25/06/2009

se cada dia cai

se cada dia cai
dentro de cada noite
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se
na beira do poço da sombra
e pescar a luz caída
com paciência.

Pablo Neruda

o 'dia de bloom' em vitória

Cláudia Coser, Wilson Coêlho, Rosane Morais e Gilbert Chaudanne
Vitória teve, pela primeira vez, o seu ‘Bloomsday’, ou ‘Dia de Bloom’. Foi realizado na FAFI, no dia 16 de junho, numa iniciativa conjunta da ‘Psicanálise e Cultura’ e da Escola de Teatro e Dança FAFI. Para quem ainda não ouviu falar do ‘Bloomsday’ reproduz-se, ao final, um pouco do material de divulgação.
Na programação houve a exibição do filme ‘Bloom', de Sean Walsh, 2003, duração de 113 minutos. O filme, obviamente, é inspirado na nunca suficientemente elogiada obra do irlandês James Joyce, e trata da famosa história que se passa no dia 16 de junho de 1904.
Depois aconteceu uma conversa em torno do tema “Joyce, Psicanálise, Literatura, Cinema” com a participação do público e de Wilson Coêlho, Gilbert Chaudanne, Cláudia Coser e Rosane Morais.Entre vários outros, foram abordados os seguintes temas: o paralelo entre as peripécias do judeu errante (representado por Bloom) e de Ulisses (o herói da ‘Odisséia’, de Homero); as ruas de Dublin como o labirinto do qual o herói Bloom/Ulisses tem que escapar; os momentos delirantes/carnavalescos presentes no livro, o contraste entre os heróis da ‘Odisséia’ e do ‘Ulisses’; visões da Psicanálise acerca do ‘Ulisses’ e do próprio Joyce.

Ao final, sugeri aos organizadores alguns temas para o Bloomsday dos próximos anos: a relação de Beckett com Joyce e as influências deste último sobre Beckett, as semelhanças e diferenças entre Joyce e o mineiro Guimarães Rosa, e uma suposta afinidade entre Brasil e Irlanda, como a carnavalização e o catolicismo arraigado.

Parabéns aso organizadores e que o 'Bloomsday' de Vitória continue de fato nos próximos anos. É o que com certeza esperam os leitores de Joyce presentes nesse primeiro evento.

Extraído do material de divulgação: “O 'Bloomsday' é um feriado comemorado no dia 16 de junho na Irlanda. É o único feriado em todo o mundo dedicado a um livro, excetuando-se a Bíblia. Também é comemorado todos os anos em vários lugares e em várias línguas. Em comum entre os muitos entusiastas e simpatizantes envolvidos nestas comemorações há o esforço por relembrar os acontecimentos vividos pelo personagem Leopold Bloom, durante 16 horas do dia 16 de junho de 1904 pelas dezenove ruas da cidade de Dublin.”

um presente : bloom, o filme

Quanto ao filme de Sean Walsh, 'Bloom', há a predominância de uma atmosfera subjetivista, mesclada com uma certa melancolia; e aí perde-se bastante da vivacidade, da inquietude e da sensualidade que, no livro, brota não apenas das pessoas mas das próprias coisas - do mar, do céu, das casas, das ruas, principalmente das ruas. Mas é como se o diretor tivesse se visto no dilema de escolher entre essa vivacidade das ruas, expressa nos diálogos e nas descrições, e a delicadeza das pessoas e das coisas, expressa principalmente nos monólogos.
Enfim, se já é extremamente difícil transpor o universo de qualquer obra literária para a linguagem do cinema, com competência e sensibilidade, seria pedir demais que Sean Walsh desse conta das inúmeras facetas do ‘Ulisses’. Na verdade, o simples fato do diretor ter encarado o desafio já o tornaria merecedor do respeito de escritores e leitores de Joyce.
Mas ele merece mais, também os nossos aplausos, pois cumpriu o desafio com a devida competência, sensibilidade - e com a mais completa ausência de ‘invenções’ presunçosas e cansativas, como muitas vezes acontece nessas tentativas de diálogo literatura/cinema.
Destaque para a cena final, a do famoso monólogo de Molly: houve uma total fusão entre as imagens, luzes e sons da cena filme com o fluxo de consciência da personagem magistralmente descrito no livro (do qual publicamos também um trecho em ‘a odisséia de Joyce’); Sean Walsh soube captar toda a rica mistura de erotismo, desejo, nostalgia, ironia, dúvidas e interrogações que estão na fala da esposa de Bloom, que acorda no meio da noite ao ter o sono interrompido pela chegada de Bloom em casa, após o seu demorado cortejo de mais um dia pelas ruas de Dublin e da existência.
Vale também registrar que os atores que interpretam Bloom e Molly foram muito bem escolhidos, interpretação equilibrada, fluida, mas vivaz e rica em nuances quando assim exigido; além da competência como atriz, com certeza a aparência física da atriz Angeline Ball colabora para que ela transmita ao espectador/leitor aquela mistura de luxúria e simplicidade, aquela sensualidade inocente, livre do peso do ‘pecado’, característica da esposa de Bloom. Leve ressalva talvez para o ator que representa Stephen Dedalus, não propriamente com relação à sua atuação, mas pela escolha do ator: muito jovem, mais para estudante ou adolescente do que para jovem escritor em difícil e impetuoso processo de buscas e descobertas. Talvez o personagem Dedalus devesse ter ‘aparecido’ mais no filme.
De qualquer forma, para quem gosta de Joyce, o filme é um delicado e vivo presente. Se os nossos desejos pudessem se tornar realidade, bem que Walsh poderia fazer um ou mais filmes sobre a mesma obra, abordando outras cenas, experimentando outras atmosferas, enfatizando um pouco mais Stephen ou Molly, ou outro personagem - de preferência com os mesmos atores, principalmente a que representa Molly. Afinal, se há na cultura do Ocidente obras que mereçam continuações e releituras o ‘Ulisses’ com certeza é uma delas. E com certeza Sean Walsh saberia nos dar outro presente.
Nota: Stephen Dedalus, Molly Bloom e Leopold Bloom, interpretados, respectivamente, por Hugh O'Conor, Angeline Ball e Stephen Rea. Leia ainda: as odisséias de joyce
Roberto Soares Coelho

as odisséias de joyce

Movido pela realização do primeiro ‘Bloomsday’ de Vitória, Desvelar publica abaixo alguns trechos do ‘Ulisses’, obra de James Joyce que inspira em todo o mundo o ‘Dia de Bloom’.
De toda a história da literatura, essa obra é sem dúvida a mais complexa, ambiciosa e a mais bem sucedida em seus objetivos. É uma odisséia, uma narrativa grandiosa, não somente da vida de um homem (Leopold Bloom), mas de certa forma de toda a chamada civilização ocidental.

Quando se diz ‘seus objetivos’ entende-se que há um plano, um projeto. De fato, Joyce não se deixou levar apenas pelo fluxo criativo, ou por uma idéia geral, ao escrever o ‘Ulisses’. Prova disso é a estrutura quase matemática da obra.
O livro é dividido em 18 capítulos, e em cada um deles há a presença, discreta ou explícita, de um elemento ou tema diverso: uma hora do dia, um órgão do corpo, uma cor, um símbolo e, mais fascinante que tudo, uma arte e uma forma de narrativa para cada um dos capítulos.

Joyce passeia por paródias, poemas, sermões farsas, monólogos, ‘falas’ que desnudam consciências ora juvenis ora femininas ora bêbadas. Sem falar, claro, no capítulo final, escrita na narrativa chamada de fluxo de consciência, que Joyce elabora com maestria até hoje inigualada. Aliás, para muitos é certo que a obra de Joyce até hoje não foi superada, principalmente no que diz respeito ao ‘Ulisses’ e ao ‘Finnegan’s Wake’; obra no máximo igualada em muitos aspectos pelo mineiro Guimarães Rosa, principalmente o Rosa épico, poético, cósmico, religioso, metafísico e inventivo de ‘Grande Sertão: veredas’, e o Rosa explorador e radical de ‘Tutaméia’ e de ‘Terceiras estórias’.
Obviamente que tudo isso é apenas uma pálida pincelada acerca da obra do escritor irlandês. Para se ter uma idéia, ‘Ulisses’ são cerca de oitocentas páginas de pura invenção, inquietude, celebração e gozo da palavra. Mas não celebração e invenção em abstrato, feita para escritores e intelectuais; ao contrário, a riqueza e o fascínio de Joyce nessa obra está exatamente em ter logrado, como pouquíssimas vezes se viu na literatura, a perfeita junção entre palavra e vida, entre arte e gente. Da palavra escrita de Joyce, das páginas do livro parece que de fato ‘brotam’ pessoas, olhares, risos, pensamentos, mágoas, dúvidas, ciúmes, alegrias, sonhos, ansiedades.

E tudo acontece em praças, praias, bares, quartos e ruas, principalmente ruas, dá realmente a impressão de acontecer no mundo de ‘verdade’, no mundo no qual o leitor vive. Sim, é uma espécie de realismo, mas de realismo superior, que somente pode ser construído a partir da palavra mágica, singular e potente do escritor Joyce. Essa proximidade com a vida, com as coisas e com as pessoas somente tem paralelo na já citada obra de Guimarães Rosa.

