26/05/2010

justiça e paz: o blog da CJP

A Comissão de Justiça e Paz, CJP, foi inicialmente criada para prestar assessoria ao Arcebispo da Arquidiocese de Vitória, nas questões de cunho social e político. A sua constituição é bastante plural, formada por religiosos, ativistas políticos e de direitos humanos, lideranças comunitárias, professores, estudantes.

De um ano para cá, a CJP vem atravessando um momento de renovação de seus quadros e de suas propostas de atuação. No seu papel de expoente do pensamento e da ação social da Igreja de Vitória, em sua reunião de abril, a CJP criou uma comissão para elaborar um Plano de Ação.

Formada por Luiz Antônio Dagiós, Artur Moreira, Tiago Sarti e Roberto Soares, esse grupo entendeu que não deveria se preocupar com um calendário rígido e de ações a curto prazo para a CJP, propondo assim um roteiro de ação a médio e longo prazo.

E esse roteiro para a CJP precisaria se dar em duas direções: por um lado enraizar-se mais nas comunidades, paróquias e sociedade civil e, por outro, consolidar-se como instrumento de articulação e integração entre as diversas iniciativas político-sociais de comunidades, paróquias, movimentos e entidades sociais e populares.

Essa proposta de se constituir como espaço de integração e articulação justifica-se plenamente, se se levar em conta que os membros da CJP estão inseridos nos mais diversos espaços de atuação política, social, pedagógica e pastoral. Ou seja, há uma pluralidade que leva naturalmente à integração e articulação entre esses espaços. O que se propôs foi simplesmente utilizar ao máximo esse potencial de informação, articulação e integração.

Para concretizar essa tarefa dupla, de enraizamento nas comunidades e de articulação de iniciativas, o grupo do Plano de Ação entendeu que três eixos deveriam ser observados: organização, formação e comunicação. Ou seja, organizar os membros CJP em algumas subcomissões específicas, proporcionar a devida formação política e técnica para esses membros e para outras pessoas que quiserem colaborar com as subcomissões e, finalmente, criar uma estrutura mínima de comunicação, com o óbvio objetivo de dar visibilidade às iniciativas da CJP e de suas subcomissões.

Em sua reunião de maio, a Coordenação da CJP acatou efusivamente as propostas colocadas pelo Grupo do Plano de Ação. Foram então criadas quatro subcomissões: Formação Política, Justiça e Cidadania, GAL e Comunicação. Mais detalhes podem ser conhecidos no próprio blog da CJP, o Justiça e Paz, cujo endereço vai abaixo.

Aliás, o blog é a primeira iniciativa concreta da Subcomissão de Comunicação, e foi-me incumbida a honrosa tarefa de cuidar de sua edição.


Segue o endereço do blog da CJP:  justiça e paz

a igreja progressista e o mar da história

É muito benvinda essa retomada das ações da CJP (veja texto acima) e de outros setores progressistas da Igreja Católica, nesse momento de fragmentação, de cooptação e de um certo imobilismo nos movimentos sociais e populares. Com certeza, esses setores progressistas têm feito muita falta no atual cenário das lutas populares e  sociais. Afinal, as CEBs - Comunidades Eclesiais de Base, ainda  têm uma forte presença no meio da população e dos movimentos sociais e populares.

Sem dúvida, esse é um dos primeiros desafiso dos etores progressistas: resgatar, integrar e direcionar essa presença e essa história das CEBs,  para participar mais ativamente do processo de trasnformação social.
Sem obviamente confundir e cometer excessos, sem reduzir a religiosidade à mera ação e pregação política.

Há lugar para todos dentro da Igreja Católica. Afinal,  não se pode querer que todos os católicos  se refugiem nos inúmeros barquinhos da salvação individual ou grupal, proporcionada pelos diversos movimentos  dentro da Igreja Católica, enquanto o mar da hsitória se torna cada vez mais encapelado e ameaçador.
Alguém tem que sair e enfrentar a fúria e os perigos, a navegar no mar aberto da história; os católicos também podem e devem optar por exercer a sua fé e religiosidade como corajosa e generosa ação transformadora.

