28/05/2011

os primeiros brados no coração do império

"esta é a última vez que nos comportamos bem; na próxima tomaremos a cidade" - frase de um manifestante durante a Marcha contra Wall Street, realizada em Nova Iorque. Leia mais aqui e aqui


vídeo: the cure

neste maio da suposta morte de Bin Laden, além do  poema luto, lustro e do parar os atentados contra o ser, desvelar publica este vídeo com a música do the cure, inspirada na famosa história do escritor franco-argelino albert camus.

afinal, e sem querer de forma alguma fazer humor mórbido e simplista, 'matando um árabe' é uma homenagem apropriada  para o líder guerrilheiro e, mais ainda, para o ganhador do prêmio nobel da paz de 2009, o senhor barack obama, o mesmo que manda invadir países para matar líderes guerrilheiros e que duplicou o número de soldados no afeganistão assim que tomou posse - a propósito vale  a pena ver o documentário restrepo, que passou  aqui por vitória há uns dois meses,  e analisar se de fato essa foi an melhor atitude do governo americano para responder aos esquisitos atentados de 11 de setembro.

Ainda sobre 11 de setembro e sobre esquisitices, foi surpreendemente lamentável e deprimente ver todas aquelas pessoas saindo para as ruas e 'comemorando' a morte de um homem. como se todos os dramas dos americanos fossem se resolver com a morte de bin laden. como se toda a mágoa planetária que existe contra o poder americano brotasse de um so homem ou de um só movimento de 'fanáticos'.

triste e patético fim de império comemorar assim algo que não irá mudar em nada o destino dos eua (veja textos abaixo sobre a rebelião no ocidente). se bem que é preciso dar desconto: é preciso duvidar seriamente dos tais 'milhares' de pessoas que foram às ruas para 'comemorar', afinal a mídia-empresa mostra e 'fabrica' aquilo que ela quer.

o 'matando um árabe' do the cure e de camus também deve ser lembrando no caso do espantoso massacre provocado por wellington menezes em realengo, aqui em pleno brasil do carnaval e do futebol. afinal, há já muitas décadas atrás, essa espécie de niilismo, ou de grito de desespero através da aniquilação do outro, já era esperado e apontado por escritores como camus, e décadas depois captado pelo the cure, como sintoma da irracionalidade e da opreesão próprias desta opressiva e obsoleta sociedade de controle do capitalismo.

como detectou com lucidez e coragem o jornalista petersen filho, no texto que vai abaixo (mesmo com atraso, vale a pena ler), com o massacre de realengo é o brasilsilsil chegando à modernidade tardia e doentia do capitalismo. pena que o capitalismo esteja agonizando, como uma fera furiosa.
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Matando Um Árabe
Parado na praia
Com uma arma em minha mão
Olhando fixamente para o mar
Olhando fixamente para a areia
Olhando fixamente para o cano
Do árabe no chão
Vejo sua boca aberta
Mas não escuto nenhum som

Eu estou vivo
Eu estou morto
Eu sou um estranho
Matando um árabe


Eu posso voltar atrás
Ou eu posso abrir fogo com a arma
Olhando fixamente para o céu
Olhando fixamente para o sol
Qualquer escolha que eu faça
Tem a mesma importância
Absolutamente nenhuma


Eu estou vivo
Eu estou morto
Eu sou um estranho
Matando um árabe


Senti a arma disparar
Acalmando minha mão
Olhando fixamente para o mar
Olhando fixamente para a areia
Olhando fixamente para eu mesmo
Refletindo nos olhos
O homem morto na praia


O homem morto na praia


Eu estou vivo
Eu estou morto
Eu sou um estranho
Matando um árabe


******************************
Killing An Arab
I'm Standing on a beach
With a gun in my hand
Staring at the sky
Staring at the sand
Staring down the barrel
At the arab on the ground
See his open mouth
But hear no sound


I'm alive
I'm dead
I'm the stranger
Killing an arab


I can turn and walk away
Or I can fire the gun
Staring at the sky
Staring at the sun
Whichever I choose
It amounts to the same
Absolutely nothing
I'm alive
I'm dead
I'm the stranger
Killing an arab


Feel the steel butt jump
Smooth in my hand
Staring at the sea
Staring at the sand
Staring at myself
Reflected in the eyes of
The dead man on the beach


The dead man on the beach


I'm alive
I'm dead
I'm the stranger
Killing an arab

realengo e columbine

Realengo: Nós também temos Columbine  (trechos)
por pettersen filho, postado originalmente em abdic

Motivado pelo que ao certo nunca se saberá, Wellington Menezes, ao disparar seus tiros fatais, e no estampido dos seus revólveres, deu conta a todos nós, brasileiros, de uma vida cada vez mais autômata, a que somos levados pela tecnologia e mundo moderno, de sermos todos nós profundamente solitários, conectados por alguns megabytes, via internet , uns aos outros, sem Deus, paz, família ou credo político, ensimesmados em nosso cômodo "mundo perfeito"

Segundo o que se sabe, sem que, antes, ninguém percebesse, Wellington Menezes , como tantas outras pessoas que existem perambulando por aí, filho adotivo, desajustado, homodesconexo, enquanto declarava no seu âmbito interno "guerra" ao mundo , vivia completamente ignorado o seu mundo à parte, como tão bem leciona nosso Capitalismo, que a todos nós isola e padroniza, enquanto nos lança na sórdida competição por um "lugar ao sol", ao mesmo tempo em que fecha nossos olhos para o Próximo .