Enfim, é a história de um Ulisses não tão heróico quanto o da ‘Odisséia’, um Ulisses moderno, que poderia ser qualquer um de nós, na figura do esquivo e inseguro, malicioso e calculista, sensual e nostálgico Leopold Bloom.
E, como dito acima, alguns estudiosos na sua estrutura, nos seus recursos a linguagens, artes, ciências, ‘Ulisses’ também pode ser lido como uma narrativa, uma pequena e discreta epopéia de toda a complexa trajetória da civilização com todo o que ela tem de fascinante e de contraditório, de celebração e de lamento. Na verdade, essa gigantesca tentativa de epopéia da história da humana parece que James Joyce busca construí-la na sua outra obra radical, o ‘Finnegans Wake’ (a qual infelizmente ainda não me dispus a ler), que embora seja de complexa dificuldade em termos de tradução, vem sendo editada em outras línguas - para se ter uma idéia, aqui no Brasil somente foi publicada em 2000, na certamente corajosa tradução de Donaldo Schules.
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Os trechos do ‘Ulisses’, abaixo publicados, referem-se ao passeio que Bloom faz por uma das praias de Dublin, ao entardecer; em meio às suas cismas, dúvidas e projetos para a noite, ele observa um grupo composto por duas jovens e crianças.

A arte relacionada ao capítulo é a pintura, o símbolo é uma virgem, os órgãos são o olho e o nariz e a técnica narrativa é a tumescência/detumescência.

Embora apenas dêem uma vaga idéia do capítulo (no total são umas sessenta páginas) registre-se a mudança na técnica de narração: até mais ou menos a metade do capítulo é uma fala delicada, poética, satírica apenas na aparência (uma narrativa que, ao menos na aparência, procura descrever ou comungar com o mundo de garotas, ou mais especificamente, de uma garota virgem). Depois a fala subitamente transforma-se: é agora mais pausada, menos afetada emasi masculinizada, incisiva. É Bloom entrando em cena. Até então, a delicada e brincalhona narrativa sequer fazia suspeitar de sua presença, na espreita, a manter com a jovem Getty MacDowell um ambíguo flerte.

Percebe-se, então, porque Joyce denominou de tumescência/detumescência a técnica narrativa por ele utilizada nesse capítulo. Há num primeiro momento todo um entusiasmo, toda uma expectativa de um acontecimento agradável ou revelador, exatamente como a expectativa de uma garota virgem que se sabe observada por um homem que ela entende como experiente e ousado, e a cujos olhares e gestos ela corresponde de maneira ambígua, discreta. Depois há a fala prosaica do homem que a observava e que se excitava com as mãos, ao conseguir que a garota se exibisse discretamente para ele.
A mudança, quase brutal, da fala, ocorre quando a garota se levanta para ir embora e Bloom percebe que ela mancava. Da tumescência, da impetuosidade incial, temos então a detumescência, a frouxidão, não apenas da froma narrativa mas também da masculinidade de Bloom. São centenas de preciosidades assim que fazem Joyce nos fascinar.
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E, claro, não poderia faltar uma pequena amostra do famoso fluxo de consciência de Molly Bloom, que conduz o capítulo final (ver também o final do texto um filme, um presente). Fica para uma próxima oportunidade outros comentários, tanto acerca desse capítulo final, quanto acerca de muitos outros capítulos e situações.
Afinal, ler Joyce é compartilhar de suas odisséias, de suas originalíssimas explorações nos ainda vastos e desafiadores oceanos da palavra. Parodiando Guimarães Rosa ao falar de Minas: ‘Joyce são muitos”.
Roberto Soares Coelho

ulisses - trechos

A tarde de verão começara a envolver o mundo em seu misterioso amplexo. Bem longe no oeste o sol se punha e o último fulgor de um mui fugaz dia apegava-se amorosamente ao mar e areal, no garboso promontório velho e querido de Howth(...)
As três mocinhas amigas estavam sentadas nas rochas, comprazendo-se com a cena vesperal e a atmosfera que era fresca mas não demais friorenta. Muitas e freqüentes vezes soíam elas vir àquele recanto favorito para entreterem conversa aconchegada cerca das ondas faiscantes e discutirem assuntos femininos(...).
Gerty MacDowell, que estava sentada perto das suas companheiras, perdida em pensamentos, contemplando longe nas distâncias, era a bem da verdade um tão bom espécime da atraente mocidade irlandesa quanto se podia desejar ver. (...) Até ali eles tinham apenas trocado olhares dos mais fortuitos mas, agora sob a aba do seu chapéu novo ela aventurava mirá-lo e o rosto que a fitou ali no crepúsculo, lívido e estranhamente contraído, pareceu-lhe o mais triste que jamais ela houvera visto. (...)
Gerty tirou por apenas um instante o chapéu para arranjar a cabeleira e mais bonitinha, mais gostosinha cabeça de tranças castanhas jamais se viu(...) Ela quase podia ver o rápido surto de encantamento correspondente nos olhos dele que a fez formigar em cada nervo. Ela repôs o chapéu de modo que pudesse ver sob as abas e balançava os sapatos(...) Ele a fitava como a serpente fitava a sua presa. Seu instinto de mulher dizia-lhe que ela despertara o diabo nele e a esse pensamento um escarlate candente espalhou-se da garganta à fronte a ponto de a adorável cor de suas faces tornar-se uma rosa esplendente. (...)
Os olhos que estavam cravados nela faziam sua pulsação retinir. Ela fitou-o por um instante, acolhendo-lhe o olhar, e uma luz irrompeu nela. Paixão ardente havia naquele rosto, paixão silente como um túmulo, e esta a fazia dele. Por fim, eles haviam sido deixados a sós sem os outros a se intrometerem e a fazerem observações e ela compreendeu que podia confiar até a morte nele(...) As mãos e o rosto dele contraíram-se e um tremor se apoderava dela. Ela inclinou-se bem para trás ao olhar para cima e não havia ninguém para ver a não ser ele e ela quando ela revelou as graciosas pernas todas belamente feiçoadas assim, suavemente flexíveis e delicadamente torneadas, e ela lhe parecia ouvir o arquejo do coração dele, pois ela sabia da paixão de homem como aquele, sanguiardente(...)
E então um foguete disparou e estrondeou em estampido cego e oh! Então a vela romana encandeou e era como se um suspiro de oh! e todos gritaram oh! oh! em êxtases e ele golfou de si uma torrente em chuva de caracóis de cabelos dourados e eram todos verdes estrelas rociadas caindo douradas, oh, tão vívidas, oh, tão boas, doces, boas!(...) .
Ele estava inclinado contra a rocha de trás. Leopold Bloom (pois que era ele) mantém-se silencioso, a cabeça baixada ante aqueles olhos impérfidos. Mas que cruel havia sido! Às voltas de novo? Uma bela alma pura o chamara e miserável que era, como lhe respondera? Um grosseirão consumado é que fora. Ele dentre todos os homens! Mas havia uma infinita reserva de piedade naqueles olhos, para ele também uma palavra de perdão embora ele tivesse pecado e errado e desgarrado. Deveria uma moça confessar? Não, mil vezes não. Esse lhes era o seu segredo, só deles, sós no crepúsculo esconso e ninguém havia para saber ou dizer salvo o morceguinho que voava tão manso pela tarde aqui e ali e os morceguinhos não falam. (...) Páginas 398-422.
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A partir daqui, há a mudança da fala, a reversão da tumescência para a detumescência, sinalizada pelo gozo de Bloom e pela partida de Getty.
Sapatos apertados? Não. Ela é coxa! Oh!
O senhor Bloom olhava para ela no que ia manquejando. Pobre moça! Lá estava por que havia sido deixada de molho e os outros davam aquela disparada. Entendi que alguma coisa estava errada pelo jeito da pinta dela. Beleza escorraçada. Um defeito é dez vezes pior numa mulher. Mas as faz polidas. Contente de não ter notado enquanto ela estava à mostra. Diabinho esquentado apesar de tudo. Perto das regras, creio, faz sentirem comichõezinhas. Que dor de cabeça que tenho hoje. Onde é que pus a carta? (...)
As virgens ficam malucas ao cabo, eu suponho. Minha irmã? Quantas mulheres em Dublin estão com aquilo hoje? Martha, ela. Alguma coisa no ar. È a lua. Mas então porque todas as mulheres não ficam menstruadas ao mesmo tempo, com a mesma lua quero dizer? Depende do tempo em que nasceram, suponho. Ou todas dão a arrancada juntas e depois ficam para trás. Às vezes Molly e Milly juntas. De todos os modos tirei a melhor disso. (...) Não olhou para trás quando se foi praia abaixo. Não queria dar uma satisfação. Essas garotas brejeiras, essas garotas, essas garotas da praia. Belos olhos que tinha, claros. É o branco dos olhos que dá realce, não tanto a pupila. Entendeu ela que eu? Claro. Como um gato a salvo de salto de cachorro. (...)
Elas são todas olhos. Procuram sob a cama pelo que as chama. Ansiando levar o susto de suas vidas. Agudas como agulhas é que são. Quando eu disse a Molly que o homem da esquina da Cuffe era bonitão, pensando que ela ia gostar, ela já tinha pescado que ele tinha um braço postiço. Tinha mesmo. De onde lhes vem isso? (...) Páginas 423-427.
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Aqui, os trechos do monólogo de Molly Bloom.

