E o senhor me desculpe, de estar retrasando em tantas minudências. Mas até hoje eu represento em meus olhos aquela hora, tudo tão bom; e, o que é, é saudade."

Guimarães Rosa,"Grande sertão: veredas", Ed. Nova Fronteira, 2011, pag. 117-118.

18/03/2012

drummond e pellegrino: minérios e mineiros

este poema de Hélio Pellegrino, seja pela sua atmosfera mineral,  seja pela temática de Minas, me lembra um pouco o famoso poema de Drumond, confidências de um itabiranopode ser uma associação bastante pessoal, mas de qualquer forma  ambos vêm bem a propósito, como complemento  à denúncia divulgada aqui, das pretensões da corrosiva Vale (fraudulentamente privatizada) em promover explorações minerais nas cercanias da Serra da Piedade.

quadrilátero ferrífero

Em tuas colinas rasas
não há vinhedos nem olivais.
Há — púrpura difícil — a hematita
uva das Minas Gerais.

Uva sáfara, mineral
fermentando uma pinga de poeira
cujo álcool — lâmina de rocha e cal —
torna triste a embriaguez mineira.

Embriaguez vertical, contida
cujas cores explodem dentro
do peito: ocre violento, lacre
e prata, sol — e lua ferida.

hélio pellegrino - minas ( 1924-1988)
 mais sobre o autor em alguma poesia

15/03/2012

o céu das gruas

poema bem a propósito, nestes tempos cinzentos para os europeus, quando dirigentes, banqueiros e especuladores, com  a ajuda de uma mídia e de uma intelectualidade sabujas,  conseguem transformar a crise do capital em crise do trabalho, e então trabalhadores e pessoas  são descartados como peças inúteis.

o céu das gruas 
          
Lázaro Inocêncio do Nascimento
manobrador de gruas na auto-estrada
transmontana, sai do túnel do Marão
para a negra luz do desemprego
e das carências em família. Manobrou

com perícia a cegonha de ferro no céu
da montanha, dialogou com Deus
e com os pássaros sociáveis; olhou
para o fundo de si e concluiu que na terra
ou nas nuvens a vida é sempre abismo
onde a altura é uma questão menor. Hoje
desceu de vez as escalas íngremes
findou a concessão do troço e do capital
agora está entregue a si, que o mesmo é dizer
ao destino de ninguém. Lázaro
Nascimento diz que com esta descida
à terra morreu um pouco, e assim à terra
descerá definitivamente em tempo certo
sem estranheza de maior. Não carece
pois o Mestre de o ressuscitar por mais

que alastre o pranto das irmãs
e os direitos da quadra. Na ferrugem
definitiva dos materiais o sinal perene
de que não vale a pena o esforço
de retirar os panos uma e outra vez.
fernando de castro branco  - portugal

de hospedaria camões

14/03/2012

em viagem... e um pouco de 'dala'

Em viagem desde o dia 09, sexta. Em retiro, acolhido pelas montanhas das Minas Gerais. No caminho do campo. Desde então, somente postagens previamente programadas para publicação: poemas, literatura, vídeos (música, cinema). 
A partir do dia 23 é que estarei em condições de acompanhar e editar temas e fatos locais, nacionais e globais. Mas, já que no meio da montanhas de Minas, um techo de meu "Dala", ainda não publicado:

"(...)Saíam de casa geralmente às cinco da manhã, chegavam à Usina, local frio e enfumaçado, às oito horas e só retomavam a viagem à tardinha. Ele aguardava do lado de fora, no terreno junto à rodovia e nas barracas, dentro da Usina só podiam entrar motoristas e funcionários, adultos enfim.
Quase doze horas espreitando e espreitando-se, jogando-se no (e jogando com o) tempo inútil amontoado à sua volta, ele fazendo por ignorar a profusão de montanhas úmidas e verdes que envolviam-no, envolviam a Usina, com seus fornos e máquinas zunindo inacessíveis (para ele brilhantes e futuristas), com o sem número de caminhões e motoristas que iam e vinham; ele tentando fixar-se em máquinas, caminhões e pessoas de gestos apressados ou mecânicos ou indolentes, do que ter que

saber da solidão das montanhas
e compreender a prisão de Deus

compreender os espaços inabitados entre elas, montanhas e espaços inviolados sucedendo-se uns aos outros em olímpico mutismo, ele, ainda que não soubesse, achando-se extenuado por aquela mistura de humano e de divino que o agarrava de todos os lados. Impaciência, Impaciência.
E, vez por outra, também uma fome cômica, quando ele e seu pai ainda não sabiam de um restaurante nas proximidades da Usina, e ele tinha que se contentar com biscoitos, queijos e sanduíches surgidos melancólicos nas barracas.

