01/11/2011

moção de repúdio - capixaba precisa imitar carioca?


A bela  imagem abaixo é chamada de Pedra dos Olhos, uma original paisagem que fica bem no meio da cidade de Vitória, capital do Espírito Santo. Os vereadores da cidade houveram por bem autorizar os estudos para a construção de uma réplica do Cristo Redentor em frente à Pedra do Olhos.

Nada contra render homenagem ao monumento do Rio de  Janeiro. Mas daí a  construir uma cópia na própria capital do estado, já é uma declaração de falta de criatividade, de identidade própria e de respeito para com a própria riqueza paisagística - e até mesmo falta de respeito para  com os turistas, como se eles não fossem capazes de admirar e se identificar com outras paisagens e monumentos, desconhecidos ou diferentes de outros já famosos.

A moção de repúdio do Conselho Estadual de Cultura, abaixo divulgada, aponta muito bem essa falta de visão, de respeito e de identidade dos vereadores de Vitória.

Afinal, já basta que os capixabas vivam por procuração, no que diz respeito às emoções do futebol. É uma verdadeira idolatria aos times do Rio de Janeiro, ao passo que torcedores, dirigentes e empresários não conseguem sequer firmar um time capixaba na QUARTA DIVISÃO do futebol brasileiro. Enquanto isso, Santa Catarina, estado tão pequeno quanto o Espírito Santo, tem QUATRO times disputando, há muitos anos, ora a primeira ora a segunda divisão do campeonato brasileiro.

Nisso de futebol e de aproveitamento de suas paisagens naturais, os capixabas deveriam fazer tal como fizeram com o samba e com o carnaval: percebe-se uma nítida influência do Rio de Janeiro nos seus sambistas, nos seus desfiles e nas suas escolas, mas com uma marca própria, uma riqueza recriada, uma emoção e uma celebração autênticas; de um lado, feita e, de outro, vivida pelas pessoas da terra - como bem atestam os desfiles anuais no Sambão do Povo - ou seja, não se trata de um vivência e de uma celebração abstratas, por procuração, tal como ocorre nas televisivas e passivas contemplações do futebol de todo domingo (e na abstrata emoção das discussões futebolísiticas de todos os dias).  

Os membros mais atuantes do Conselho de Cultura,  junto com artistas, intelectuais e militantes políticos e sociais deveriam ir além da Moção de Repúdio e fazer um verdadeiro movimento de enfrentamento a essa estapafúrdia iniciativa de, mais uma vez, fazer o capixaba se emocinar por procuração, ao invés de ajudar a forjar uma identidade ainda em construção. 



MOÇÃO DE REPÚDIO AO PROJETO APROVADO NA CÂMARA DE VEREADORES DE VITÓRIA PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA RÉPLICA DO CRISTO REDENTOR NA PEDRA DOS DOIS OLHOS
(trechos)
Conforme noticiado no jornal Gazeta Online do dia 5 de Setembro de 2011 a Câmara de Vereadores de Vitória aprovou por unanimidade o projeto de lei de autoria do vereador Luis Carlos Coutinho (PDT) que autoriza o início de estudos para a construção de uma réplica do Cristo Redentor na Pedra dos Dois Olhos, localizada no bairro Fradinhos, na Capital.

A Câmara de Patrimônio Natural, Ecológico e Paisagístico do Conselho Estadual de Cultura considera absurda a aprovação de tal proposta que – diga-se de passagem – foi vetada na Prefeitura Municipal de Vitória – e que, além de causar impacto no monumento natural, fere a identidade capixaba, ao replicar um símbolo mundialmente conhecido do Rio de Janeiro em um patrimônio da cidade de Vitória.

A instalação de uma réplica do Cristo Redentor irá sobrepor o monumento que já é, por natureza, um símbolo da cultura capixaba. O projeto deixa clara a baixa autoestima do capixaba com relação à sua identidade cultural, tendo em vista que busca referências de outras localidades sempre que se pretende realizar ações com o objetivo de projetar a cidade e o Estado nacionalmente.

Em condições que não afetem o patrimônio natural, porque não destacar personagens como Maria Ortiz, o índio capixaba, catraieiros ou tantos outros símbolos da cultura local? Logo que assumiu o Ministério da Cultura, Gilberto Gil foi uma figura de renovação no debate sobre a diversidade cultural brasileira, na publicação – que leva o nome do tema – ele cita:
“O conceito de diversidade cultural nos permite perceber que as identidades culturais nacionais não são um conjunto monolítico e único. Ao contrário, podemos e devemos reconhecer e valorizar as nossas diferenças culturais, como fator para coexistência harmoniosa das várias formas possíveis de brasilidade”.

É ainda mais apelativa e incabível a justificativa da proposta no fomento do turismo, demonstrando que os nossos vereadores não buscaram embasar a proposição e não consultaram amplamente os colegiados do segmento, como o próprio Conselho Estadual de Cultura. Não é necessária tamanha agressão – visual, de identidade e de impacto direto – para se fomentar o turismo em nossas Unidades de Conservação.
O que os senhores vereadores precisam realmente se debruçar e debater é o investimento em infraestrutura e preparação das comunidades locais para atuar nestas áreas preservadas, abrindo para turistas e visitantes áreas ecológicas tão relevantes como o Parque Estadual da Fonte Grande.

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