Sim eu penso que ele tornou eles um pouquinho mais duros chupando eles tanto tempo que ele me fez ficar com sede tetéias é como ele chama eles eu tive de rir sim pelo menos este aqui fica durinho de bico por qualquer coisa eu vou dar um jeito para ele fazer de novo e vou tomar ovos batidos com marsala para fazer eles ficarem cheios para ele como é que é curiosa a maneira que todas essas veias e coisas é feita dois iguais em caso de gêmeos eles são considerados como representantes da beleza colocados em cima como aquelas estátuas no museu fingindo esconder ele com mão dela(...)
Adeus pro meu sono esta noite de todos os modos eu espero que ele não vá se meter com esses medicandos a levarem ele a se desencaminhar imaginando que é moço de novo voltando às quatro da manhã que eram se não era mais ainda assim ele teve bons modos pra não me acordar que é que eles acham pra palrar toda a noite esbanjando dinheiro e ficando cada vez mais bêbados eles bem que podiam beber água e depois lá começa ele a dar ordens à gente para por ovos e chá Findom e torrada quente com manteiga eu suponho que vamos ter ele sentado como o rei da terra bombeando com o cabo da colher pra cima e pra baixo no ovo dele onde é que ele aprendeu foi aprender isso e eu adoro ouvir ele tropeças nos degraus de manhã com as taças chacoalhando na bandeja(...)
Esta droga de cama velha sempre tinindo como o diacho eu creio que se podia escutar a gente até do outro lado do parque até que eu sugeri pra botar o acolchoado com o travesseiro debaixo do meu traseiro eu me pergunto se não é mais bonito de dia eu penso que é mais cômodo eu penso que vou cortar todos esses pelos aí que me escaldam eu podia ficar parecendo uma garota novinha será que ele não ficar de boca aberta na primeira vez quando levantasse minha roupa eu dava tudo pra ver a cara dele(...)

20/06/2009

rebelião na grécia (5) - carta...

Carta de um anarquista na prisão

A carta abaixo, divulgada no blog Grécia Libertária, foi escrita pelo anarquista grego Ilias Nikoláu, encarcerado numa prisão da Grécia. É um desses testemunhos que dispensam muitos comentários; não somente pela coragem, determinação, sensibilidade e lucidez de quem a escreve, mas até mesmo em respeito à sua situação de prisioneiro. Para aqueles que estão até mesmo perdendo a sua liberdade em nome da resitência e de um horizonte completamente diferente para todos nós, para aqueles que estão de fato se cumprindo como profetas de um novo tempo, um silêncio respeitoso às vezes é a melhor homenagem.

Carta do companheiro anarquista Ilias Nikoláu
"Há quase 6 meses estou aqui, nas masmorras da democracia. Uma prisão provocada pelo meu jeito de viver e pelas minhas idéias. Os criadores desta situação são os cães fardados democracia. Os dias, passo-os entre as paredes mudas e miseráveis, os pensamentos vêm e vão, algumas imagens atravessam rápidas a minha cabeça, outras se demoram um pouco mais, mas há também aquelas imagens, memórias e sentimentos que não vão embora nunca, que não são esquecidas e que estão bem enraizadas no coração de minha consciência.
Eles não podem ser dobradas, não podem ser alteradas, não podem ser fragmentadas. São memórias da raiva, são as imagens das chamas e dos ruídos ensurdecedores, sentimentos de amor e de companheirismo, são os momentos e experiências de um modo de vida, que tem como principal objetivo levantar alto a bandeira de uma dignidade indomável.
Tal como escrevi na minha primeira carta, "Eu pertenço ao acampamento dos que são guiados pela dignidade”. Para mim tudo começa e tudo acaba aí. Os projetos, as dificuldades e as prisões são para mim nada mais que sintomas de um estilo de vida saudável. Uma vida que não abaixa sua cabeça, uma vida que não se contenta com o que existe, mas que busca e aspira algo que, infelizmente, parece impossível para a maioria. Mas o impossível não é nada de imaginário, apenas algo que ainda não tentamos, experimentamos.
Claro que os inimigos são muitos. Os mecanismos de Poder e seus seguidores, os seus donos e os seus eleitores, os seus guardiães e defensores. Essas isoladas e desesperadas massas, que se sentem gratas, cada vez que o Poder aumenta as medidas repressivas, e se sentem seguras e aplaudem quando os seus senhores são bem protegidos. À mais miserável sobrevivência chamam de "vida". Uma sobrevivência administrada em doses, uma dignidade perdida debaixo de ordens diretas ou indiretas.
E há a sua famosa democracia, que está se armando e se blindando, que persegue, encarcera e assassina tudo o que lhe é hostil.
Mas a questão para nós não é saber se eles são muitos, se estão organizados e se têm os meios e os métodos para nos vencer. A questão para nós é a de colocar todo o nosso ser na luta. E não se trata de uma luta pacífica por alguns ideais, por um belo mundo ou por uma utopia, mas de uma luta pela dignidade, pela liberdade e pela destruição do Poder.
A nossa existência nós temos que buscá-la, temos que conquistá-la. Não é algo a ser comprado e vendido nas prateleiras dos supermercados ou nas vitrines dos shoppings, com cartões de crédito. Não é algo que abaixa a cabeça e jura em frente da bandeira de alguma nação e em seguida vai guerrear contra outras existências, supostamente inimigas de nossa nação.
Os nossos princípios e as nossas ações nós os definiremos clara e lucidamente, no dia a dia de uma luta difícil. Sejam o que for as histórias que as autoridades inventarem sobre terroristas, encapuzados e ‘agentes’, responderemos que nunca iremos nos submeter à obediência e ao silêncio. Guiados pela dignidade nós nos dirigimos em direção à liberdade."
Saudações Companheiras
Ilias Nikolau, 6 de junho de 2009, da prisão Amfissas
Leia também: dandara: a epopéia continua




dandara: a epopéia continua

Está se consolidando como uma verdadeira epopéia a luta dos moradores que fazem parte da Ocupação Dandara, no bairro Céu Azul, em Belo Horizonte. Na verdade, nada de muito novo: tentativas de despejo, ameaças disfarçadas ou acintosas da polícia, através de batidas visível e desnecessariamente direcionadas para os moradores da Dandara, omissão e indiferença da Prefeitura, cobertura ausente ou tendenciosa da imprensa.
Enfim, o roteiro de sempre. Não há nenhuma surpresa. Afinal, seria esperar demais que magistrados, imprensa, políticos e empresários se comovessem com o drama daqueles que são aos poucos jogados para fora dessa engrenagem irracional que nos aprisiona. Essas pessoas, grupos ou categorias sociais estão cumprindo o seu papel de defender friamente os alicerces da ordem que alimenta e mantém sua posição dentro dessa ordem. Sempre encontrarão argumentos inteligentes e consistentes (do ponto de vista deles, claro) para justificar suas ações ou omissões. Aliás, a imprensa e justiça têm papel fundamental nesse processo de fornecer tais argumentos.
E para os outros, a chamada opinião pública, os que estão dentro da ordem irracional, não há motivos ou estímulos suficientes para se rebelar contra essa mesma ordem. Ainda mais nestes tempos em que o modelo capitalista tem conseguido anestesiar mentes, corações e vontades quase que com perfeição. Mecanismos para essa anestesia não faltam: o medo da violência e da barbárie, as falsas urgências criadas por um consumismo que é a tábua de salvação do capitalismo, a asfixia dos meios de comunicação e da colonização cultural, e por aí afora.
Mas cabe, sim, aos que foram excluídos - até dos menores benefícios dessa ordem - denunciarem com suas ações e suas existências a irracionalidade dessa mesma ordem. Cabe a eles, e não aos que estão anestesiados, cumprirem-se (ou ao menos tentarem cumprir-se) como profetas de um novo tempo. Aqueles que se libertam e aqueles que são excluídos dessa ordem com certeza perdem em benefícios, segurança, sociabilidade e até mesmo um pouco de sua identidade com o coletivo. Mas ganham em lucidez, e ganham também a oportunidade ou a difícil tarefa de insistirem em novos horizontes para o homem no mundo.
Aqueles que se benficiam dessa ordem ou que estão anestesiados por ela sempre se incomodarão com pessoas que insistem em denunciar e convocar para a luta, a transformação, e assim somente podem ver como excêntricas, oportunistas e ultrapassadas ações e palavras que lembrem a fraternidade, a resistência, a dignidade e a amizade para todos. Ser profeta de um novo tempo, na verdade, exige que compreendamos e nos coloquemos acima dessas posturas ora desumanas, ora raivosas, ora apenas conformistas, e acima desses raciocínios e justificativas viciadas, que no mais das vezes sempre vêm acompanhados de argumentos supostamente inteligentes e modernos.
Assim, apesar dos costumeiros obstáculos - e em parte por causa deles - que os integrantes da Ocupação Dandara prossigam nessa tarefa de profetas de um novo tempo. E que encontrem alento na carta do anarquista grego Ilias Nikoláu com seu comovente e indomável testemunho, e que vai publicado também como uma homenagem aos companheiros e companheiras da Dandara.
Quanto às crianças como Pedro e Ananda, mostradas na matéria abaixo, é a luta e a crença de movimentos como o da Ocupação Dandara e de pessoas como o anarquista Ilias Nikoláu, que lhes darão outras possibilidades, para que não tenham que seguir, por exemplo, o caminho dos ‘sinais de trânsito’ e nem o mesmo caminho do garoto do fotopoema café da manhã de domingo (algumas pessoas afirmam que ele foi executado, cerca de três ou quatro anos depois dessa fotografia). Claro que para muitos eese apelo envolvendo crianças não passa de chantagem emocional por parted e líderes oportunistas e espertalhões. Mas não se poderia esperar outros argumentos de mentes e vontades que se encontram anestesiadas e assustadas, mesmo que se trate de pessoas que já chefiaram um Vara de Infância e Juventude... Que fazer, anão ser continuar a tarefa?
Quem quiser saber mais detalhes de como está a atual batalha politica e jurídica pelo terreno ocupado, leia a matéria o desembargador e as crianças ou acesse o blog ocupação dandara.