Ação que mescla tanto questões de saúde pública, passível ao Estado, quanto de humanismo, responsabilidade da própria Humanidade, a conduta de Wellington certamente não poderá ser atribuída, meramente, a uma patologia individual, ou à esquizofrenia de um "só-homem": Wellington Menezes ...

Sob pena de, se assim o fizermos, ser depositada, como em Columbine, uma superficial pá-de-cal sobre o problema, mas deverá, sim, ser analisada sob um prisma maior , de fenômeno Social , "doença coletiva", a que estaremos cada vez mais expostos, seja no Japão, na Inglaterra ou também no Brasil, onde somos algozes e ao mesmo tempo vitimas de um sistema de produção, mantença de poder e dominação humana, do "homem pelo homem", cada vez mais perverso e individualista.

Afinal, "Wellington Menezes", sem que percebas, pode ser seu vizinho, seu colega de trabalho, ai, bem ao seu lado, precisando de ajuda e conforto moral...

E a sua Escola, também, sem que percebas, poderá ser a próxima !
Já parou para pensar ?

da tunísia à américa - rebelião no ocidente 5

(Leia abaixo outros textos sobre a rebeliõ dos europeus e dos americanos)
Em maio de 2010 este blog já alertava que aquelas combativas manifestações populares, que haviam começado na Grécia ainda em 2008, poderiam de fato se espalhar pelo continente europeu, como está acontecendo hoje na Espanha e em Portugal, e como já ocorreu na França, na Inglaterra, na Islândia.

Claro que, em todos esses países onde estão ocorrendo as mobilizações populares, há diferenças na organização, no grau de participação e de influência das entidades historicamente mais oganizadas e talvez até mesmo diferença de objetivos. Mas há uma motivação comum: as consequências danosas, provocadas na vida das pessoas pelo agonizante projeto capitalista, com suas desesperadas medidas econômicas para se salvar.

Em seus estertores, o modelo capitalista de produção e de relações sociais impõe medidas cada vez mais duras para os povos de países diversos. Mas como era previsto, esses povos têm reagido ao aumento da irracionalidade do capitalismo, cada um de acordo com sua realidade histórica, social e política.

E agora já não se trata tão somente de países da periferia, os protestos, mobilizações e rebeliões não ocorrem apenas em nível do chamado terceiro mundo: América Latina, Ásia, Oriente, África. Na verdade, as reações populares aos excessos do capitalismo têm se dado com mais intensidade exatamente nos paises centrais, principalmente na Europa - aliás, com mais intensidade e com mais duração. A esse propósito, veja os textos que seguem, publicados há já algum tempo, aqui no desvelar ou em outros espaços alternativos.
londres: multidão nas ruas
islândia: o exemplo de um povo
nove postagens sobre a grécia
um novo ativismo na inglaterra
E, embora isso não esteja sendo muito divulgado, essas mobilizações e rebeliões contra o capitalismo também estão começando a ocorrer - e já com uma certa intensidade e frequência - exaramente no mais importante país do capitalismo, os Estados Unidos. Seguem alguns textos, também tratando de fatos que vem ocorrendo há já algumas semanas ou meses.
marcha contra wall street
do oriente médio ao meio oeste
carta de michael moore aos estudantes
Enfim, são cada vez mais evidentes os sinais de que chegou o momento de um acerto de contas entre os comandantes e os comandados no Ocidente.

****************
Obviamente que não se trata de nenhum mágico resgate da utopia, ou de uma súbita adesão dos povos aos ideais libertários e de libertação. Trata-se tão somente de cansaço, de desilusão e, principalmente, de descrença dos povos na capacidade das sociedades capitalistas para fazerem o mundo funcionar com um mínimo de eficiência, segurança e justiça social. É como se se esgotasse a capacidade da sociedade de controle para distrair, seduzir os povos.

É uma descrença que vai se instalando aos poucos, embora não seja provocada pelo seu oposto, que seria a imediata adesão dos povos à crença no socialismo. Mas somente ingênuos, presunçosos e revolucionários de gabinete imaginam que a transformação das estruturas sociais e econômicas, em nível planetário, se daria de forma abastrata, 'espiritualizada', como se os povos de um momento para o outro 'acordassem' de sua 'ignorância' e de sua letargia e decidissem que o capitalismo é extremamamente danoso e que precisa ser urgentemente substituído.