E com certeza a ação transformadora dos setores progressistas da Igreja Católica faz a diferença, com a sua vocação para comungar cotidiano e mistério, política e mística, imanência e transcendência. Não dá para toda a Igreja ignorar o mar dos homens, refugiando-se nos barquinhos dos movimentos religiosos ou no grande barco da tradição e da hierarquia.

E talvez não seja tão utópico acreditar  e trabalhar para que as diversas 'igrejas' dentro da Igreja Católica possam  navegar juntas no  mar da história, senão no mesmo barco, ao menos na mesma direção.

Afinal, se é verdade que São Pedro tem as chaves da Igreja, a Igreja tem em mãos algumas chaves que certamente ajudariam em muito a abrir e aclarar caminhos para o Ocidente. Resta saber se terá tempo de usá-las, no caso de o mar se tornar por demais perigoso e naufragante, no caso de a  barbárie se instalar de forma irreversível.     


No blog da CJP, recomendo e leitura do artigo Crises, feridas e cicatrizes, do Pe Alfredinho

20/05/2010

vídeo - rebelião na grécia 9

Prossegue a resistêcia do povo grego.
Belos e vibrantes momentos de uma manifestação de 100 mil pessoas em Atenas, a 15 de maio.
Com direito a um envolvente fundo musical. Não consegui saber qual é essa canção ou hino.






13/05/2010

um retrato na parede

veja também:  cratera e dejetos

Estive em Itabira no final do ano passado. Um pouco para conhecer a cidade onde nasceu Carlos Drummond de Andrade e um pouco para pisar mais um novo chão de Minas.
Itabira nada tem do bucolismo que às vezes imaginamos para uma cidade do interior mineiro, principalmente se essa cidade fica conhecida como a terra de um respeitado poeta. Itabira cresceu, virou cidade de porte médio, graças obviamente ao minério de ferro que é arrancado sem cerimônia das entranhas de sua terra.
É agora uma cidade nervosa, apressada, tem até os indefectíveis ajuntamentos e congestionamentos de veículos nas horas de pico. Tem também as indefectíveis construções e arquiteturas de ar modernoso que aos poucos vão invadindo as cidades mais prósperas do interior.

Claro que são preservadas as suas ruas, praças e algum casario antigo. E à noite essas praças e ruas resgatam para os moradores um pouco daquele ar de nostalgia ancestral e pacificada, que ainda parece ser, ainda, uma marca dessas cidades do interior de Minas - noites silentes mas pulsantes de ser.

Embora certamente seja cada vez menor o número de pessoas atraídas por essas praças e ruas, já que até mesmo no interior as bugigangas eletrônicas e as seduções virtuais não deixam muito tempo para esses silêncios e vibrações pacificadoras, que brotam das casa, das pedras, dos céus e estrelas, e brotam também das pessoas com suas conversas pausadas, reverentes. Na era virtual há cada vez menos tempo e disposição para fruir da discreta presença do ser e do outro. Os moradores de Itabira, claro, não fogem a essa captura exercida pelo controle virtual.

De toda forma, a cidade ainda tem o seu encanto e a sua história própria. Um pouco de Itabira segue nas fotos abaixo, focadas, claro, no poeta Drummond e na sangria da terra em busca do valioso minério mineiro que sustenta a máquina do mundo (nada a ver com o famoso poema de Drummond, mas não resisti ao trocadilho).