17/06/2009

flecheira libertária (4)

flecheira - substantivo feminino; pequena abertura nas muralhas, pela qual se lançavam setas contra os inimigos ou sitiantes; frecheira, frecheiro, seteira (dcionário Houaiss)


Flecheira 112, 26 de maio

lata de lixo.
No Espírito Santo, os presos são amontoados em contêineres fétidos, latas de lixo humano, cercados por concertinas. É o horror. As autoridades obstaculizam as visitas de grupos de diretos humanos, alegando "questão de segurança". Mas estes entram e constatam que a comida podre, com "arroz, feijão e algo que parece batata", não é tão ruim diante de tanta imundice. Na revista íntima, mulheres são violentadas por agentes. Os assassinatos são contabilizados como fuga, o desaparecimento de indesejáveis, como na ditadura militar. Não há defensoria pública, somente a seletividade do sistema penal contra pobres, miseráveis, jovens e subversivos. As cercas elétricas e concertinas vão além do visual de campos de concentração: uma criança se corta ao tentar tocar em seu pai.

a lógica da reforma
A crítica que pretende humanizar a prisão-contêiner alimenta a distribuição de verbas e justifica a construção de mais prisões, fazendo a alegria de burocratas que vivem da morte lenta de gente considerada LIXO. Na democracia, representativa e participativa, há a ardilosa capacidade de conformar as pessoas na lógica da formalidade e alimentar esperanças vãs de mudança, respeitando a lei e o procedimento.

abolir
Enquanto existir prisões, de lata, de tijolos ou high-tech, existirá tortura e violência, desaparecimentos e morte lenta, polícia, secretários e burocratas alimentando-se dos corpos de pessoas que não interessam senão como ração de reformas. Para que não exista mais a lata de lixo humana, é preciso que não existam mais prisões.


tire o olho de mim
Num bairro da cidade de São Paulo moradores organizam uma patrulha sob a rubrica de “ vizinho está de olho!” o objetivo é inspecionar a casa e a vida dos outros em busca de inibir a ação de ladrões, por meio da vigilância da própria comunidade. A autoridade aprova, e reitera “ ser copiado por outros bairros” mas relembra que os moradores devem ajudar com informações e evitar qualquer tipo de ação policial. Talvez, perdido em sua própria retórica ele tenha se esquecido que o alcagüeta é aquele que mais deseja ser polícia.

guerras e inimigos nos fluxos
A mais nova guerra dos EUA é contra hackers, espiões e terroristas que transitam nos fluxos computoinformacionais imprescindíveis para o capitalismo e o governo do planeta. As guerras na sociedade de controle ganham novas profundidades que vão dos mega-bytes às vastidões cósmicas, opondo Estados, capitais, fundamentalismos. No entanto, nesses mesmos fluxos outras guerras podem surgir surpreendentes, esguias, imprevisíveis, sabendo que hoje se não se resiste fora dos fluxos, mas neles, afirmando novos costumes liberadores, guerreiros e inimigos das ordens.

“palavras fazem você ver novas terras e com elas estranhas viagens” (samuel beckett).
"Flecheira Libertária" é uma seção do endereço libertário nu-sol. É um espaço de onde são lançadas flechadas certeiras e cortantes contra o senso comum e os mecanismos de domesticação e captura de nossa liberdade. É uma abertura, um buraco nas muralhas da engrenagem e na nossa tendência para a aceitação da ordem, nossa necessidade inconsciente de se entregar a uma visão sempre tranquilizadora do mundo e da história. Flechadas que, geralmente através de um ou dois parágrafos, atingem em cheio o alvo e despertam para o risco de nos aquietarmos nas certezas estabelecidas, mesmo que tenham duramente conquistadas. Mesmo para quem não comunga das propostas anarquistas ou libertárias, vale a pena ao menos acompanhar o ousado e inusitado percurso dessas flechadas. E quem sabe se deixar flechar. Um pouco de lucidez e dúvidas não ferem tanto assim.

o desembargador e as crianças


Estes são Pedro e Amanda. Eles têm 6 e 5 anos. Junto com outros 1 milhão e meio de crianças eles fazem parte das famílias de baixa renda que não tem casa em Minas Gerais. Eles não tem uma casa pois nasceram pobres num país que concentra patrimônio e produção de riqueza. E que nunca fez a Reforma Agrária nem a Reforma Urbana para reverter este quadro.

Pedro e Amanda moram na Ocupação Dandara, junto com outras mil e duzentas crianças. Por decisão individual do desembargador Tarcísio Martins, do TJMG, todos eles serão despejados, e o terreno vai retornar à Construtora Modelo. O terreno tem 400 mil m² e estava abandonado há quarenta anos até chegarem lá o Pedro, a Amanda e seus pais, junto com outras mil e oitenta e seis famílias. A Construtora Modelo deve milhões de reais de impostos sobre o terreno, e é uma empresa conhecida de muitos mutuários lesados com cláusulas abusivas em Belo Horizonte e região metropolitana. Além disso há indícios de que o terreno foi grilado.

Mas o Dr. Tarcísio decidiu assim, por liminar no processo 24.9.545746. E, sem nem abrir a Constituição, que prevê que “a propriedade deverá cumprir a sua função social” ele reverteu sozinho uma decisão de outro desembargador. O que é estranho, pois não é comum isto acontecer. E também porque o Dr. Tarcísio tem um vasto currículo e fez sua carreira na defesa dos direitos dos menores abandonados. Ele tem vários livros publicados e foi muito atuante à frente da Vara de Infância e Juventude.

Porém uma coisa parece que o meritíssimo não aprendeu, nem com todo este estudo. É que não existem direitos nem pessoas em abstrato. É que só existem crianças de rua porque existe concentração de renda e de patrimônio. E sua decisão vai botar mais crianças na rua, e vai também aumentar seu currículo de maneira vexatória.

Pedro e Amanda têm duas possibilidades de futuro neste exato momento.

O futuro que seus pais querem construir na Dandara é de ter uma casinha onde morar e uma fonte de renda que se sustentem em cooperativa com as demais famílias. Também querem estudar, brincar no parque que seria construído na área que eles perderam pela liminar. São muitos os sonhos que não dá para contar aqui.

O que o Dr. Tarcísio e a Construtora Modelo querem é bem fácil de explicar. Na verdade, você já conhece.Basta olhar aí do lado de fora da sua janela, nos sinais de trânsito.
Leia também: a epopéia continua

15/06/2009

assumir a própria ousadia

Algumas lideranças populares entendem que o Plano de Ação do COLEDUC, mencionado na matéria cpv avança com o coleduc, deve priorizar a constituição de Grupos de Trabalho que abordem, entre vários outros, dois temas muito importantes: a mobilização e a divulgação do COLEDUC junto às comunidades. Pois é fundamental que tenha de fato penetração nas comunidades, que ele se apresente para o movimento comunitário. Afinal, já se vão mais de três anos que o projeto foi aprovado e até o momento as comunidades não sabem dizer exatamente o que seja o COLEDUC e a que veio.
E agora que finalmente o projeto tem superado os entraves institucionais e de organização, é preciso começar a se pensar numa forma de atender a essa espécie de ‘demanda reprimida’ das comunidades. Pois embora haja um desconhecimento das propostas integrais do COLEDUC, percebe-se que as comunidades acolhem com interesse e até ansiedade um projeto que fala em “educação ambiental crítica”, “formação de educadores populares”, “sociedades sustentáveis no lugar de desenvolvimento sustentável” etc.
São expressões que seduzem e engajam as lideranças, mesmo que de forma apenas intuitiva.
Por isso é tão importante não se ater tanto a controles pedagógicos, conceituais e muito menos institucionais. É preciso não sufocar a espontaneidade e a criatividade que existe no meio do movimento comunitário. Existem inúmeros PAP3 (ver abaixo explicação sobre PAP3) informais, latentes, que têm inclusive muito a nos ensinar.
E, afinal, um das propostas do ProFea (Programa Nacional de Formação de Educadores Ambientais) não é exatamente a de aprender ensinando, não é a de que os formadores de educadores ambientais aprendam com os seus “alunos”, no nosso caso, aprendam com as lideranças populares e conselheiros locais?
Obviamente que sem desfazer do lúcido e minucioso trabalho teórico, já acumulado pelos técnicos e pesquisadores do ProFea, é preciso estarmos sempre atentos para não sufocar a espontaneidade e a particularidade de cada comunidade.
Por isso, é preciso que não enfiemos essa singularidade e essa espontaneidade em nossas camisas de força, não gastemos excessivamente tempo, energia e expectativas apenas com diretrizes, métodos, projetos, enfim, não nos preocupemos em chegar com ‘receitas’ prontas pra os futuros educadores ambientais populares. Aprender a despertar autonomia no movimento instituinte (o movimento popular) e aprender a dar autonomia.
Assim, o COLEDUC de Vitória estará assumindo e exercendo de fato a sua ousadia e originalidade.
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Aliás, em breve organizaremos nas comunidades do Centro o primeiro Encontro de Educação Ambiental , exatamente com o objetivo de apresentar o COLEDUC às comunidades e de articular melhor o trabalho dos representantes das comunidades nos Conselhos de Escola e nos Conselhos de Saúde.
Na verdade, já começamos um trabalho de integração e conhecimento do território, como pode ser visto na matéria comunidades trilhando.
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SOBRE OS PAP3, resumidamente: o COLEDUC é estruturado de forma a se irradiar por todo o território e seus grupos sociais, atarvés de uma rede de grupos chamados de PAP. PAP significa Pesquisa Ação Participante, ou mais simplesmente, Pessoas que Aprendem Participando. Assim temos:
PAP1 - A Coordenação Nacional do projeto, sediada em Brasília, indicada pelo MMA e MEC.
PAP2 - A coordenação local do projeto, no nosso caso sediada em Vitória, formada por membros do CPV e das secretarias envolvidas no projeto: educação, meio ambiente, saúde, direitos humanos, coordenação política e CDV (Companhia de Desenvolvimento de Vitória). Sua principal tarefa é a de formar educadores populares que comporão os PAP3.
PAP3 - formado por lideranças, moradores, conselheiros das comunidades. Tem como tarefa intervir na comunidade e formar novos educadores ambientais populares, que comporão os PAP4.
PAP4 - formado também por lideranças, moradores, conselheiros das comunidades, também com o objetivo de capacitar politicamente, empoderar e intervir para questionar, transformar, conscientizar, enfrentar.
Registrando ainda que todos os PAPs irão trabalhar, refletir, propor e intervir de forma articulada.
E lembrando sempre que a educação ambiental a ser proposta aos diversos PAPs é de caráter popular, libertário e ampliado, ou seja, não se restringirá apenas ao aspecto preservacionista, de conservação da natureza, mas também se guiará pelo aspecto de entender, transformar, recusar modelos e projetos de desenvolvimento, propor alternativas para que, no lugar de apenas desenvolvimento sustentável, se criem de fato sociedades sustentáveis. E sustentáveis não apenas no sentido econômico e ambiental, mas também cultural, político, afetivo e coletivo.