Somente ingênuos e teóricos de gabinete preconizam essas espécies de revoluções limpas, idealistas, abstratas, sem uma motivação concreta, cotidiana, material, 'vulgar'.

parar o atentado contra o ser: rebelião no ocidente 4

Ainda com relação a eventos impactantes neste período de superação do capitalismo, Maio foi o mês da suposta morte de Bin Laden por militares norte-americanos.

Para além da complexidade e da estranheza que envolvem a figura de Bin Laden e o polêmico episódio do 11 de setembro, fica uma certeza: os árabes, acusados de fundamentalistas, fanáticos e retrógrados, talvez tenham sido os mais ousados, os mais modernos dentre todos nós.

Afinal, depois da geração da contracultura, nenhum grupo, povo ou movimento ousou de fato questionar, duvidar (e, mais que tudo, combater até mesmo com a própria vida) os malefícios provocados pelo projeto de conquista do Ocidente, com seus valores e e com seu modo de vida difundidos pelo mundo afora.
Não se está aqui afirmando, de forma alguma, que esses valores e esse modo de vida tenham trazido apenas dor, repressão e empobrecimento existencial, o que está se apontando é que os árabes foram os únicos nas últimas décadas a iniciar de fato um acerto de contas com o Ocidente.

Um grito de alerta
Com suas bombas e com seu fundamentalismo religioso, os árabes da Al-Qaeda talvez tenham apenas lançado um corajoso e desesperado grito de alerta contra o erro e o mal, contra o pecado que estaremos cometendo se deixarmos que os comandantes do Ocidente prossigam em seu insano projeto de conquista, de domínio do mundo e da vida, do Real, a qualquer preço e sem objetivos humanitários; esse insano projeto que, embora admiravelmente racional e eficiente em suas técnicas e métodos, não tem inteligência nenhuma, não tem sabedoria alguma em se tratando de alimentar ou ao menos estimular a plenitude de vida das pessoas e dos povos.

É como se os árabes houvessem percebido que - nas décadas de 80 e 90 - a apatia, a impotência ou a perplexidade envolveram, em maior ou menor grau, todas aquelas pessoas, movimentos, idéias e grupos que poderiam enfrentar os comandantes do Ocidente. E, assim, já que estávamos por demais fragmentados, impotentes e confusos, foi como se os árabes tivessem tomado para si a tarefa de se contraporem à insanidade dos comandantes, até que pudéssemos de novo nos reagruparmos e compreendermos melhor o que estava acontecendo.

Desse ponto de vista, não é nenhum absurdo ou devaneio considerar os árabes da Al-Qaeda como companheiros de jornada nesse dificil e ainda confuso processo de transição pelo qual passa a humanidade. Afinal, nem todos estão dispostos ou conseguem lutar apenas com palavras de ordem, marchas e poemas, há aqueles povos e indivíduos que, pela sua própria história, só podem enfrentar com bombas aquilo que consideram como erro.

Afinal, pode estar chegando o tempo em que estaremos de fato marchando para que um Oriente e Ocidente se encontrem e comunguem, sem imposição e sem domínio, sem distância e sem hostilidade, para que se alimentem um ao outro e um do outro. Para que um dia as bombas explodam apenas em forma de palavras, de poemas, de dança, de música.

Parar o atentado contra o Ser
Falar nisso, e para além do enigma Bin Laden, publiquei aqui um poema sobre essa já lendária figura. Fi-lo em 2006, quando se completaram cinco anos do atentado de 11 de setembro. No poema expressei exatamente essa ambiguidade que cerca Bin Laden: tendo sido cria dos americanos e da CIA, de que lado estava afinal: à direita, à esquerda, do lado de cá, do lado do sonho e da crença na comunhão entre pessoas e povos, ou do lado de lá, do lado das sangrentas bandeiras inglesas e americanas, dançando a dança da morte de Bush e de Blair? Foi apenas teatro a sua espantosa e épica trajetória entre nós?

Não importa o que de fato o que motivou Bin Laden, não importa até onde a sua figura foi fabricada ou manipulada pelos poderes estabelecidos. O que importa é que, de uma forma ou de outra, a sua imagem se firmou como símbolo de que, além de possível e necessário, é urgente  questionar, enfrentar e derrotar um modo de organização social que caminha cada vez mais para a irracionalidade, que se apresenta cada vez mais com um erro gritante, como pecado contra a vida  e contra o próprio Ser - pois se,  como dizia Hegel,  tudo, inclusive nós, é uma manisfestação do Espírito ou do próprio divino, então atentar contra nós próprios e contra o mundo é também um atentado contra o esse ainda enigmático projeto do Ser ou do Espírito.



as comunas de espanha e de portugal: rebelião no ocidente 3

Leia acima: rebelião no ocidente 4  e rebelião no ocidente 5

O movimento espanhol 15-M anunciou esta segunda-feira uma manifestação em Madrid para o próximo domingo, dia 29 de Maio, que irá sair da praça Cibeles às 10h da manhã. Foto gaelx/Flickr


extraído de carta maior

O movimento espanhol 15-M anunciou que realizará uma manifestação em Madri no próximo domingo, dia 29 de maio, que irá sair da praça Cibeles às 10h da manhã. Na reunião também foi debatida e aprovada a proposta para a realização, no mesmo dia, de uma marcha até ao palácio da Zarzuela para pedir ao Rei que se pronuncie sobre a manifestação dos indignados.