Naturalmente que as fotos não poderiam deixar de vir acompanhadas de alguns poemas do itabirano Drummond, coeçando, claro, com o famoso

confidência do itabirano

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade
[e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e
[sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

carlos drummond de andrade, in 'uma província, esta'


Veja imagens abaixo

itabira: crateras e dejetos


certamente que a dor de Drummond seria muito mais forte, se o
retrato na parede mostrasse as feridas de sua Itabira atual

acima, as crateras abertas em plena cidade; abaixo os dejetos da
mineração, lançados em meio ao verde que ainda resiste





por sensibilidade do artista ou por mera coincidência, ao menos
 o poeta não precisa ficar olhando para a cinzenta úlcera provocada
na  terra itabirana e em outros chãos de minas


fotografais: roberto soares

itabira: uma estrela no quintal


mas nem só de crateras e dejetos vive a cidade;
acima, a casa da fazenda onde nasceu drummond

o sobrado azul é onde morou Drummond

a vizinhança em frente


o quintal, um belo recanto para as primeiras criações poéticas



uma estrela no quintal, regsitrada no poema abaixo



fotografias: roberto soares

soneto da perdida esperança

Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.

Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa

com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.

carlos drummond de andrade, in 'um eu todo retorcido'

e agora josé?

e agora, José?
a festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?

está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?

e agora, José ?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?

com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?

se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
mas você não morre,
você é duro, José !

sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?

carlos drummond de andrade,  'um eu todo retorcido'

consolo na praia

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

carlos drummond de andrade, in 'um eu todo retorcido'

06/05/2010

a terra sangra no mar


Algumas perguntinhas.
A razão e a técnica humanas podem de fato resolver todos os problemas, principalmente aqueles criados por elas próprias?

E se a técnica humana não conseguir tapar o buraco por onde jorram diariamente milhares de barris de petróleo a mancharem o mar e a assassinar a vida marinha e costeira?

A terra irá sangrar por quanto tempo, nesse caso? Por quanto tempo a terra se verá obrigada a sujar e sufocar o pujante mas indefeso irmão mar?

Que ao menos essas manchas sirvam como alerta. Não um alerta àqueles que promovem o uso indiscriminado da técnica e  se beneficiam do poder que ela confere.
Não, seria ingênuo e contraditório esperar sensibilidade e conscientização daqueles que foram forjados exatamente para a tarefa de agredir, dominar e usufruir sem critérios e sem comedimento. Enquanto detentores de tal tarefa, é-lhes vedada a possibilidade de encontrar um outro sentido para seu existir.

Mas que essas manchas sirvam como um alerta aos que acreditam que o mundo pode e deve ser diferente do que é. Um alerta de que a agressão e a intervenção humanas, no seio da Terra, já passaram definitivamente dos limites, e que a resposta da Terra certamente virá nas mesmas proporções.

Um alerta a nos lembrar que cabe a nós - e não aos agressores e aos seus apáticos agregados - lutar para que a Terra não lance mão de suas mortíferas armas contra todos nós. A Terra certamente não nos quer como inimigos, ela nos quer como companheiros na vasta, gratificante e enigmática jornada através dos séculos e do Cosmos.

Um alerta a nos lembrar que está na hora de decidir qual escolha fazer em relação àquele outro alerta, bradado pelo profético Marx há quase duzentos anos: Socialismo ou Barbárie!







As fotografiass acima se referem ao vazamento de petróleo no mar, ocorrido agora em abril, devido à explosão e afundamento de uma plataforma da empres BP, no Golfo do México. As fotografias foram extraídas do Yahoo e da Folha Online.

vídeos - llanto del olvido e américa 4


Duas canções da Latinoamérica



É uma bela canção, que fala de perdas e da fatalidade da morte, e também de exílio e distância, de solidão e remorso.

Disseram-me que a letra remete à dura e solitária trajetória de um filho que emigra em busca da sobrevivência, da conquista de seu próprio espaço ou da simples aventura de lançar-se no mundo, e que depois retorna à terra natal, atrás de um impossível reencontro com a mãe que já não vive mais.

É uma comovente amostra da densidade e profundidade típicas das letras e melodias que fazem a diferença da cultura andina.

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O outro vídeo retrata é uma apresentação do Grupo América 4.
O América 4 tem pesquisado muito o Floclore no ES, e dessa trajetória brotou a  integração dos Tambores de Congo com os instrumentos Andinos, buscando uma resistência cultural.