Leia também: coleduc: primeiro contato

cpv avança com o coleduc


Entidade indica membros para o Conselho Gestor

Em reunião realizada no dia 01/06, O CPV finalmente indicou os 06 membros que comporão o Conselho Gestor do COLEDUC, o qual terá também a presença de 06 membros indicados pelo executivo municipal. Fica, assim, formalizada a parceria entre o poder institucional ou instituído (as secretarias da prefeitura de Vitória, envolvidas no projeto) e o poder instituinte (as lideranças e conselheiros oriundos do movimento popular).
Essa indicação vinha se arrastando há algum tempo, em razão de dificuldades de mobilização das lideranças envolvidas com o COLEDUC, o que inviabilizava até mesmo uma maior reivindicação do poder instituinte em relação à participação do poder institucional. Afinal, se o próprio CPV - que é o órgão proponente do projeto junto ao Ministério do Meio Ambiente - não transmitia a necessária articulação e clareza de objetivos, como esperar um maior compromisso e envolvimento do lado do instituído?
Aliás, junto com essa definição dos membros do Conselho Gestor, os representantes institucionais também solicitam há já algum tempo um Plano de Ação, elaborado com clareza por parte do CPV, para que as reivindicações do COLEDUC possam de fato ser atendidas, tais como equipamemtos, pessoal, formação e transporte de conselheiros e lideranças etc. Apresentar esse Plano de Ação aos representantes da prefeitura deverá ser uma das primeiras responsabilidades dos indicados pelo CPV.
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08/06/2009

a densidade e o silêncio...

...sobem ao palco
cena 03 - decifra- me ou te devoro, intérprete Vinicius Cavatti
cena 04 - desenvolto, intérprete Wederson Fernandes
cena 05 - jirah, intérprete André Messias
fotografias de Carlos Antolini
As fotografias acima são do "Cosmogonos" e escrevi o texto abaixo em 2007, por ocasião da apresentação do trabalho , no Teatro Carlos Gomes, em Vitória; portanto bem antes de começar a editar este blogue. 
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Cosmogonos”, o trabalho mais recente de Paulo Fernandes, confirma a atração que o tema da origem das coisas e da vida exerce sobre o diretor e dançarino (cosmogonia: geração do cosmos, gênese das coisas e do tempo). Paulo Fernandes há muito tempo desafia o público com propostas não muito freqüentes nos palcos de dança e teatro - e não somente aqui no Espírito Santo - ao enveredar por linguagens e temas de atmosferas marcadamente míticas e cósmicas.

Não é tarefa fácil fazer no palco esse resgate do primitivo e do ancestral, que todos carregamos no corpo e na memória. A responsabilidade do artista, quando envereda por essas trilhas - infelizmente cada vez mais esquecidas, em nossa civilização abundante de almas de plástico, enfeitadas de bugigangas eletrônicas, a habitar dentro de assépticos condomínios, shoppings e carros último modelo - é a de conseguir, efetivamente, despertar em nós as ligações obscuras e intuitivas que temos com o mundo, com as coisas e com o tempo.
Há que se ter um extremo cuidado para não inchar o trabalho com inúmeras referências e, aí, se perder num trânsito deslumbrado entre as muitas visões cosmogônicas (as diversas religiões, filosofias e sabedorias); e, também, para não cair na tentação do subjetivismo, das divagações pessoais - evitando impor ao espectador a sua visão pretensamente iluminada do que seja uma percepção profunda, uma relação adequada com a vida e com o ser. Enfim, é preciso se postar com maturidade e equilíbrio, pois quanto mais distantes estamos da origem mais temos o que falar e como falar sobre o assunto - que, aliás, deveria ser um dos assuntos mais importantes de todo e qualquer civilização, esse tema de buscar uma relação profunda e reverente com aquilo que nos cerca.
Pois a tarefa de colocar esse assunto no palco vem consumindo as energias do diretor em seus últimos trabalhos, com o cuidado, a serenidade e a seriedade exigidas. Através de ágeis saltos no espaço, de movimentos rastejantes no chão, de uma quase completa imobilidade do corpo, de gestos geométricos com as mãos ou através de passos robotizados, Paulo Fernandes obstina-em em fazer com que os movimentos dos bailarinos nos ofereçam, por instantes que sejam, aquela atmosfera de densidade e estranheza, de admiração e espanto, que nos envolve quando às vezes temos testemunhamos um pouco desse mistério cósmico que nos acolhe.

Como que puxado por um poderoso imã, Fernandes vai atrás da tarefa de reconstruir para nós, agora através da arte, o precário e escorregadio desenho desses místicos instantes de testemunho da cosmogonia. E, na sua persistência e no seu rigor, o diretor aponta com precisão as trilhas, como que empurra o seu grupo de dançarinos para lá atrás no tempo, impondo a economia e a seriedade de gestos, enfim, exige dos movimentos dos atores (ou da ‘forma’ do espetáculo) aquela mesma concisão e reverência que o diretor consegue impor ao enredo (ou ao ‘conteúdo’) e de que falávamos acima. A ausência de concessões, a recusa ao caminho fácil, está presente até mesmo na trilha sonora: são sonoridades quentes, expressivas, mas com algo de cavernosas, de distância no tempo e no espaço, nada de músicas conhecidas ou apenas agradáveis aos ouvidos.

Já quanto ao ‘conteúdo’, não há propriamente um enredo. O que existem são blocos, episódios em aparência soltos, fragmentados, mas que se juntam numa articulação que, em última instância, dependerá exclusivamente da leitura, da percepção do espectador - o que é comum no teatro de ensaio, de propostas mais conceituais ou filosóficas. O que não quer dizer que não haja, na concepção do diretor, uma seqüência, uma estruturação. No caso de “Cosmogonos”, através de oito episódios, o espetáculo começa literalmente pelo começo (um personagem mascarado, quase imóvel, representando o princípio criador) e vai até nossa era globalizada, na figura da dançarina de gestos mecanizados simbolizando nossa robotização consumista, ideológica e existencial.

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É sempre benvinda e necessária uma arte que não se ocupe apenas de dramas individuais, sociais, afetivos ou de questões estéticas, mas que, complementando essas outras abordagens, seja uma arte que se atreva a assumir o seu parentesco com a religiosidade, a filosofia e o mito, uma arte que ouse nos lembrar que, ao lado dos muitos outros sentidos, o nosso sentido, aqui nesse espantoso mistério do ser, é também o de reverenciar, fundir-se, orar, relembrar, uma arte menos ocidental e mais universal, uma arte do sagrado.
Uma arte que ajude, a nós ocidentais, a evitar nosso quase definitivo esquecimento dos princípios e das origens, nosso medo dos silêncios, nossa fuga de tudo que proponha uma densidade interior, própria. E que também não celebre apenas uma fusão bêbada, carnavalesca ou dionisíaca, como se fôssemos todos bacantes à procura de uma anulação, de um esquecimento de nós mesmos. Uma arte que, embora resgate e celebre a origem comum, o faça de forma a não disfarçar a inescapável e insubstituível ponte que cada um de nós tem com o mistério das coisas, do tempo, das vidas e de si próprio. Uma arte que nos ofereça não apenas carnavalização mas também a reverência ao mistério - nada contra o carnaval e as bacantes, claro, mas tudo a seu tempo e lugar.
Com esse trabalho Paulo Fernandes assume a opção de tentar caminhar em direção a essa arte. Que o diretor e dançarino saiba perseverar na sua tarefa de fazer da dança o instrumento do simbólico e do mítico, do coletivo e do transcendente, que continue a trazer para o palco o silêncio e a densidade.
Roberto Soares