Os manifestantes do 15-M consideram que encerraram a semana com um tremendo êxito nas concentrações e nas assembleias organizadas e que agora começaram outra semana "decisiva", tendo decidido prolongar o acampamento "pelo menos" até ao próximo domingo.


Os concentrados sugeriram o estabelecimento de turnos para não esgotarem as forças da manifestação. Decidiram também a divulgação do movimentos aos bairros, aos municípios e à Internet, com o objetivo de dar permanência ao movimento, segundo os organizadores. Porém, ainda não existe consenso sobre a direção que o movimento deverá ter no médio prazo.


Foram também votadas as propostas dos comerciantes da Porta do Sol que se queixam de quebras nas receitas na ordem dos 50 por cento. Apenas foi aprovada uma das reivindicações dos lojistas: a retirada dos cartazes das vitrines, mas apenas dos pequenos comerciantes.A assembleia realizada segunda-feira anunciou também que já foram recolhidas 200 mil assinaturas de apoio ao protesto.

Os acampamentos mantêm-se em muitas outras cidades de Espanha.


“Claro que vamos ficar!”
Na terça-feira, ocorreu a 5.ª Assembleia Popular aberta do acampamento de Lisboa, na sequencia da decisão aprovada na assembleia do dia anterior. Mais de 500 pessoas responderam sim ao apelo do movimento que, desde a quinta-feira da semana passada, tem se juntado à Praça do Rossio, em Lisboa, “pela reinvenção da política”.

A assembleia de segunda-feira contou com um debate vivo e participativo, durante o qual inúmeras pessoas aproveitaram o “microfone aberto” para dar voz à sua indignação.


Decidiram a criação de uma sala de estudo permanente, no espaço da concentração, que possa servir de base de trabalho a estudantes que desejem permanecer no Rossio durante o dia e a criação de um espaço de apoio a crianças e pais que decidam participar na ação e nas actividades do movimento. Os grupos de trabalho prosseguem.

Os acampados em Lisboa reforçam o apelo a todos os que se identifiquem com o manifesto do movimento no sentido de se juntarem ao mesmo, no Rossio, “trazendo consigo a sua indignação, as suas ideias, os seus sonhos e a sua voz”. Bem como outros apoios logísticos básicos... como água, azeite, geleiras, sacos térmicos, latas de conserva, pratos, copos e talheres reutilizáveis, corda grossa, lonas de tecido e plástico para proteger do sol e da chuva, cavaletes, etc.

No Porto, na Praça da Batalha, o acampamento que já dura cinco dias mantém-se. Têm um espaço de leitura (com jornais diários oferecidos) e de estudo, uma cozinha, uma zona para jogos didáticos e finalmente um local de descanso protegido pelo sol.

19/05/2011

um outro maio na europa: rebelião no ocidente 2

de madrugada permaneciam na puerta del sol, em madrid,
mais de 2000 pessoas. foto de epa/pablo talamanca

Milhares de manifestantes ocupam o centro de Madri
por Esquerda.net/PCWorld Espanha
Mais de 10 mil pessoas, de várias idades, responderam terça-feira a um apelo feito em redes sociais e concentraram-se na Puerta del Sol, em Madrid, em protesto contra a crise econômica e as políticas anti-sociais implementadas pelo governo espanhol. Segundo o jornal El Mundo, às duas da madrugada, mais de 2000 pessoas permaneciam no local. O objetivo é manter este acampamento improvisado até 22 de maio, dia das eleições autônomas e municipais.

Segundo noticiou o El Pais, foi estabelecida uma rede de voluntários de forma a apoiar os manifestantes. Foram criadas cinco comissões: alimentação, comunicação, infra-estrutura e actividades, e aconselhamento jurídico.
Mais de 300 polícias cercaram a Praça e controlam as ruas adjacentes.

Em Granada, três pessoas foram detidas após a polícia ter dispersado os manifestantes que se preparavam para pernoitar no Paseo del Sálon. Os detidos são acusados de “resistência à autoridade”, acusação que negam. Durante a noite de hoje, os manifestantes voltarão a concentrar-se em Granada, na Plaza del Carmen. Para Sevilha está marcada uma concentração de duração indefinida a partir de quinta-feira.

No domingo, 18 pessoas foram presas durante os protestos convocados para mais de 50 cidades espanholas. Na segunda-feira, a polícia espanhola prendeu mais um manifestante que se preparava para acampar na Puerta del Sol, em Madrid. Cinco pessoas, menores de idade, continuam detidas, segundo divulga o El Pais.