Tobi Gil (Bolivia), Zamponha, Quena e Voz
César Rebechi (Argentina) - Guitarra, Violão, Charango e voz
Rogerio Pardal (Brasil) - Baixo
Marcos Coelho (Brasil) - Bateria

CD Tambores de Congo - 1998, gravado na Barra do Jucu, em Vila Velha, ES.
Produção independente.

video - a gaivota

Eis uma criativa e tocante performance de Nei Matogrosso, interpretando a não menos tocante ‘Gaivota”, de Gilberto Gil. Um casamento perfeito entre melodia, letra e intérprete. Coisas que a gente via com uma certa freqüência nos idos de 80, 70.

A canção e a performance pedem que seja publicada a letra. Afinal, trata-se verdadeiramente de poesia, de poesia viva e principalmente despretensiosa - uma poesia e uma beleza que se bastam.




a gaivota

Gaivota menina
De asas paradas
Voando no sonho
De águas da lagoa
Gaivota querida
Voa numa boa
Que o vento segura
Voa numa boa

Gaivota na ilha
Sem noção da milha
Ficou longe a terra
Gaivota menina
Gaivota querida
Voa numa boa
Que o alento segura
Voa numa boa

Gaivota, te amo e gaivotaria sempre em ti
Gaivotar seria poder te eleger para mim
Eu te quero, e se fosse o caso, quereria mais ainda
Ser, eu mesmo, gaivota sobre mim
Sobrevoar meus temores, meus amores
E alcançar o alto, alto, o mais alto dos teus sonhos
Dos teus sonhos de subir

De subir aos ares
Gaivota querida
Gaivota menina
Pousa perto de mim

gilberto gil

05/05/2010

rebelião na grécia 8


Povos da Europa, levantem-se!!!
(KKE - Partido Comunista da Grécia)

Finalmente as revoltas do povo grego ocupam os espaços da  grande mídia internacional!
A fotografia acima ilustra bem o ousado horizonte desse admirável levante do povo grego.
Claro que os desavisados certamente comprarão a versão da grande mídia, aquela que vê os acontecimentos na Grécia como meros distúrbios provocados pela insatisfação do povo com as medidadas antipopulares, mas absolutamente necessárias, que o governo grego teve que tomar, para poder receber a tão necessária ajuda do FMI e da União Européia.

Ou seja, o arrocho e austeridade de hoje são apenas uma consequência da negligência e do afrouxamento praticados pelos governos gregos depois que foram aceitos pela UE, a fomaosa Zona do Euro. Ou seja, caberia ao povo grego aceitar agora os sacrifícios que não foram feitos pelo país no passado. E ainda agradecer à compreensão e disposição dos demais países da Europa, Alemanha e França à frente.

Assim,  a visão dessa mídia é a de que, mais cedo ou mais tarde, os gregos tomarão juízo e deixarão de lado essas impatrióticas e perigosas manifestações.

Duas inverdades nessa leitura.

Priemeira: a crise grega é muito mais complexa do que um descuido com as contas por parte do governo. Ela envolve todo o sistema financeiro internacional e principalmente da Zona do Euro. Os textos indicados ao fim dessa matéria dão uma idéia da complexidade do problema, e de como a Grécia  e outros países mais frágeis da Europa têm servido aos interesses financeiros de países mais ricos, notadamente os interesses da França e da Alemanha. Pela leitura, poder-se-á perceber o quanto aquilo que acontece na Grécia poderá perturbar as estruturas moribundas do capitalismo financeiro internacional. 
  
Segunda: as manifestações populares vêm acontecendo na Grécia desde dezembro de 2008,  que Desvelar já vem divulgando desde março 2009, com o texto rebelião na grécia I. E, claro, elas têm um caráter que vai muito além de uam insatisfação momentânea da população com o descaramento de seus governantes em promover uma piora das ocndições de vida da população, para salvaguardar o sistema financeiro internacional.