troca de comando no CPV

O CPV (Conselho Popular de Vitória) é a entidade que reúne a imensa maioria das associações de moradores do município. Vitória é dividida em 08 regiões administrativas e o CPV segue essa divisão, para facilitar sua organização interna. Assim, sempre que ocorrem eleições para a diretoria do CPV, também são eleitos os representantes das Regionais, diretamente escolhidos pelas lideranças comunitárias da respectiva região. Essa presença concreta do CPV nas regionais, bem como a escolha direta e democrática dos diretores, sem dúvida reforça a imagem do CPV como entidade maior do movimento popular em nosso município.
Isso sem falar, claro, na presença constante do CPV em quase todas as eleições de associações de moradores da cidade, seja como condutor, fiscalizador ou orientador do processo eleitoral, como aconteceu, aliás, nas recentes eleições de nossos vizinhos do Morro da Fonte Grande, comunidade localizada aqui no centro de Vitória, sobre a qual publicamos um breve informe.
O atual presidente do CPV, Waldemar Cunha Neto, deverá em breve comunicar o seu afastamento da presidência, tendo em vista convite para integrar uma chapa que disputará as eleições na FAMOPES, a entidade que congrega todas as associações de moradores do em nível estadual, incluindo-se o próprio CPV.
Aplaudimos e desejamos sucesso ao Waldemar, em seu novo desafio, registrando que cumpriu suas atribuições no CPV com eficiência e serenidade. Lembrando que o desafio de conduzir a FAMOPES é também tarefa nossa e de todas as lideranças populares do Estado, e com certeza nós do CPV estaremos presentes com Waldemar, numa eventual direção da entidade. Mais à frente publicaremos um panorama acerca da gestão de Waldemar à frenet do CPV.
Com relação ao Congresso da FAMOPES, o mesmo acontecerá entre os dias 03 e 04 de julho e, em sua assembléia do dia 04 de junho, o CPV indicou 20 delegados com direito a voz e voto.

Conheça mais sobre o CPV no link fortalecer o cpv

fortalecer o CPV

Neste momento em que o CPV troca de comando, é oportuno dedicar algumas reflexões que contribuam para se evitar o risco da apatia, da acomodação ou até mesmo da ausência de continuidade do trabalho sério e competente que foi feito no CPV pelo Waldemar, cuja gestão iniciou o processo de resgate revitalização da mais importante tarefa do Conselho, que é o fortalecimento e autonomia do movimento popular.
Afinal, é direito e dever de cada um de nós propor idéias e caminhos que façam do CPV efetivamente um coletivo participativo, fraterno e lúcido com relação ao seu potencial, à sua missão e aos riscos inerentes a essa missão.
Dois pontos precisam ser prioritariamente trabalhados pela nova gestão do CPV: a sua organização interna e a capacitação política e técnica dos conselheiros. Neste texto vamos falar apenas do segundo ponto.
CAPACITAÇÃO DE TODOS OS CONSELHEIROS
De todos os conselhos municipais, o CPV é visivelmente o mais importante para o movimento comunitário, até mesmo pelo simples fato de que passam pelo CPV as indicações dos representantes das comunidades paar todos os outros conselhos municipais.
Mas de nada adianta indicarmos conselheiros e mais conselheiros, se eles não forem devidamente capacitados no aspecto técnico e, principalmente, no aspecto político. Interessa principalmente às comunidades ter conselhos municipais realmente atuantes, autônomos e democráticos, e que se façam respeitar e que sejam efetivamente buscados pelas comunidades.
Aqui devemos nos lembrar que ao executivo, ao legislativo, às entidades de classe, ao meio empresarial, não cabe lutar exaustivamente para que esses conselhos adquiram de fato poder decisório, deliberativo e fiscalizador. Para essas instâncias, os conselhos são um poder concorrente e é previsível que cada instância de poder procure demarcar seu próprio território, sua área de atuação.
Por outro lado, as comunidades estão cada sempre vulneráveis em suas demandas, sempre dependentes de relações de poder assistencialistas e eleitoreiras, submissas a interesses de parlamentares, de administrações ou de partidos políticos.
Por isso, é que cabe principalmente ao movimento comunitário se esforçar para que os conselhos municipais exerçam de fato as atribuições que lhe são conferidas em lei. As outras instâncias de poder já têm seus mecanismos de atuação consolidados e respeitados, é ingenuidade esperar que elas de fato se preocupem em fortalecer os conselhos - não estamos falando aqui de indivíduos, de conselheiros, mas dos centros de poder que eles representam; a análise aqui não é moral ou ética, é apenas constatação social e política.
Mas, para que os conselhos possam de fato exercer esse papel transformador, eles precisam estar instrumentalizados, capacitados técnica e politicamente. Tão ou mais importante do que entender e intervir nos mecanismos funcionais das instituições (legislativo, executivo, empresas públicas, os próprios conselhos) é compreender a dinâmica das relações de poder que comandam essas instituições, que determinam os projetos dessas instituições, os mecanismos que permitem que essas instituições sirvam aos interesses da minoria, representada pelas elites, pelas grandes empresas, profissionais liberais ou sirvam aos interesses da maioria, representada pelas comunidades e movimentos sociais.
Compreender os mecanismos e as relações de poder, capturar suas constantes e sutis transformações, reconhecer em tempo hábil as táticas e estratégias dos diferentes grupos de poder em busca de seus objetivos, tudo isso exige o exercício do pensar crítico, que não se deixa levar pela ingenuidade política ou pela simplificação das análises da realidade. Em razão disso, a formação dos conselheiros deve ser contínua e atualizada, e não apenas eventual.
Roberto Soares, representante do CPV na Regional 01 (centro de Vitória)

07/06/2009

comunidades trilhando

em frente à fonte que deu nome ao Morro


aos poucos a cidade vai ficando 'pra baixo'

debaixo da grandiosa jaqueira: Narciso ( presidente da AMOR) Roberto (regional do CPV) Elenice ( do COLEDUC) Juarez (vereador pelo PSB) Elaine (da Unidade de Saúde)

fila indiana numbelo jogo de cores, luzes e sombras

Moradores de diversas comunidades participaram, no último dia 23 de maio, de uma trilha pelo Parque da Fonte Grande. A iniciativa partiu de Roberto Soares Coelho (representante do CPV para o centro de Vitória) e de Narciso Aparecido (presidente da AMOR - Associação dos moradores do Rosário). Ao todo foram 14 participantes, entre lideranças e moradores do Rosário e de outras comunidades: Fonte Grande, Cidade Alta e Morro do Rio Branco, de Vitória e Aribiri, Santa Paula e Itaparica, de Vila Velha.

A caminhada começou na Rua Sete, subiu pelo Morro da Fonte Grande e chegou até a até a sede do Parque, onde assistimos a um vídeo, andamos por algumas trilhas e visitamos o Mirante. Na volta, descemos por uma outra trilha, do lado de Fradinhos.

Essa foi na verdade a parte mais interessante da caminhada. Guiados por Cláudio, pudemos conhecer muitas histórias sobre os moradores antigos, fazendas e comunidades que existiram nas matas que nos cercam. Cláudio chegou a morar numa das antigas fazendas. Pudemos perceber como é muito mais estimulante e enriquecedor ouvir o relato de alguém que realmente viveu a realidade do lugar. É muito diferente de ficar ouvindo explicações históricas, técnicas e padronizadas de funcionários que, por mais atenciosos e competentes que sejam, nunca vivenciaram as mesmas histórias, e assim não transmitem a mesma sensibilidade, não nos envolvem com a mesma intensidade.

Assim, entendemos que cumprimos nessa trilha os dois objetivos aos quais nos propusemos: o primeiro deles foi a integração entre os moradores da comunidade do Rosário e Morro da Capixaba com os moradores das outras comunidades. O segundo objetivo era o de promover o conhecimento do território onde nós vivemos. Isso pode parecer desnecessário, pois todos nós achamos que conhecemos o suficiente do lugar onde vivemos. Mas a verdade é bem diferente. Às vezes passamos anos a fio morando num lugar e não tomamos conhecimento de suas histórias, de sua diversidade cultural, de sua riqueza natural. Essa, aliás, é uma das propostas do COLEDUC (Coletivo Educador Ambiental): incentivar as pessoas a conhecerem o seu território para melhor protegerem esse território. Afinal, somente podemos cuidar e gostar daquilo que conhecemos bem.

Um outro detalhe a ser lembrado: além do senso de identidade e integração, essas iniciativas ajudam a despertar nas comunidades a sua segurança, a crença na sua capacidade de se auto-organizar, de tomar a frente, sem esperar por diretrizes ou mobilizações oriundas do poder público. Isso é importante, na medida em que desconstrói a dependência absoluta dos poderes de Estado. Claro que o movimento comunitário deve e pode usufruir daquilo que o poder público tem a oferecer. Mas não pode é criar dependência, é ficar inerte e somente se encontrar, se integrar e se conhecer a partir de iniciativas de técnicos, professores, funcionários em geral.

Enfim, utilizando os termos técnicos do COLEDUC, o movimento instituinte (movimento popular em geral) deve construir e preservar sua autonomia, sua liberdade e sua espontaneidade em relação ao movimento institucional (órgãos de estado).
Aliás, essa posição do COLEDUC tem tudo a ver com os fundamentos do movimento libertário e anarquista, proximidade da qual valerá a pena falar oportunamente.

Por ora, quem quiser ler mais sobre o projeto leia o texto primeiro contato.
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Ainda sobre trilhas: nós estamos programando outra caminhada. Desta vez será mais puxada. Vamos subir até o pico do Mestre Álvaro, na Serra, subida de mais ou menos 04 horas. A data prevista é o dia 27 de junho e a saída do ônibus será na Praça Costa Pereira, às 06:00 da manhã.