De bom grado, então, ao entardecer ele se reacomodava na cabine, o desejo interrompido, mas conservado e talvez acrescido, de ganhar o asfalto como uma ave qualquer ganhava o espaço: percorrer, percorrer, em silêncio percorrer a terra estrada mundo, sabendo que o próximo ponto de descarga, e de espera, ainda estava longe, ainda estava depois da noite que se avizinhava. Na última encosta, de onde ainda se via a Usina, ele se voltava e ainda via a Usina. Apesar da demora, tristeza de despedida, mitigada pela quase certeza de que voltaria. Já escurecendo, ele se deitava no chão da cabine: um pouco de repousono.

Mas o desconforto e o cansaço ansiosos, que haviam se acumulado durante o tempo de espera fora da siderúrgica, voltavam, em menor grau é verdade, após as primeiras dezenas de quilômetros de subidas, descidas e curvas; ele sobressaltava-se, principalmente, com as curvas que pareciam puxar o caminhão agora pesado para fora da estrada, para os despenhadeiros que ladeavam a rodovia nas proximidades de Ouro Preto e Itabirito.

Tudo tornava-se, então, um misto de cansaço, medo e felicidade: a cadência gostosa e com um quê de poderosa do 1113 ocupando a estrada, o ronco acolhedor do motor que também aquecia o chão da cabine, a pergunta “pai, onde vamos jantar?”, formulada após algumas dúvidas sobre dormir ou não dormir, afinal dormir depois de um “vamo ver se a gente agüenta até o Água Limpa” (que ainda estava longe), adivinhando na noite as passagens velozes dos outros caminhões, ora vindo em sentido contrário, ora sendo arduamente ultrapassados pelo 1113, ora corajosamente ultrapassando o caminhão deles, roncando, bufando.

Sua consciência ingênua e sonhadora via algo como um gesto de solidariedade nesses encontros ruidosos sob o negrume frio, sua consciência frágil e perplexa via neles gestos de abandono e mútua indiferença; encontros e desencontros nebulosos, necessários."
(Roberto Soares, em "Dala", cap. 3) 

13/03/2012

o sal da língua

Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém – mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar.
Para que não se extingue o seu lume
o seu lume breve.
Palavras que muito amei
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

eugénio de andrade  - portugal    (1923- 2005)

de lusofonia poética

12/03/2012

volver a los 17

um pouco de memória, resgatando esse clássico  de nuestra américa, neste admirável encontro entre a doce guerreira argentina  mercedes sosa milton,  o menestrel maior das minas gerais.

um pouco mais desse encontro entre minas e a latinoamérica, extraído do wikipedia (destaques meus):
"Habitualmente de costas para a música de “nuestros hermanos” latino-americanos, o Brasil começou a despertar para a riqueza da voz de Mercedes Sosa em 1976, após um dueto da cantora argentina com Milton Nascimento. A faixa “Volver a los 17″, da compositora chilena Violeta Parra - de quem Mercedes foi uma das principais intérpretes -, virou um dos maiores destaques do hoje clássico álbum “Geraes”. A partir daí, a barreira da língua não mais impediu que brasileiros se apaixonassem pelo marcante timbre de contralto de Mercedes Sosa e por seu repertório, que incluía desde canções folclóricas a músicas de conteúdo político e social.
"
e pensar que o fantástico da rede bobo já ofereceu magias assim ao seu público, em pleno domingo à noite.
depois do vídeo,  a letra da música, em espanhol e português. lembrando que a autora da música é a chilena  violeta parra e não mercedes sosa.

Volver a los diecisiete después de vivir un siglo
Es como descifrar signos sin ser sabio competente,
Volver a ser de repente tan frágil como un segundo
Volver a sentir profundo como un niño frente a dios
Eso es lo que siento yo en este instante fecundo.

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

Mi paso retrocedido cuando el de usted es avance
El arca de las alianzas ha penetrado en mi nido
Con todo su colorido se ha paseado por mis venas
Y hasta la dura cadena con que nos ata el destino
Es como un diamante fino que alumbra mi alma serena.

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

Lo que puede el sentimiento no lo ha podido el saber
Ni el más claro proceder, ni el más ancho pensamiento
Todo lo cambia al momento cual mago condescendiente
Nos aleja dulcemente de rencores y violencias
Solo el amor con su ciencia nos vuelve tan inocentes.

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

El amor es torbellino de pureza original
Hasta el feroz animal susurra su dulce trino
Detiene a los peregrinos, libera a los prisioneros,
El amor con sus esmeros al viejo lo vuelve niño
Y al malo sólo el cariño lo vuelve puro y sincero.