Os representantes da Plataforma Democracia Real ya!, que convocou os protestos do domingo passado, dia 15 de Maio, afirmam que, neste momento, são os próprios cidadãos que organizam estas ações.

Redes sociais ajudam espanhois a protestar contra a crise - Por PC World - Espanha

As redes sociais têm ajudado a mobilizar milhares de pessoas em diversas cidades da Espanha, em um movimento conhecido inicialmente como “os indignados” e que recentemente ganhou o nome de "15M". O movimento tem invadido as ruas – e as redes sociais, sob hashtags como #democraciarealya e #nolesvotes.

Milhares de pessoas têm-se mobilizado por toda a Espanha para reivindicar mudanças, principalmente no nível político, em antecipação às eleições regionais e locais marcadas para domingo (22/5). A praça Puerta Del Sol, em Madri, tornou-se o marco zero para este protesto específico, e as redes sociais (lideradas pelo Twitter) mobilizam centenas de cidadãos em vários tipos de protestos e manifestações.

Como ocorreu em outros países, centenas de espanhóis têm tomado as ruas em protesto contra a situação política, econômica e social existente no país. Sem um líder claro, este grupo difuso e indefinido tem sido formado por milhares de pessoas para protestar contra os políticos e pedir mudanças.

Lei Sinde
O movimento formou-se em torno da oposição à chamada Lei Sinde, que vai regulamentar os downloads de Internet na Espanha. A oposição das pessoas a essa regulamentação gerou a hashtag #nolesvotes, que convocava os cidadãos a não votar em partidos políticos que apoiam esta iniciativa: PSOE (no governo), PP (principal partido da oposição) e CiU (o partido catalão). Enrique Dans, professor do Instituto de Empresa e forte defensor do movimento, explicou a filosofia da iniciativa em seu blog.

Esta iniciativa, aliada à crise econômica espanhola (que já levou o Fundo Monetário Internacional e outros órgãos a advertir sobre uma “geração perdida”), e o impacto de manifestações semelhantes em outros países e nas redes sociais têm dado origem aos protestos nas cidades espanholas.

A plataforma DemocraciaRealYa (http://democraciarealya.es) convocou para uma manifestação em várias cidades em 15 de maio. Em Madri, a reunião levou a confrontos com a polícia, levou o grupo às primeiras páginas dos jornais locais e culminou com a decisão de algumas dezenas de pessoas de acampar na praça Puerta del Sol como forma de protesto.
A DemocraciaRealYa afirma ser um movimento que é “apartidário, forjado no calor da Internet e das redes sociais e que tem como único propósito promover uma discussão aberta entre aqueles que desejam se envolver na preparação e na coordenação de ações conjuntas.”

Na noite de segunda-feira (16/5), a polícia tentou desmontar o acampamento que os “indignados” montaram na praça Puerta del Sol. O YouTube está repleto de vídeos da ação policial e os usuários das redes sociais têm expressado sua oposição em relação ao que tem ocorrido.

Desde então, centenas de hashtags apareceram nas mensagens do Twitter, incluindo #spanishrevolution, #acampadasol, #yeswecamp e #nonosvamos.Embora Madri esteja atraindo a maior parte da atenção, os acampamentos de protesto têm sido organizados em outras cidades na Espanha. Muitos deles são retratados em blog. (Arantxa Herranz)
As informações são do portal Esquerda.net e do PCWorld/Espanha.

18/05/2011

o início da derrocada da europa neoliberal: rebelião no ocidente

GREVE GERAL NA GRÉCIA:
O LEME FOI ENTREGUE À TEMPESTADE

Transportes, serviços públicos, escolas e sistemas de saúde paralisaram atividades nesta terça-feira na Grécia, enquanto ‘inspetores' da União Europeia e do FMI visitam Atenas para avaliar a situação econômica desagregadora. Um ano após a concessão da ajuda financeira para evitar a quebra do país, o quadro só piorou, com aumento do déficit público que se pretendia reduzir. Motivo: arrocho ministrado pelos ‘inspetores' dos mercados produziu recessão, desemprego e queda na receita do Estado. O que se discute agora é a urgência de um novo pacote de ‘ajuda' para evitar a falência que poderia contaminar todo o ambiente europeu e gerar novos Estados zumbi (Espanha na mira). O custo do novo auxílio seria um repiquete do arrocho sobre o setor público, com cortes adicionais em serviços essenciais, esfarelando a rotina já dramática de um país à deriva, cujo leme foi entregue à tempestade.
(Carta Maior; 4º feira, 11/05/ 2011)

grécia: lenta mas firme marcha rumo a uma revolução?