Estamos tentando conseguir um ônibus gratuito. Se tivermos que pagar, todos terão que ajudar. Mas não deve ficar muito caro, pouca coisa mais do que duas passagens de Transcol. De qualquer forma, se alguém puder ajudar a conseguir o ônibus, entre em contato conosco.
E quem quiser ir no Mestre Álvaro, entre em contato com um dos telefones abaixo. Dependendo da procura é bom garantir logo o seu lugar no ônibus.

Roberto: 9951-4067, Narciso: 8129-5126
MAIS IMAGENS DA TRILHA
a subida vai ficando puxada
na pacata companhia de bovinos

a cidade ainda mais distante, com a Terceira Ponte e o Atlântico ao fundo

05/06/2009

'negro é comida de onça'

O texto abaixo foi postado por Wilson Coelho, na lista de discussão 'Opiniões Cênicas', em 05 de junho; trata-se de uma crítica de Gerson R. Albuquerque direcionada a uma peça teatral montada em Rio Branco, capital do Acre.
Como a peça “Se o mundo fosse bom, o dono morava nele” não passou por Vitória, claro que não há como entrar no mérito da crítica que o autor faz.

Mas vale a sua publicação aqui, em razão da instigante postura do autor em relação a uma certa forma estereotipada e acomodada de se ver e interpretar a chamada cultura popular. Vale também registrar a extrema honestidadae e a coragem com a qual o Gerson Albuquerque expõe suas idéias; mesmo não havendo como entrar no mérito da crítica, como dito acima, não parece o caso de uma coragem movida por mágoas ou antipatias pessoais, o que - aliado à inteligência, contundência e pertinência do texto - justifica plenamente a sua reprodução e divulgação neste modesto espaço.

Negro é “Comida de Onça” ou “Alma de Boi Bordado”
Fui assistir a apresentação do Festival Ventoforte, ontem (22/09), na Usina de Arte “João Donato”. Em cartaz “Se o mundo fosse bom, o dono morava nele”, sob a direção do argentino naturalizado brasileiro Ilo Krugli, baseado em “A Pena e a Lei” (1959) de Ariano Suassuna. Discussões técnicas à parte, o espetáculo permite algumas considerações, se é que isso ainda importa nesses tempos em que uma certa lógica estatal e a postura acrítica de muitos que professam a idéia de viver feito um “bando de coitados” num mundo “à margem da história” e a espera de uma “missão civilizatória”, decidem que o que é “bom para si, é bom para todos”, subvencionando suas preferências com verba pública, portanto verba de todos, sem a aquiescência de todos.
Nas mais de duas horas de espetáculo, a representação/montagem/encenação que Krugli faz do texto de Suassuna transborda a velha estética ocidentalizante da ridicularização do negro, há muito presente no cotidiano brasileiro. Mentalidade colonizada/vocação de colonizador é o binômio que articula personagens, falas, máscaras, mamulengos, gestos, movimentos, ritmos, corpos, caricaturas e discursos que se vê/ouve no palco.
Em meio a pretensos improvisos, pitorescos personagens vão tomando lugar no cenário de uma realidade mitificada. O “preto Benedito” se utiliza de “malandragens”, “espertezas” e “truques” saídos do “mundo da vagabundagem” para ludibriar dois “cabras valentes” - Cabo Rangel, o “Rosinha” e Vicentão, o “Barrote” -, humilhá-los ou desmoralizá-los em “praça pública”, bem “ali em frente a todo mundo”, como meio para conquistar o coração de Marieta, a Madalena do “sertão” idealizado de Suassuna, inundado pelas caricaturas espectrais de Krugli.
A marca de identificação do “preto Benedito”, entoada pelo coro e pelos populares que o insultam de fofoqueiro ou “leva-e-traz”, é “preto comida de onça”. “Preto é comida de onça”, repetem os demais personagens, arrancando risos e graciosidades de uma platéia para quem se constituiu como senso comum o conjunto de estereótipos e chacotas “normalizadoras” do profundo preconceito contra negros, africanos ou afro-descendentes no Brasil. Onde as peias e os chicotes dos feitores de ontem e de hoje se tornaram ineficazes, os “ditos populares”, os “causos”, as piadas, mangofas, brincadeiras, burlas e comédias foram ganhando espaço, dissimulando a violência do racismo sob a capa do culto, civilizado e cordial.
Fiquei observando meus colegas professores, estudantes, ativistas de várias frentes das lutas/movimentos sociais e demais pessoas presentes no teatro da Usina de Arte, caírem na gargalhada ante o “preto é comida de onça”, entoado na improvisação, digo montagem que Krugli produziu com base no texto de Suassuna, um dos mais badalados escribas urbanos de um nordeste inventado, condensado na metafísica de um passado a-temporal, petrificado em temas, personagens, falares e cantigas que perfazem a face de uma tradição una, homogênea, vazia de significados. Face essa cujos estereótipos são amplamente popularizados e disseminados por diversos meios e mecanismos que “massificam” um discurso idealizado sobre o “popular” e o “povo” com suas “tradições”, “valores”, “comportamentos” e “crenças”. Com isso – como afirma Durval Muniz de Albuquerque Júnior -, intentam condensar e tornar homogênea “uma realidade múltipla de vidas, histórias, práticas” e culturas produzidas por diferentes mulheres e homens enquanto sujeitos de suas histórias, em diferentes contextos temporais/espaciais.
No início da peça, ante ao anúncio do Cheiroso – o dono do mamulengo – de que o espetáculo “já vai começar”, a própria crítica que Krugli arremete contra a televisão e, em especial, à rede globo, é adocicada, esvaziada ao longo de todo seu espetáculo, posto que encena ali, “cara a cara” com o público, em todos os seus improvisos treinados e ensaiados, a mesma cantilena da TV Globo, do Globo, do Estadão, da Folha de São Paulo, de toda chamada “grande mídia” e suas sucursais, bem como do senso comum que paira no Brasil em torno das imagens produzidas sobre o “nordestino”, o “retirante”, o “pobre”, o “sertanejo”, o “caboclo”, a “prostituta” e, mais ainda, sobre o “negro” grafado pela pena e discurso do colonizador: “preto é comida de onça”.Ao término do segundo ato, um estrondo e as luzes se apagam, com os personagens de Krugli despencando um a um, enquanto o próprio diretor/ator – em seu treinado improviso – se questiona sobre o pagamento da conta de luz à eletropaulo, quer dizer, eletroacre, pedindo desculpas aos presentes por aquele possível transtorno. Nesse instante o diretor deixa claro que seu “mamulengo” não habita as ruas, mas os teatros e circuitos fechados, inacessíveis aos que vivem nas ruas; é “cultura popular”, sem o “povo” ou, no máximo, com um “povo” que é só caricatura; improviso longe do imprevisto, do não programável.
Passo seguinte, mais uma vez, a voz do diretor/ator – simulando o improviso – convida os espectadores a saírem pela porta de entrada do teatro e se dirigirem até o “final da rua” – a outra metade do palco – onde a equipe da rede globo teria abandonado seus equipamentos de iluminação e, com essas generosas sobras da televisão, seria possível realizar o terceiro ato e o epílogo, encerrando assim seu espetáculo.
A apoteose da nada criativa carga de preconceitos de Krugli se manifesta em falas que, mais de uma vez, repetem os chavões das mídias comandadas pela rede globo em torno de temas como “terrorismo de bandidos” ou “balas perdidas” nos morros cariocas, repletos de “pretos comida de onça”. Porém, é no final do terceiro ato de “Se o mundo fosse bom o dono morava nele”, de Ilo Krugli, que surge em cena a chave de ouro da velha estética do preconceito e de uma “cultura popular brasileira” petrificada por uma tradição escrita e folclorizada sob a égide do olhar colonizador/mente colonizada: a aparição do Boi Bumbá, digo, “Boi Bordado” e a entrada em cena de uma atriz negra - desnuda da cintura para cima - como a alma do boi; aparição insólita de uma “visagem” na fantasmagorica representação desse premiado diretor.
Após esse terceiro ato e mais um epílogo em que, finalmente, Benedito, o “preto comida de onça” se “acasala” com a “sensual” Marieta, “procriando” uma série de “bichinhos”, Krugli encerrou seu espetáculo, efusivamente aplaudido e elogiado. Na saída, velhos e jovens espectadores, satisfeitos com esse contato com “a cultura brasileira”, como afirmava uma senhora ao meu lado, dirigiram-se para suas casas, rememorando as cantigas e retóricas preconceituosas de que negro, isto é, “preto” quando não é “comida de onça”, é “alma de boi bordado”.
Comicidade rude nesses tempos de discussões atravessadas sobre identidades negras, em um país que deveria de auto-proclamar multi-étnico, multi-lingüístico, multi-cultural. Os meios de comunicação, as escolas, as igrejas, os teatros, as músicas, os cinemas, as artes plásticas, as linguagens todas e tudo o que isso implica – em sua possibilidade de produzir corpos e mentes - deveriam entoar outras falas, outros discursos capazes de romper com essa ultrapassada e homogênea idéia de uma ordem, um povo, uma verdade, uma história, uma tradição, uma cultura, um país.
Enfim, os ventos que sopram de lá, de cá e de todos os lugares podem ser capazes de superar essa estética que nos acompanha há mais de cinco séculos. A estética de diferentes multidões de gentes e de culturas enclausuradas ou empasteladas em reduções do tipo “Se o mundo fosse bom, o dono morava nele”, montada, representada e dirigida por Ilo Krugli. Na apresentação do Governo do Estado do Acre, digo, do Grupo de Teatro Ventoforte, infelizmente, o que vi foi a trágica encenação de um patético e racional “improviso”. Ali, bem no “meio da praça”, em frente a todos os presentes, reafirmou-se – entre risos e anedotas de longo alcance – a velha catequese colonizadora: “preto é comida de onça” e “alma de boi bordado”.