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

De par en par la ventana se abrió como por encanto
Entró el amor con su manto como una tibia mañana
Al son de su bella diana hizo brotar el jazmín
Volando cual serafín al cielo le puso aretes
Mis años en diecisiete los convirtió el querubín.

(violeta parra - chile)

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Voltar aos dezessete depois de ter vivido um século
É como decifrar sinais sem ser sábio competente
Voltar a ser de repente tão fragil como um segundo
Voltar a um sentir profundoe como uma criança ante Deus
Isso é o que sinto eu neste instante fecundo

Vai se envolvendo, envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim.

Meu passo retrocede quando o teu avança
A arca das alianças penetrou em meu ninho
Com todo seu colorido tem passeado por minhas veias
E até a dura cadeia com que nos prende o destino
Como um diamante fino que ilumina minha alma serena

Vai se envolvendo, se envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim.

O que pode o sentimento, não tem conseguido o saber
Nem o mais claro proceder, nem o maior pensamento
Tudo o muda no momento qual mago condescendente
Nos afasta docemente de rancores e violências
Só o amor com sua ciência nos torna tão inocentes

Vai se envolvendo, envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim.

O amor é um torvelinho de pureza original
Até o mais feroz aminal sussura seu doce trinar
Detém os pergerinos, liberta os prisioneiros
O amor com seus esforços ao velho torna criança
E ao mau só o carinho lhe faz puro e sincero

De par en par la ventana se abrió como por encanto
Entró el amor con su manto como una tibia mañana
Al son de su bella diana hizo brotar el jazmín
Volando cual serafín al cielo le puso aretes
Mis años en diecisiete los convirtió el querubín.

Vai se envolvendo, envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim.

De par em par a janela se abriu como por encanto
Entrou o amor com seu manto como uma frágil manhã
Ao som de sua bela alvorada fez brotar o jasmim
Voando que nem serafim ao céu lhe pôs brincos
Meus anos em  dezessete os converteu o querubim

tradução: roberto soares

10/03/2012

as palavras dormem

Amiúde no vale dos afetos ninguém está seguro: míngua a lembrança, esquece-se o rosto, retorna-se ao eu, os lábios secam, as palavras dormem, os sonhos dispersam-se, a presença ausenta-se, há o lago de que não se vê o fundo. E apenas as pequenas ilusões - um café, o cigarro, a limonada - imitam dois corações unidos...
raul de carvalho - portugal




do blog  abro páginas

08/03/2012

jardim tropical: passeata contra a 'celebração' da morte e da barbárie

No sábado próximo acontece uma passeata de protesto em Jardim Tropical, bairro de Serra, ES. O motivo é a polêmica morte do adolescente Andrew Henrique Barroso Santos, ocorrida em 27 de fevereiro. Policiais afirmam que o garoto foi morto em razão de estar armado e enfrentando os agentes. Já moradores, testemunhas e parentes afirmam que Andrew foi simples e friamente executado pelos policiais (detalhes aqui).  
O caso está sendo investigado, mas entidades e movimentos sociais não têm nenhuma dúvida de que foi mais um dos brutais excessos de uma polícia cada vez mais despreparada, autoritária e brutal, e isso não penas em termos do Espírito Santo, mas em nível nacional.

Aliás, um pouco desse despreparo e dessa arrogância podem ser conferidos na página Facebook da ROTAM, na qual militares, familiares destes e simpatizantes dessa espécie de 'limpeza' social manifestavam seu apoio e sua aprovação aos policiais, alguns até mesmo celebravam o ocorrido, inclusive com xingamentos e ofensas ao jovem falecido e aos ''bandidos" em geral - pelo que pesquisei, tiraram do facebook a página  ofensiva, parece que até o Ministério Público estadual está investigando; de qualquer forma é possível conferir algo das mórbidas e doentias 'celebrações' em  gazeta online.
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Na realidade, esse tipo de manifestação, como no facebook da ROTAM, pode até assustar e preocupar, mas não deve surpreender, em tempos de perda de valores e de fragmentação da vida social. Afinal, se estão confusas, assustadas ou amedrontadas, a maioria das pessoas tende a propor ou exigir soluções simplistas - mesmo que brutais e desumanas - para supostamente dar fim às contradições e conflitos sociais, brotados do atual modo de organização econômica.