Milhares de pessoas participam de greve geral na Grécia

O centro de Atenas encheu-se nesta quarta-feira de milhares de manifestantes que protestaram contra as medidas de austeridade implementadas pelo governo e contra um novo plano de ajuda externa. Trabalhadores de transportes públicos, serviços públicos, saúde e educação paralisaram suas atividades. Governo quer arrecadar cerca de 76 bilhões de euros até 2015 mediante a privatização de empresas estatais e a venda de bens públicos.
extraído de esquerda.net

A segunda greve geral promovida em 2011 surge no momento em que já se sabe que o governo pretende aplicar um novo plano de austeridade para arrecadar cerca de 76 bilhões de euros até 2015 mediante a privatização de empresas estatais e a venda de bens públicos, e em que surgem informações que apontam para a necessidade da Grécia reestruturar a sua dívida e solicitar um novo plano de ajuda externa.
Milhares de manifestantes concentraram-se no centro de Atenas em resposta ao apelo lançado pela Confederação de Trabalhadores da Grécia (GSEE), que representa 1,5 milhão de pessoas, e o Sindicato de Funcionários Civis (ADEDY), que representa outros 700 mil.

Empunhando cartazes contra o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a União Europeia, os gregos exigem que “os ricos paguem a crise e não o povo”, e apelam ao povo para que não baixe a cabeça e não se deixe vencer.
Vassilis Xenakis, representante de um sindicato do setor público, afirmou à BBC Radio 4 que “há um ano, o governo anunciou e tomou algumas medidas contra os funcionários públicos, contra os trabalhadores, contra os salários” e “o resultado foi que a população ficou mais pobre, os mercados estão congelados, não há crescimento, não há produtividade e ninguém investe”. Agora, adianta Vassilis, “o governo volta a pedir mais medidas, mas quem é que pode aceitar novamente essas medidas sem resultados?”.
Lojas fechadas, vôos cancelados, transportes públicos paralisados, escolas encerradas e hospitais em serviços mínimos. Este foi o cenário com que se deparam os atenienses logo pela manhã.
Também os jornalistas aderiram à greve de 24 horas que juntou a função pública e o setor privado contra as políticas de austeridade e os planos de privatização do governo.
Segundo noticia do El Pais, as autoridades gregas utilizaram gás lacrimogéneo para dispersar alguns manifestantes, sendo que um agente ficou ligeiramente ferido e pelo menos cinco manifestantes foram transportados de ambulância para o hospital.

As autoridades gregas apontaram um total de 20.000 manifestantes em Atenas.
















no fio da navalha

quando o amor decide se suicidar
não há quem o detenha;
súbito, gelam-se os abraços
e as palavras da véspera, queimam

cavalgam os capangas do orgulho
libertos de negra caverna masoquista
para nos roubar a ingenuidade infantil
de amar como loucos e sem exigências -
crianças inocentes e sem medos

mas agora crescemos e estamos a postos
nada nem ninguém nos engana:
nossos próprios demônios nos defendem
de qualquer tentação de ser felizes
e então podemos placidamente dormir
apoiados no lasso travesseiro do fracasso

a punta de navaja
Cuando al amor le da por suicidarse
no hay quien sea capaz de detenerlo;
de pronto se congelan los abrazos
y queman las palabras de ayer mismo.

Regresan los sicarios del orgullo
desde un negro reducto masoquista,
a robarnos la infantil inconsciencia
de amarnos a lo loco y sin preguntas,
como niños idiotas, sin recelos.

Ahora que hemos crecido y somos listos,
no nos engaña nadie; nos protege
nuestro propio demonio de la guarda
de cualquier tentación de ser felices
para poder dormir, plácidamente,
sobre la tibia almohada del fracaso.

ana montojo micó - espanha
tradução: roberto soares

16/05/2011

apenas observando

por frei betto

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam.
Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: "Qual dos dois modelos produz felicidade?" Estamos construindo super-homens e super mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias!Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito.Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto?". "Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!"

A publicidade não consegue vender felicidade, então passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro,você chega lá!"O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo o condicionamento .

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, constrói-se um shopping-center. É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista.
Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.
Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: "Estou apenas fazendo um passeio socrático". Diante de seus olhares espantados, explico: "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !" 

11/05/2011

benvindos à idade média

"na última semana beatificamos um papa, casamos um príncipe, fizemos uma cruzada e matamos um mouro. bem-vindos à idade média"
(autor desconhecido)



tempos sombrios

por elaine tavares
Imaginem vocês se um pequeno operativo do exército cubano entrasse em Miami e atacasse a casa onde vive Posada Carriles, o terrorista responsável pela explosão de várias bombas em hotéis cubanos e pela derrubada de um avião que matou 73 pessoas. Imagine que esse operativo assassinasse o tal terrorista em terras estadunidenses. Que lhes parece que aconteceria? O mundo inteiro se levantaria em uníssono condenado o ataque. Haveria especialistas em direito internacional alegando que um país não pode adentrar com um grupo de militares em outro país livre, que isso se configura em quebra da soberania, ou ato de guerra. Possivelmente Cuba seria retaliada e, com certeza, invadida por tropas estadunidenses por ter cometido o crime de invasão. Seria um escândalo internacional e os jornalistas de todo mundo anunciariam a notícia como um crime bárbaro e sem justificativa.