As manifestaçãoes têm um declarado caráter de rebelião, de enfrentamente da ordem estabelecida no seu todo. O que os manifestantes - na sua maioria, anarquistas e comunistas - almejam é extamenete a derrubada do modelo capitalista na Grécia e sua substituição por uma organização política de caráter popular, libertário e efetivamente democrático, no sentido de democraiai direta, claro.

O fato de essa rebelião - que se prolonga já por dois anos, de forma extremamente sistemática e combativa - acontecer num país da Europa, e da Zona do Euro, não é pouca coisa. Sinaliza que algo de novo pode estar brotando na velha Europa, e exatamente num dos berços da civilização ocidental. Precisamos estar atentos, prinicpalmente a esquerda latinoamericana, que é aquela que mais alternativas ao neoliberalismo e  mais transformaçaões concretas tem promovido hoje no mundo.

A lucidez e o respeito às tradiçoes revolucionárias da Europa aconselha que a nossa esquerda  não veja os acontecimentos da Europa apenas como algo passageiro, nem tampouco como revolta desorganizada e ineficiente, promovida por supostos e utópicos grupelhos anarquistas, apoiados por uma entediada juventude européia.

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A título de conhecimento dos objetivos do movimento,  leiamos um texto, a  Convocatória Libertária, divulgado pelo movimento libertário europeu e já publicado aqui no Desvelar, lá em fevereiro de 2009

terremoto capixaba

Na quarta-feira passada, 28 de abril, o mundo político e os eleitores do Espírito Santo foram sacudidos pelo anúncio de que Ricardo Ferraço (PMDB) não seria mais candidato a governador.

Obviamente que o governador Paulo Hartung, também do PMDB, vem tentando passar a versão de que foi dele a iniciativa de propor a troca do nome de Ferraço pelo apoio à candidatura do senador Renato Casagrande, em nome de suposta unidade política para o bem do Espírito Santo. Mas ninguém precisa ser filiado a partido político para saber que toda a surpreendente mudança passou por Brasília.A desistência de Hartung em lançar Ferraço teria sido uma determinação da direção nacional do PMDB e do PT, e do próprio presidente Lula, como forma de compensação para que o PSB impedisse a candidatura presidencial de Ciro Gomes.

Todas essas articulações estão muito bem registradas e analisadas nas matérias relacionadas abaixo, todos publicadas pelo site Século Diário.
Aliás, registre-se mais uma vez a extrema seriedade e autonomia com que o Século Diário vem cobrindo não apenas a vida política do Espírito Santo, mas também os bastidores do Ministério Público, do Tribunal de Contas e do Poder Judiciário, esse último ainda sob cerrada vigilância do Conselho Nacional de Justiça, após a deflagração da Operação Naufrágio.

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O que importa aqui é registrar o histórico momento em que a realidade política do Espírito Santo deixou de ser conduzida por um só homem, o governador Paulo Hartung.

Nada contra determinado político exercer sua extrema habilidade para aglutinar em torno de um projeto político a quase totalidade das forças políticas de determinada cidade, estado ou país. Paulo Hartung foi um dos que durante um certo tempo conseguiu essa proeza - um verdadeiro mestre da política, às vezes quase superando até mesmo a tão decantada habilidade dos políticos mineiros.

O problema é quando essa habilidade política passa a se tornar um fim em si mesma, e tal como um câncer começa a corroer a vida política, econômica e social do Estado. Foi também o que aconteceu com Hartung e o Espírito Santo.
O editorial Caiu o Império, linkado abaixo, traz uma análise bastante pertinente de toda essa concentração de poderes e do melancólico declínio de seu mentor, o ‘imperial’ Paulo Hartung.

Aqui, citamos apenas uma das consequências nefastas da apropriação das forças políticas e das instituições por Hartung: a situação de barbárie em que se encontra os sistema prisional do Espírito Santo (mais detalhes nos textos horrores do espírito santo e na vídeo-reportagem da tv record presídios: longe da dignidade.