E, obviamente, que para as forças que sustentam essa organização (e se beneficiam dela) é extremamente interessante que as camadas populares e médias se digladiem, se hostilizem. Isso ajuda a desviar a atenção das verdadeiras causas das contradições, opressões, violências, além de tornar os cidadãos cada vez mais apáticos com relação a outras demandas sociais tais como saúde, educação e transporte dignos.
Afinal, o que interessa em primeiro lugar é se salvar da insegurança geral, mesmo que para isso as assustadas populações tenham que apoiar brutalidades e execuções.

Ora, se isso é previsível em se tratando das pessoas em geral, o que esperar daqueles que estão diretamente envolvidos na tarefa da reprimeir resistências e descontentamentos com as scontradições do sistema? O que esperar de policiais e de seus familiares e amigos?  
A reação exibida nas páginas da ROTAM apenas escancara, mais uma vez, como as próprias forças da repressão são envolvidas no clima de insegurança geral e de barbárie, ignorada ou até emsmo estimulada pelos beneficiários do sistema - cai o mito da neutralidade das forças da 'segurança pública'.

Ainda quanto aos acontecimentos em Jardim tropical, leia  a  Nota Pública da CJP .

Sobre a passeata de sábado em Jardim Tropical, acompanhe em: http://www.facebook.com/events/186415168134964

nota da cjp: violência policial naS periferias

NOTA PÚBLICA CJP

A MORTE RONDA OS BAIRROS POPULARES

A Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória, ciente dos valores que inspiram a sua presença no seio da Igreja e da sociedade capixaba, vem a público manifestar o seu pesar pela morte do jovem Andrew Henrique Barroso Santos, e lastimar o infortúnio dos moradores feridos à bala em decorrência da ação da Polícia Militar, no último dia 27, no bairro Jardim Tropical, município da Serra.

Em sua missão institucional de defesa da vida, da dignidade humana, da Justiça e Paz, a CJP condena a situação de violência permanente das ações policiais em nosso estado, e energicamente se opõe a práticas que promovem a resolução de conflitos pelas próprias mãos, utilizando meios sumários, sem o amparo legal e à revelia da Justiça.

A CJP se solidariza com as famílias e a comunidade de Jardim Tropical, e conclama a sociedade capixaba a avançar na conscientização e a desencadear ações que possam mudar a realidade de morte, somando os seus esforços aos da Campanha Contra a Violência e o Extermínio da Juventude em nosso estado.

07/03/2012

manifesto: contra o 'socialismo' para poucos

O Manifesto abaixo chegou através de um leitor de Minas. Parece que está circulando na internet há certo tempo.
Não traz indicação de quais pessoas  ou entidades estão articulando essa mobilização e, o que é mais importante, muito menos explica ou propõe como se dará a continuidade dessa suposta mobilização.
Além disso, é um tanto ou quanto tosco, para um documento que se pretende apresentar como Emenda constitucional, Iniciativa de Lei Popular, ou algo assim.

Mas, com relação ao mérito, é extremamente interessante. É algo pelo qual as entidades, movimentos sociais, sindicatos, as redes sociais (e até mesmo alguns partidos de fato comprometidos comuma demcoracia real - não custa acreditar que eles ainda existem) já deveriam estar se mobilizando há muito tempo. 

Afinal, já deveria estar morta e enterrada essa aceitação do político e da política como profissão e, pior, como profissão eivada de vergonhosos privilégios, regalias, obscuridades. Essa cretinice já deveria ter acabado, o país é a 6ª economia do mundo, é governado por um partido de centro esquerda, estamos no terceiro milênio e ainda temos que engulir esse espetáculo deprimente, ofensivo, que são os políticos colocando-se acima da cidadania, acima do homem comum.

Não se trata apenas de fazer o enfrentamento contra os  políticos corruptos, incompetentes, manipulado  e manipuladores, corporativistas etc etc etc (claro, até onde é possível fazer, com realismo, esse enfrentamento nos limites da democracia formal capitalista). Trata-se de avançar para além dessa luta por partidos e políticos minimamente comprometidos com a  coisa a pública (claro, até onde se pode ter esse compromisso dentro da limitada democracia formal capitalista).

Trata-se, na verdade, de desmistificar de vez essa postura que vem lá dos tempos do Brasil colônia, que é a de ver e aceitar os  políticos, os governantes, os militares, os governantes, as polícias de todo tipo, juízes e desembargadores (mais do que todos) e uma grande parcela dos funcionários públicos como castas à parte, como cidadãos superiores aos demais, pelo simples fato de estarem a servir ao poder público, pelo simples fato de se se considerarem 'autoridades', com variavéis grau de arrogância, presunção, autoritarismo e, para usar a expressão da Dilma, com variavéis graus de 'malfeitos'.