Mas, como foi os Estados Unidos que entrou no Paquistão, isso parece coisa muito natural. Nenhuma palavra sobre quebra de soberania, sobre invasão ilegal, sobre o absurdo de um assassinato. Pelo que se sabe, até mesmo os mais sanguinários carrascos nazistas foram julgados.

Osama não. Foi assassinato e o Prêmio Nobel da Paz inaugurou mais uma novidade: o crime de vingança agora é legal. Pressuposto perigoso demais nestes tempos em que os EUA são a polícia do mundo.

Agora imagine mais uma coisa insólita. O governo elege um inimigo número um, caça esse inimigo por uma década, faz dele a própria imagem do demônio, evitando dizer, é claro, que foi um demônio criado pelo próprio serviço secreto estadunidense. Aí, um belo dia, seus soldados aguerridos encontram esse homem, com toda a sede de vingança que lhes foi incutida. E esses soldados matam o “demônio”. Então, por respeito, eles realizam todos os preceitos da religião do “demônio”. Lavam o  corpo, enrolam em um lençol branco e o jogam no mar. Ora, se era Osama o próprio mal encarnado, porque raios os soldados iriam respeitar sua religião? Que história mais sem pé e sem cabeça.

E, tendo encontrado o inimigo mais procurado, nenhuma foto do corpo? Nenhum vestígio? Ah, sim, um exame de DNA, feito pelos agentes da CIA. Bueno, acredite quem quiser. O mais vexatório nisso tudo é ouvir os jornalistas de todo mundo repetindo a notícia sem que qualquer prova concreta seja apresentada. Acreditar na declaração de agentes da CIA é coisa muito pueril. Seria
ingênuo se não se soubesse da profunda submissão e colonialismo do jornalismo mundial.

Olha, eu sei lá, mas o que vi na televisão chegou às raias do absurdo. Sendo verdade ou mentira o que aconteceu, ambas as coisas são absolutamente impensáveis num mundo em que imperam o tal do “estado de direito”. Não há mais limites para o império. Definitivamente são tempos sombrios. E pelo que se vê, voltamos ao tempo do farwest, só que agora, o céu é o limite. Pelo menos para o império. Darth Vader é fichinha!

Elaine Tavares é jornalista



07/05/2011

dizes que me quer

você diz que me quer de uma tal forma
que não consigo deixar de corar;
que me quer de um modo primitivo
sem razão aparente e sem desculpas
e que me quer porque me deseja
porque sabe que eu também te quero
e como o monstro deste amor nos come
a alma, a paciência e as maneiras.

que pena que todas estas coisas
morram em nós afogadas de silêncio.

amalia bautista - espanha
tradução: roberto soares

morangos silvestres

Um ser humano é um combinado de egoísmo,
sofrimento e necedade. Não comove ninguém.
Uma pedra não comove ninguém. A beleza
é um acidente banal e pressupõe a morte;
muitas vezes se rodeia de sandice, e se nos fala,
chega a ser assustador. A inteligência, refrescante
como um duche, sabe bem, no Estio; mas agora
que é Inverno toda a vida, que lugar atribuir
à inteligência? O de criada de servir nos aposentos
da ganância. Não comove, é evidente, ninguém.

A bondade, sim, comove. Mas é tão débil
e tão rara que ninguém a ouve. Não é fácil,
assim, encontrar algo que possamos amar. Eu
tenho procurado, eu juro que não sei o que fazer:
tudo me parece, até a música, produto de uma falha.

Vou por essas ruas ao acaso e não acerto a conhecer
quem me convença que bem outra poderia ser
a vida. Tudo se mostra sob espelhos deformantes
tudo arde numa estranha aceitação. Francamente
não consigo perceber. E gostava tanto, mas tanto
que alguém me demonstrasse que não tenho razão.
josé miguel silva - portugal, movimentos no escuro, ed. relógio d’água, (2005)

pobres, gritai comigo!

Pobres, gritai comigo:

Abaixo o D. Quixote
com cabeça de nuvens
e espada de papelão!
- E viva o Chicote
no silêncio da nossa mão!

Pobres, gritai comigo:
Abaixo o D. Quixote
que só nos emperra
de neblina!
- E viva o Archote
que incendeia a terra
mas ilumina!

Pobres, gritai comigo:
Abaixo o cavaleiro
da lança de soluços
e bola de sabão
no elmo de barbeiro!

- E vivam os nossos Pulsos
que, num repelão
hão-de rasgar o nevoeiro!

josé gomes ferreira - portugal

03/05/2011

o criador mata a criatura

(extraído de resisitir.info)

Com pompa e circunstância, o império anuncia a morte do sr. Bin Laden.
É caso para dizer que o criador mata a sua criatura. O sr. Bin Laden era um dos "activos" da CIA. A sua Al Qaeda foi organizada, financiada e armada pelos serviços secretos dos EUA.
Operacionais da Al Qaeda treinados pela CIA foram utilizados nas guerras da Jugoslávia e da Chechenia. Mas a desinformação é tamanha que continuam a atribuir àquele indivíduo os atentados de 11/Setembro/2001.
Esquecem-se cuidadosamente de dizer que na véspera, dia 10 de Setembro, o sr. Bin Laden estava internado num hospital militar americano.