De resto, que seja benvindo e duradouro o retorno da pluralidade política ao Espírito Santo. E que ele também ocorra no resto do país. Afinal, a impressão que se tem é que já não há mais diferença de projetos políticos, já não mais confronto de interesses, já não há mais luta de classes, quando se tenta juntar, como aconteceu aqui no ES, numa mesma coligação eleitoral forças políticas absolutamente opostas como Élcio Álvares (DEM), ex-governador do ES, imposto pela ditadura militar de triste memória, e a combativa defensora dos direitos humanos e deputada federal Iriny Lopes, do PT. O eleitor se sente fraudado.

Na verdade, situações assim só fazem acelerar o desgaste da chamada democracia representativa, preparando o terreno para sua gradual substituição pela democracia direta, popular e participativa.
Mas enquanto a democracia direta não vem, façamos coro com o Século Diário, no editorial acima citado, e saudemos ao menos o retorno da pluralidade política à democracia burguesa do ES. Afinal, pelo menos no quesito emoção a política local ganhou pontos.

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Leia também

caiu o império
a grande derrota
a democracia agradece

Como dito acima, são textos publicados pelo site Século Diário. Quem quiser também se informar sobre o escândalo do Judiciário Capixaba, trazido à tona pela Operação naufrágio em 2008, e que cuminou inlcusive na vergonhosa prisão do presidente do TJES, vá ao site, clique em Arquivos e comece a procura pelos meses de dezembro 2008 ou janeiro 2009.
Dos veículos de imprensa mais estruturados  no ES, é o único  que faz uma cobertura realmente confiável, autònoma e corajosa deste e de outros assuntos.

vídeos - política capixaba

Dois interessantes vídeos acerca da questão social e política do Espírito Santo.
O primeiro é um pronunciamento incisivo e de certa forma profético, feito pelo deputado Capitão Assunção, do PSB, aliás, o mesmo aprtido do senador e candidato a governador  Renato Casagrande, pivô do inferno astral em que vive Paulo Hartung.
O segundo vídeo é uma sátira extremamente oportuna e irreverente, feita a partir de cenas do filme "A queda", que retrata o final da trajetória de Hitler.

04/05/2010

vídeo: invasão tv grega



Esse video retrata a invaão da radiotelevisão mantida pelo governo da Grécia. A invasão aconteceu em Atenas, ontem (segunda-feira) e foi promovida por professores do ensino secundário. Durante a ocupação houve enfrentamento com forças policiais, que foram vencidas. Logo depois, os professores leram um comunicado durante um jornal da emissora, que estava no ar exatamente naquele momento e que foi interrompido pelos manifestantes. Um viva aos combativos professores da Grécia!

baía azul dourada...

Essa seqüência de fotos oferece-nos uma ampla visão da Baía de Vitória, em todo o esplendor de uma manhã de outono: a Terceira Ponte bem ao fundo, quase sumindo na vastidão do Atlântico, o casario em telhado colonial do clube Saldanha da Gama, as ilhotas, os navios flutuando num merecido descanso, após atravessar o mítico Oceano com suas mil travessuras, a simpática corcova do Morro do Penedo a se bronzear no azul e a banhar os pés em cálidas ondas.


Mas há uma mancha na paisagem - mancha provocada pela ação humana. Embora ajudando a compor o belo quadro de azul e mar e sol e agradáveis arquiteturas, o sisudo mas simpático prédio à esquerda, com sua miríade de janelas, plantado no verde da encosta litorânea, guarda uma história triste, macabra até. Os seus aposentos interiores não condizem com sua imponente mas relaxante aparência externa.

Lá dentro pode até haver relaxamento, gratidão para com a vida e até mesmo os êxtases próprios de quem se percebe presente a uma manhã azul-dourada assim.