Desse ponto de vista, a mobilização sugerida por esse Manifesto pode ir além da questão dos privilégios dos políticos, pode ser um começo dessa desmistificação das 'autoridades' deste país, e também  o começo de uma definição mais clara da postura e sdas obrigações dos servidores da coisa pública.

Afinal, se querem granjear de fato a cosnideração dos cidadãos e contribuintes, que o façam através de seu desempenho e de seu respeito à coisa pública e às pessoas.
E não através de suas patéticas, presunçosas e revoltantes posturas de arrogância e de negligência, como se vivessem num mundo à parte, como se existisse um país socialista direcionado somente para eles. Total segurança, nenhum risco de perda de emprego ou de catgos, nenhum controle popular, toda proteção das leis em termos de salários, benefícios, asssitência  e previdência. Um verdadeiro socialismo para poucos. 
Segue abaixo  o Manifesto. Quem achar pertinente, atenda às solicitações de enviar para vinte ou mais de seus contatos

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MANIFESTO

Peço a cada destinatário para encaminhar este e-mail a um mínimo de vinte pessoas em sua lista de endereços, por sua vez, pedir a cada um daqueles a fazer o mesmo. Em três dias, a maioria das pessoas no Brasil terá esta mensagem. Esta é uma idéia que realmente deve ser considerada e repassada para o Povo.

Lei de Reforma do Congresso de 2012 (emenda da Constituição do Brasil)

1. O congressista receberá salario somente durante o mandato. E não terá direito a aposentadoria diferenciada em decorrência do mandato.

2. O Congresso contribui para o INSS. Todo o fundo (passado, presente e futuro) atual no fundo de aposentadoria do Congresso passará para o regime do INSS imediatamente. O Congressista participa dos benefícios dentro do regime do INSS exatamente como todos outros brasileiros. O fundo de aposentadoria não pode ser usado para qualquer outra finalidade.

3. Congressista deve pagar para seu plano de aposentadoria, assim como todos os brasileiros.

4. Congresso deixa de votar seu próprio aumento de salário, que será objeto de plebiscito.

5. Congressista perde seu seguro atual de saúde e participa do mesmo sistema de saúde como o povo brasileiro.

6. Congressista está sujeito às mesmas leis que o povo brasileiro.

7. Servir no Congresso é uma honra, não uma carreira. Parlamentares devem servir os seus termos (não mais de 2), depois ir para casa e procurar emprego. Ex-congressista não pode ser um lobista.

8. Todos os votos serão obrigatoriamente abertos, permitindo que os eleitores fiscalizem o real desempenho dos congressistas.

Se cada pessoa repassar esta mensagem para um mínimo de vinte pessoas, em três dias a maioria das pessoas no Brasil receberá esta mensagem.
A hora para esta emenda na Constituição é AGORA.


É ASSIM QUE VOCÊ PODE CONSERTAR O CONGRESSO. Se você concorda com o
exposto, REPASSE. Você é um dos meus + 20. Por favor, mantenha esta mensagem CIRCULANDO.

05/03/2012

femen: força e feminilidade de verdade

já são bastante conhecidas as performances descontraídas, mas incisivas, das mulheres do grupo ativista femen, da ucrânia. desta feita, o protesto foi contra o fútil e opressivo mundo da moda, e aconteceu num das cidades que é um símbolo desse universo - milão, na itália   
muito interessante o contraponto: o depojamento (literal) das ousadas e corajosas garotas,
confrontando todo o aparato que veste e submete as modelos, sejam famosas ou anônimas.
as garotas do femen acertaram em cheio ao ligar o mundo da moda ao fascismo. o fascimo tipicamente capitalista: uma indústria e um comportamento que impõem a mulheres e homens necessidades, carências e posturas, sem as quais todos viveriam muito bem. tudo se torna mercadoria, até a feminilidade das mulheres é usada para vender essas falsas carências.
com certeza que uma ou outro modelo, vendo essas imagens, pode até ficar deprimida, se conseguir captar a imensa diferença de seu projeto de vida e de seu sentido existencial, em relação a essa tarefa corajosa e libertária  assumida pelas militantes.

a diferença de projetos e de sentido:  as modelos fabricadas pela fascista indústria da moda inventam glamourosos personagens para a platéia e para si próprias, talvez acreditando realmente na profundiade desses patéticos  papéis, com aqueles olhares distantes e perdidos no horizonte a nos sugerir mulheres intangíveis, misteriosas, profundas   (que na verdade quase nos enganam).
ao passo que as mulheres do femen simplesmente se expõem numa nudez não apenas física, sensual ou erótica. mas com uma fragilidade e uma vulnerabilidade que comovem, e que realizam uma dupla contestação: além de protestar contra o tema do momento, a sua própria forma de protesto é também uma contestação à repressão que existe em torno da questão do corpo, da sexualidade e da fruição erótica por aprte de homens e mulheres.