02/05/2011

a segunda morte de Osama bin Laden


por Paul Craig Roberts

Se hoje fosse 1º de Abril e não 2 de Maio, podíamos ignorar como uma brincadeira a manchete desta manhã de que Osama bin Laden foi morto num combate armado no Paquistão e rapidamente lançado ao mar. No actual estado de coisas, devemos considerar isto como prova adicional de que o governo estado-unidense tem uma fé ilimitada na credulidade dos americanos.
Pense nisso. Quais são as probabilidades de uma pessoa que alegadamente sofre dos rins e precisa de diálise, e que além disso é afligido por diabete e baixa tensão arterial, sobreviva em esconderijos na montanha durante uma década? Se bin Laden fosse capaz de adquirir o equipamento de diálise e os cuidados médicos que as suas condições requeriam, será que o despacho do equipamento de diálise não apontaria a sua localização? Por que foram precisos dez anos para encontrá-lo?

Considere também as afirmações, repetidas pelos media triunfalistas dos EUA a celebrarem a morte de bin Laden, que "bin Laden utilizou seus milhões para financiar campos terroristas no Sudão, nas Filipinas e no Afeganistão, enviando 'guerreiros sagrados' para fomentar a revolução e combater com forças fundamentalistas muçulmanas no Norte da África, Chechénia, Tajiquistão e Bósnia". Isso é um bocado de actividade para ser financiado por uns meros milhões (talvez os EUA devessem tê-los colocado na conta do Pentágono), mas a questão principal é: como é que bin Laden foi capaz de movimentar o seu dinheiro de um lado para o outro? Que sistema bancário o ajudou? O governo estado-unidense tem êxito em apresar os activos de povos de países inteiros, sendo a Líbia o mais recente. Por que não os de bin Laden? Estaria ele a carregar consigo US$100 milhões em moedas de ouro e a enviar emissários para distribuir os pagamentos das suas operações dispersas por lugares remotos?

A manchete desta manhã tem o odor de um evento encenado. O fedor emana dos noticiários triunfalistas carregados de exageros, dos celebrantes que ondeiam bandeiras e cantam "USA, USA". Poderia algo diferente estar em curso?

Não há dúvida de que o presidente Obama precisa desesperadamente de uma vitória. Ele cometeu o erro do idiota ou o recomeço da guerra no Afeganistão e agora, após uma década, os EUA enfrentam o impasse, se não a derrota. As guerras dos regimes Bush/Obama levaram os EUA à bancarrota, deixando no seu rastro enormes défices e um dólar em declínio. E o momento da re-eleição está a aproximar-se.

As várias mentiras e enganos, tais como "armas de destruição maciça", das últimas administrações têm consequências terríveis para os EUA e o mundo. Mas nem todos os enganos são o mesmo. Recordem, toda a razão para invadir o Afeganistão era em primeiro lugar para apanhar bin Laden. Agora que o presidente Obama declarou que bin Laden levou um tiro na cabeça, dado pelas forças especiais dos EUA a operarem num país independente e que estas o lançaram ao mar, não há razão para continuar a guerra.

Talvez o declínio precipitado do US dólar nos mercados de câmbio estrangeiros tenha forçado algumas reduções reais no orçamento, as quais só podem vir da travagem de guerra ilimitadas. Até o declínio do dólar ter atingido o ponto de ruptura, Osama bin Laden, o qual muitos peritos acreditam ter sido morto há anos, era um bicho-papão útil para alimentar os lucros do complexo militar e de segurança dos EUA.

02/Maio/2011

Ver também:

bin laden: luto, lustro

Na impossibilidade de escrever um texto mais abrangente acerca do desfecho da suposta caçada a Bin Laden, publico aqui um poema que escrevi em 2006, por ocasião do lustro (cinco anos) do atentado ao World Trade Center.


bin laden: luto, lustro
(cinco anos de 11 de setembro)


olha aí do seu lado
pode ser ele
bin laden
ei, olha de lado
não olha direto


mas onde ele tá
à direita
à esquerda
do lado de lá
do lado de cá?


agora olha lá bin laden
escorregando
nas grutas e ladeiras da ásia
ladino, latino


olha bin laden
bombando todas
bum! bum!
being! being!
boing! boing!
bom bom?


e olha os doidos dos árabes
orando para bin laden
e lá em cima no norte
a ladainha da morte
o louco balé de bush e blair
envoltos nas bandeiras listradas
por quanto tempo sangrentas
e ensangüentadas?


bin, bin, bum, bum!


roberto soares
vitória, 11/09/2006