08/11/2011

poesia e finitude (20)

órgãos vitais

podes despir
esse vestido de serapilheira
mostrar os restos podres da vindima
e dizer-me: «vês, morri».

Também eu fui
adormecendo, também eu tentei
reconstruir os órgãos vitais
desenhar um a um os contornos do corpo
embora me faltassem as ferramentas
para materializar o complexo circuito
da memória.

agora, olhas-me
com os mesmos gestos estáticos
enquanto o coração palpita noutro lugar
e a boca vai soltando larvas e morcegos.

podes dizer-me que morreste.
os mortos entendem-se bem.

paulo tavares - portugal

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