o despojamento do femen  faz cair por terra todo esse aparato da moda do mundo 'fashion', que alimenta essa repressão  e essa manipulação de corpos e desejos - e também se alimenta delas.
mas, ccomo não poderia deixar de ser, uma rsessalva: por que o grupo femen recruta somente mulheres belas, envolventes atraentes, que mais parecem modelos, as mesmas modelos criticadas por elas no desfile de milão e aqui nesta postagem? porque não recrutam também mulheres com aparência menos vistosa e deslumbrante (vistosas e deslumbrantes do ponto de vista de nossa cultura ocidental, claro) mulheres comuns, que formam de fato a maioria da humanidade?

Tornando-se seletivas em relação à aparência estão jogando o jogo do sistema, o jogo do marketing, ou seja, estão aassumindo que para seus protestos terem de fato sucesso, audiência ou eficiência, é preciso que tenham  que oferecer sempre atratividade  física, ou seja, nesse aspecto utilizam a mesma tática da fascista indústria da moda. ou será que na ucrânia só tem mulheres assim, com esse biotipo? então recrutem em outros países, afinal, um pouco de diversidade só faria o femen ganhar.

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por uma dessas gratas coincidências da vida, no mesmo dia em que terminei de redigir essa postagem, tomei conhecimento das deliciosas fotos abaixo, também do grupo Femen. 
Trata-se de uma coletiva para a imprensa, realizada em Viena, Áustria, com   presença das militantes Alexandra e Inna Shevchenko.Durante a coletiva as militantes mostraram como se preparam  para os seus protestos. Registre-se a candura e a naturalidade com que as ucranianas encaram a sua tarefa.

Mais uma vez: como é diferente e mais envolvente essa simplicidade e esse depojamento das militantes do Femen, em relação ao aparato midiático e à produção estética e comportamental, montados em volta dos desfiles das modelos e celebridades.

Mais uma vez: as modelos e celebridades deveriam ficar um pouco deprimidas se conseguirem entender a distância que as separam das garotas do Femen.  




todas as imagens desta postagem extraídas de folha online

03/03/2012

pedro bial no paredão 2

Este cordel já rola na internet há uns três anos, salvo engano. Já deve ser sobejamente conhecido, mas de qualquer forma vai como mais uma 'homenagem' ao sorridente apresentador do BBB.
E, para quem ainda não leu, veja pedro bial no paredão 1.
Veja também cerco à rede globo.

Cordel do BBB
por Antonio Barreto, cordelista de Santa Bárbara-BA

Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.


Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.


Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.


Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.


Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.


O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.


Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.


Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.


Respeite, Pedro Bial,
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dá muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.


Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.


Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.


A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.


Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.


Isso é um desserviço
Mal exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.


É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.


Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.


A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.


E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.


E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.


E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.


Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.


Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?


http://barretocordel.wordpress.com/

01/03/2012

serra da piedade: o impiedoso e estúpido capital

Apesar da seriedade do tema, não dá para resistir ao trocadilho:  a impiedosa Vale agora dirige suas implacáveis baterias contra a Serra da Piedade, que tanto significa para os mineiros.

Mais uma vez a história se repete: em nome do crescimento, da distribuição de renda, da gloriosa marcha do homem sobre a terra etc etc, dentro de alguns anos talvez a gloriosa, eficiente e impiedosa (e fraudulentamente privatizada) Vale brinde as Minas Gerais com mais algumas das mesmas crateras e dejetos que deixa em Itabira, dessa vez na Serra da Piedade.

Não bastasse Minas ser a terra que alimenta de ferro as usinas de aço do país e do mundo inteiro, agora até os seus santuários culturais e naturais estão ameaçados. E o patético de tudo isso é que, além de o governo brasileiro permitir que o minério de Minas vá embora à custa da degradação ambiental e social, quase nada desse lucro fica no país, pois todos sabem que o grosso do lucro da Vale vai para seus dirigentes e acionistas estrangeiros.

Este é mais um exemplo gritante de que é urgente a luta para extirpar do planeta a doença deste capitalismo tardio e insano, e em seu lugar irradiar a saúde sobra terra inteira, tal como prega o lema da Campanha da Fraternidade deste ano (leia aqui), para que parem debrotar, na face da terra e na jornada da humanidade, tantas crateras e dejetos.
A denúncia abaixo vem sendo divulgada pelo SOS PIEDADE .