Mas com certeza são sentimentos incompletos, sufocados, contaminados por tristeza ou ódio, mágoa ou desespero, remorso ou perplexidade. São alegrias e emoções encarceradas, pois esse belo prédio antigo abriga exatamente uma prisão, a famosa Casa de Detenção de Vila Velha.


casa de detenção de vila velha, es

...e uma gaiola

nem tão dourada

casa de detenção de vila velha, hoje uma gaiola humana...
 
Através de uma matéria da Rede Record (veja aqui o vídeo)   o Brasil inteiro teve a oportunidade de saber o que se passa no interior dessa e de outras prisões capixabas - ou masmorras capixabas, como preferiu o jornalista Elio Gaspari, em artigo publicado em 07 de março e divulgado à exaustão na grande mídia, e também aqui no Desvelar. 

Imagine que, dentro desse aprazível prédio, você irá ficar trancado numa cela, um pouco maior ou menor do que a sala de sua casa, em companhia de 30, 40 ou 50 pessoas. Além de terem que ficar juntos o dia inteiro, vocês ainda teriam que se revezar durante a noite para poderem dormir. No escasso espaço não há como todos se deitar e ao mesmo, tempo, mesmo que com o corpo encolhido. Então uns dormem, enquanto outros aguardam a sua vez, ou dormem em pé.

Mas você não irá passar apenas uma noite ou um dia, ou uma semana, nesse ambiente sufocante e sim meses, anos.

O almoço é trazido em baldes, que são colocados próximos às grades. Alguns presos se abaixam e com uma vasilha vão tirando a comida dos baldes, passando-a entre as grades e servindo-a para os outros presos em marmitas, latas, pratos. Os que estão mais ao fundo ficam sem comer, quando não dá para todo mundo.

Sobre tomar banho e fazer as necessidades não é preciso comentar, basta imaginar que existe um vaso e um chuveiro para atender a 50 pessoas.

Afora os horários dos banhos de sol e os dias de visitas, os presos passam o dia inteiro comprimidos nessas celas apertadas e opressivas.

Até aí nada de novo, nada que se diferencie muito da maioria das cadeias e presídios existentes Brasil afora. A lista de constrangimentos, humilhações e punições poderia se estender, mas não é objetivo deste texto retratar o que foi exaustivamente mostrado nas imagens da TV Record.

Talvez se devesse lembrar aqui o macabro dado que diferencia alguns presídios capixabas de seus congêneres país afora: o esquartejamento de presos. Mas afora esse elemento de crueldade, o essencial não é novidade, afinal ouvimos com freqüência relatos de assassinatos e execuções dentro de presídios.

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O que se quer registrar aqui, tomando como base o horror dos presídios capixabas, é a extrema naturalidade com que todos nos conformamos com a existência de lugares como cadeias, presídios, prisões, cárceres etc. Tudo se passa como se nada do que foi narrado acima acontecesse de verdade, como se não ocorresse próximo ou mesmo dentro de nossas cidades, como se dissesse respeito a um outro mundo.

Na realidade, o poder constituído trabalha com a tendência que temos em nos omitir, em não querer tomar conhecimento do que se pratica dentro desses lugares. Cá fora, a vida já é por demais dura e angustiante, para ainda termos que nos ocupar ou nos lamentar por aqueles que, de uma forma ou de outra, teriam cavado sua própria sorte, ou seu próprio buraco.

A sorte, ou o inferno, dos que por lá permanecem, costuma ser ignorada até mesmo por aqueles setores mais sensíveis aos dramas humanos, como militantes de esquerda, artistas em geral, religiosos, com exceção de pessoas e entidades de direitos diretamente ligadas ao cotidiano da chamada população carcerária.

Essa ignorância ou indiferença faz bem aos dois lados: do lado de cá evita que nos envolvamos e nos sobrecarreguemos com mais uma das abomináveis contradições do mundo que nos cerca e ao qual aderimos, e do lado do poder permite que o Estado e os seus agentes fiquem à vontade para administrarem a seu modo o inferno das prisões - um modo no mais das vezes brutal, despreparado e rancoroso.