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VALE S/A, PIOR CORPORAÇÃO DO MUNDO, QUER MINERAR
ATÉ A SERRA DA PIEDADE
 
A Serra da Piedade se destaca na paisagem, na formação e na história de Minas Gerais. Ao longo de quase trezentos anos, centenas de milhares de visitantes, desde humildes romeiros e ilustres viajantes como Saint-Hilaire, Spix, Martius e outros subiram ao seu cume, louvaram Nossa Senhora da Piedade, Padroeira de Minas Gerais, exercitaram a fé e encantaram-se com suas belezas e o horizonte que dela se avista, repleto de outras serras. Nos séculos XX e início do XXI, seus notáveis atributos culturais, históricos, culturais e religiosos justificaram a implementação de medidas de proteção e tombamento, nas esferas federal, municipal e estadual. O Conjunto Paisagístico da Serra da Piedade é Monumento Natural de Minas Gerais desde a Constituição de 1989 e patrimônio do Brasil desde 1956 – resultado dos esforços de Frei Rosário Joffily, antigo reitor do Santuário.
 A implantação do projeto Caminho Religioso da Estrada Real: de Padroeira a Padroeira,que consiste num roteiro integrado de turismo religioso, envolvendo 86 municípios, entre os santuários das padroeiras de Minas Gerais e do Brasil – Nossa Senhora Aparecida, já está em curso e trará maior visibilidade ainda à relevância do lugar sagrado que é a Serra da Piedade.

Recentemente tomamos conhecimento que a Vale S.A. entrou, em junho de 2011, com mandado de segurança preventivo com pedido de liminar, junto à Justiça Federal em Brasília, para que o IPHAN retrocedesse na ampliação do tombamento federal, pois seus interesses minerários estavam sendo prejudicados com essa proteção à Serra da Piedade. No entanto, a única mina da Vale nessa região , a Córrego do Meio, já se encontra desativada há mais de seis anos, o que não justificaria tal pedido. Esta ação da Vale S.A. é uma grave ofensa a Minas Gerais e a todos aqueles que acreditam que o nosso patrimônio deve ser resguardado de outros interesses que não os do povo brasileiro.
 
A manutenção integral de bens como a Serra da Piedade, depositários da identidade de sua gente, não deve ser ameaçada por ninguém, muito menos por uma empresa que não possui legitimidade para tal, mesmo que se firme em artifícios pretensamente legais, mas não morais e éticos. É inacreditável que até a Serra da Piedade esteja na mira da agressividade da Vale S.A. em ocupar espaços e territórios.
 
A empresa mostra na mídia uma imagem de “responsabilidade social corporativa”, em propagandas bem elaboradas, e atua de forma marginal para poder fazer valer os seus interesses. Se esta empresa não respeita nem a Serra da Piedade, o que fará com as Serras da Calçada, Moeda, Rola-Moça e Serrinha, com Congonhas, Mariana, Patrocínio e com o norte de Minas? Neste momento, sua ganância desmedida pela Serra do Gandarela, última grande área preservada da região metropolitana de Belo Horizonte e do quadrilátero ferrífero, depositária de riquíssima biodiversidade, paisagens e águas, leva a Vale S.A. a fazer tudo para que o Parque Nacional da Serra do Gandarela, proposto pelo ICMBio em outubro de 2010, não seja criado ou que seja totalmente mutilado na sua proposta original.
 
Esta é a verdadeira face da Vale S.A., herdeira de uma privatização contestada. Em sua busca de lucros crescentes a empresa impacta significativamente o meio ambiente, avança sobre territórios com condições socioambientais vulneráveis, desconsidera as reivindicações e acordos firmados com comunidades afetadas, nega direitos de pessoas que trabalham para ela e desrespeita a legislação, segundo a Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale. Por isso foi eleita, em janeiro deste ano, a “pior corporação do mundo” (Prêmio Public Eye Awards), através de votação mundial pela internet.
 
Tentar retroceder conquistas legítimas da coletividade, como o tombamento histórico e paisagístico da Serra da Piedade, é exemplo claro de que a Vale, nascida em Minas Gerais, com todo o seu discurso de emprea "verde-amarela", não respeita um dos mais importantes referenciais paisagísticos e culturaos de nosso Estado e, assim, seu lema institucional regional "Se é importante para Minas, é importante para a Vale" reflete uma mentira!

Minas Gerais, 7 de fevereiro de 2012
SOS SERRA DA PIEDADE

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Quer saber mais?
1. A Vale S/A não respeita a Serra da Piedade http://www.sendspace.com/file/7scvy2
2. Serra da Piedade: Berço da Padroeira de Minas Gerais, Brasil. Beleza, religiosidade, proteção e ameaças : http://www.sendspace.com/file/8tbdkv

vídeo: quem são os piratas da somália?

Chega a ser chocante conhecer o que acontece de fato na Somália.
Mas, ao fim, é apenas mais uma demonstração inequívoca de onde vem realmente o roubo de vidas e destinos, a pirataria das dádivas da natureza e, principalmente, é uma demonstração clara de onde vem a doença que vai minando aos poucos a humanidade e o próprio planeta (veja aqui o texto sobre a CF e a saúde)

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vídeo: piratas , o outro lado da história

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Claro que, em se tratando de  questões políticas e sociais, o serviçal da ordem Arnaldo Jabor não pode e não deve ser fonte legítima de informação e de reflexão para ninguém. mas como nesse específico da Somália, ele não diz presunçosas inverdades e distorções, Desvelar abre uma exceção e publica essa sua fala, como forma de complementar a  credibilidade do vídeo sobre a Somalia. afinal, se até o presunçoso, 'elitizado' e raivoso (contra tudo o que é luta popular) Jabor se comove, é porque o caso é realmente dramático. assim, quem ainda tiver estômago que escute o sujeito aí embaixo:

cf 2012: extirpar a doença do planeta

No dia 22 de fevereiro,  os católicos adentraram no seu tempo sagrado por excelência, o tempo da Quaresma. É tempo de renascimento, ou preparação para o renascimento que se dará durante a Pàscoa. É também tempo do recolhimento e de experimentar a transcendência, tendo como inspiração os dias que o Cristo vagou no deserto antes de sumir de fato a sua tarefa no mundo, na história e, para os católicos, uma tarefa essencial para o próprio Cosmos, ou para o próprio Espírito deste Cosmos. 
(veja também Poemas para Deus)

a Campanha da Fraternidade 2012, em frente à Escadaria Messina,
próxima ao Parque Moscoso 

Mas, para grande parte dos católicos (felizmente) a Quaresma não é somente tempo de recolhimento e de transcendência. É também tempo de engajamento e  de imanência, tempo de caminhar e agir no mundo, tempo de reafirmar o compromisso de se construir o Reino neste mundo terreno e não em algum vago, intangível e misterioso lugar do Cosmos.

Esse compromisso se dá todo ano, no primeiro domingo após o Carnaval, ou no primeiro domingo da Quaresma, com a abertura da Campanha da Fraternidade. Este ano a CF teve como tema Fraternidade e Saúde Pública, refletindo a luta dos católicos progressistas por uma saúde pública e digna para todos. (mais informações sobre as propostas da CF 2012 e sobre  os desafios e avanços da saúde pública no Brasil, veja na página da cnbb)

a grande cruz de pano, ladeada pelas menores que representam as vítimas do descaso com a saúde do povo por parte dos governantes cretinos - cada mulher segura uma placa como o nome de uma dessas vítimas 
nas proximidades do Viaduto Caramuru, mais uma parada da Via Sacra,
que este ano retratou a crucificação do Cristo como sendo a crucificação e o
 martírio dos adoentados que padecem humilhações, descasos e abandonos

ainda nas proximidades do Caranmuru. ainda sob um forte calor, o mar de gente insiste em participar da via sacra de um povo que, embora sofrendo as agruras de uma saúde pública
precária e humilhante,  se nega a se entregar à doença da descrença e da apatia,
do consumismo e da competição


aliás, o lema da CF deste ano, "Que a saúde se difunda pela terra inteira (Eclo 38,8)", leva inevitavelmente a uma simbologia maior, remete a um compromisso global. Afinal, é a saúde da humanidade e do próprio planeta que está em jogo, com a consolidadação da bárbarie e da irracionalidade provocadas pelo capitalsimo atual. um capitalismo que já cumpriu o seu papel histórico na jornada da humanidade, mas que hoje é apenas uma manifestação doentia, obsoleta, irracional e, no entanto, cada vez mais perigosa, armada e brutal.

Assim, difundir a saúde na terra inteira significa, antes de qualquer outra coisa, acabar com a doença do capitalismo que aí está,  curar a humanidade de sua dependência e  de sua opressão, de sua sonolência e de sua anestesia, provocadas exatamente  por esse mesmo capitalismo doentio, tardio, intoleravelmente desumanizador.

a caminhada chega á praça da Catedral, com o prédio do Fórum Criminal á esquerda. bem simbólico: para se conquistar a saúde para as  pessoas e para o planeta, é preciso antes construir uma justiça popular, descontruindo esse aparato judicial que, ao mesmo tempo em que se alimenta da ordem injusta e doentia, é também um de seus seus mais arrogantes e dissimulados sustentáculos