Afinal, esses agentes estão frente a frente com aqueles que, por um motivo ou outro, romperam as normas mais elementares de convívio entre seres humanos, através de violências várias: roubos, agressões, estupros, assassinatos etc. E é uma convivência dura, feita de ameaças, tensões, atritos constantes. A consequência lógica é que esses agentes incorporem em si o papel de juízes e carrascos no seu cotidiano, já que estão fora do alcance da chamada sociedade, que prefere não se envolver.

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O círculo de horrores forjado pelo poder é então perfeito: nas contradições do modelo econômico brotam condições para o aparecimento de excluídos e criminosos, isolam-se esses criminosos da sociedade, contrata-se agentes para cuidar desses presos, esses agentes podem tornar-se tão brutais quanto os presos, quando não são executados ou mortos por doenças, criminosos são soltos depois de um certo tempo e, finalmente, os punidos retornam ao caminho do crime, ou porque o modelo econômico não incentiva, ou não permite, que a chamada sociedade lhes dê acolhida a esses punidos, ou porque a prisão já lhes tirou toda e qualquer possibilidade se redimirem, de lutarem por uma nova acolhida. E aí o círculo recomeça, mais desesperador e mais raivoso ainda.

E nesses tempos de barbárie, quando é cada vez maior o número de cidadãos assustados e idiotizados pela mídia - com seu bombardeio consumista e individualista - o problema se agrava mais ainda. É extremamente fácil para o poder de estado manipular a massa assustada, fazendo com que além de ficar indiferente aos horrores das prisões, essa mesma massa concorde com o extermínio silencioso dos chamados ‘criminosos’. Alimentada pela sua ração diária de medo, individualismo, consumismo e preguiça, a massa acredita sinceramente que a solução da violência passe pelo puro e simples extermínio.

Ainda ousamos nos declarar civilizados mais civilizados do que os inúmeros povos que se forjaram longe dos valores do Ocidente?

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Claro que esse eficientíssimo círculo não será quebrado de um dia para o outro, sequer de uma década para outra. Uma solução, senão definitiva, mas ao menos mais humanizadora, evidentemente terá que esperar pela transformação radical das estruturas sociais e econômicas.

De qualquer forma, talvez fosse interessante levar um pouco mais a sério as propostas do movimento anarquista que pregam o chamado Aboliconimso Penal, que seria, num conceito resumido,  a eliminação do poder de estado para punir e prender.

Claro que há muito de utopia e de ingenuidade nessa proposta. Afinal, para se construir uma sociedadede sem punição e sem prisões, teremos que primeiro extirpar ao máximo as condições que levam ao aparecimento dos chamados criminosos.  E para isso, obviamente temos que primeiro destruir as atuais estruturas sociais e econômicas e forjar um novo modelo de convivência entre as pessoas, que não seja alimentado pela (e nem aliemente) competição, individualismo, isolamento, medo, indiferença, cansaço, descrença, omissão.

De qualquer forma, e sem pretender esgotar em tão poucas palavras o complexo tema do Abolicionismo Penal, o horizonte de uma sociedade sem punidos e punidores deve  ao menos guiar o nosso olhar - mesmo que seja somente para compreendermos o quanto o modelo capitalista ainda nos mantém longe de nosso tão pretendido grau de civilização superior, efetivamente humanizada e humanizadora.

Guiar o nosso olhar, mesmo que seja somente para que um dia não precisemos olhar com tanta cautela para uma imagem como a da casa de Detenção de Vila Velha.

Para que um dia possamos de fato olhar e saber que o que vemos é apenas a beleza e a harmonia de uma bela e imponente peça arquitêtonica, deixada como herança por nossos antepassados, num determinado momento da atribulada e contraditória jornada humana.

Para que um dia possamos olhar essa poesia e harmonia junto com pessoas que não estarão mais lá dentro a apodrecer o corpo e  alma em gaiolas e sim livres e crentes em meio a quentes manhãs azuis e douradas.


...no futuro apenas um lugar bonito de se olhar