Rio Branco, Acre, 23 de maio de 2009
Gerson R. Albuquerque, professor do Centro de Educação, Letras e Artes
Universidade Federal do Acre (
gersonroal@gmail.com)

03/06/2009

coleduc: primeiro contato

Em 2006, a professora universitária Graça Lobino propôs à diretoria do CPV que a entidade manifestasse, junto ao Ministério do Meio Ambiente, interesse em participar do projeto chamado COLEDUC - Coletivo Educador Ambiental. Foi elaborado então o projeto “O movimento instituinte na reconstrução do espaço vivido como direito cidadão”, que propunha trabalhar segundo as diretrizes do COLEDUC, direcionado, num primeiro momento, para os conselheiros das escolas e das unidades de saúde.
Mas, num horizonte mais amplo, o COLEDUC de Vitória propõe capacitar e empoderar lideranças populares em geral, para que essas lideranças exerçam-se de fato como agentes de transformação autônomos, para que entendam que o espaço instituído ou institucional (os poderes de estado) têm que ser uma construção do movimento instituinte (o movimento popular), que é quem de fato institui o institucional, e quem pode, por extensão, direcionar, negar ou superar esse poder de estado, ou institucional.
O texto abaixo, eu o escrevi por ocasião do primeiro Encontro Coletivo Educador de Vitória, que se deu em 17/03/07, para divulgação junto às lideranças populares presentes. Trata-se de um apresentação do que vem a ser esse importante e ousado projeto implementado pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Ministério da Educação - embora erm alguns trechos seja um tanto formal ou técnica, cheia de “pedagogês” e “sociologês”, por isso talvez não seja muito atraente para alguns leitores. Mas não devemos prejulgar, o que importa é o ‘espírito’ do projeto, a sua visão de mundo, a qual inclusive tem uma certa vocação libertária, horizontal e autônoma. Aliás, falaremos sobre essa afinidade num momento oportuno.Esclareça-se que, no Espírito Santo, somente dois projetos foram aprovados pelo MMA e MEC, sendo o nosso projeto um deles.

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Um pouco sobre o COLEDUC

No Brasil, a Educação Ambiental é regulada pela Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), instituída por um lei de 1999, e vem sendo executada pelo ProNEA (Programa Nacional de Educação Ambiental) desde 2003. Alguns dos princípios básicos desse Programa são:
· enfoque democrático e participativo
· visão do meio ambiente como algo mais amplo, abrangente
· a educação como um processo contínuo e permanente

Com base nas diretrizes da PNEA e do ProNEA, foi criado o Programa Nacional de Formação de Educadoras(es) Ambientais (ProFEA). Esse programa pretende implantar a educação ambiental, de forma que haja menos intervenções diretas e mais apoio complementar do poder público, ou seja, uma política de educação ambiental que possibilite e incentive o surgimento de reflexões e ações cada vez mais autônomas, com coletivos municipais e regionais se pensando, se organizando e se autosustentando.
E foi de uma iniciativa desse Programa, o ProFEA, que surgiu o projeto chamado de COLETIVO EDUCADOR. O propósito último seria o de desenvolver uma movimentação nacional contínua e sustentável, visando a formação de educadoras(es) ambientais a partir de diferentes contextos: uma rede articulada, autônoma e interdependente tem por utopia a formação de 180 milhões de brasileiros(as) educados(as) e educando numa visão mais ampla de meio ambiente.

O projeto pretende mapear potenciais “Coletivos Educadores para Territórios Sustentáveis”, possibilitando sua inclusão no Cadastro Nacional de Coletivos Educadores em distintas bases territoriais do Brasil e, assim, viabilizar recursos e processos destinados a sua formação e fortalecimento.
A meta é a identificação de 300 potenciais Coletivos Educadores, a serem selecionados mediante a demonstração de sua capacidade de articular parcerias com as instituições, de dialogar com o ProFEA e de exercer uma atuação permanente e continuada numa base territorial pré-definida.

Um pouco sobre o ‘nosso’ COLEDUC

Elaborado pelo CPV (Conselho Popular de Vitória), o projeto recebeu o nome de “O movimento instituinte na reconstrução do espaço vivido como direito cidadão”. O próximo passo foi o de contactar a SEME - Secretaria Municipal de Educação de Vitória, que abraçou com entusiasmo a idéia.
O Coletivo Educador Ambiental de Vitória (ColEduc-ES) é, então, um grupo constituído por representantes da sociedade civil organizada e do poder público, com o objetivo de construir um projeto político de Educação Ambiental na cidade de Vitória.
O ColEduc-ES terá a missão de promover, na cidade de Vitória, o empoderamento de um grande número de lideranças populares na questão sócio-ambiental. Inicialmente, esse empoderamento se dará através dos Conselhos de Escolas dos CEMEI's (Centros Municipais de Educação Infantil) e das EMEF's (Escolas Municipais de Ensino Fundamental).

O objetivo é o de capacitar cerca de 200 cidadãos, dentre pais de alunos e representantes das comunidades nos Conselhos de Escola. Esse envolvimento se dará através de diálogos profundos, constantes e críticos, versando sobre educação ambiental, que se orientarão sempre para a busca e a elaboração de uma visão bem mais ampla e política do que seja o meio ambiente; e na construção coletiva dessa nova visão de meio ambiente haverá o constante contato entre diferentes comunidades e segmentos sociais.
Aqui é preciso ressaltar que essa capacitação, pretendida para os nossos futuros educadores ambientais, não será direcionada apenas para os aspectos técnicos da questão ambiental. A preocupação será também a de despertar para a compreensão das relações de poder que determinam o problema (e as possíveis soluções) do meio ambiente, ou seja, muito mais do que tratarmos apenas de conservação e preservação de um meio ambiente constantemente agredido e prestes a entrar em colapso, o propósito do Movimento Instituinte estará sempre girando em torno das realidades políticas e econômicas que permitem, incentivam ou ignoram essa agressão recorrente, irresponsável e cega ao mundo que nos cerca e nos sustenta.

Enfim, ao Movimento Instituinte caberá compreender, questionar e contribuir no enfrentamento das situações de degradação impostas pelos poderes instituídos, sejam eles de natureza pública ou privada, sejam eles de âmbito federal, estadual, municipal ou local. A utopia maior do Movimento será a de contribuir para consolidar de vez uma nova postura da civilização ocidental para com o mundo, uma postura de integração e não mais de agressão, de domínio, uma postura de reverência e amizade e não apenas instrumentalização e conquista que, no fundo, apenas disfarçam o medo, a insegurança e a incapacidade para se postar com a devida humildade perante o Outro que é o mundo, o cosmos.
O nosso projeto tem como foco o Movimento Instituinte, centralizando a sua proposta de ação na Escola e na Unidades de Saúde, através da formação dos conselheiros locais oriundos do movimento popular e da associação de pais - e podemos perceber a importância dessa escolha para o movimento popular.

Afinal, a opção foi no sentido de enfatizar e valorizar o movimento instituinte em relação ao movimento instituído - o movimento popular em relação aos espaços institucionais, a comunidade em relação à administração escolar, a democracia direta em relação à democracia representativa; essa escolha, na verdade, reflete uma das diretrizes do ProFEA, qual seja, a de não restringir a formação de educadres ambientais apenas aos técnicos, pedagogos e professores, não restringir a educação ambiental à educação formal.


Roberto Soares Coelho, representante do CPV na Regional 01 - centro de Vitória - é membro do COLEDUC /ES desde a sua fundação.

02/06/2009

rebelião na Grécia (4)

Ações na Grécia rebelde contra a repressão no México
(por agência de notícias anarquistas-ana - a_n_a@riseup.net)

Espiral de solidariedade, semente de resistência!
Atenas, Grécia


As companheiras e companheiros de bases de apoio do EZLN...
As companheiras e companheiros da Otra Campaña e da Zezta Internazional...
As companheiras e companheiros da Sexta Comissão e da Comissão Intergaláctica do EZLN...
A todos os lutadores sociais...
Com muita preocupação e raiva nos inteiramos das intenções e das agressões que foram cometidas pelas forças policiais e militares, assim como por grupos paramilitares, contra nossos companheiros e irmãos das bases de apoio do EZLN e os da Otra Campaña em San Sebastián Bachajón. O objetivo destas operações é clara: a imposição dos mega-projetos capitalistas, como a estrada em San Cristóbal-Palenque, a destruição da terra e dos recursos naturais, a submissão, a expulsão das comunidades indígenas em resistência, o intuito de acabar com a autonomia zapatista...
O poder capitalista revela uma vez mais seu verdadeiro rosto, o da repressão e da violência, da calúnia e das mentiras, das ameaças, das torturas e das arbitrárias detenções contra a digna luta zapatista e o movimento da Otra Campaña, contra cada movimento, cada rebelde e insubmisso em qualquer parte do México e do Mundo.

A cada dia sofremos aqui, neste rincão do sudeste da Europa, a retaliação do Estado contra os insubmissos, os imigrantes, todos os que se rebelaram em Dezembro de 2008, e seguimos lutando por liberdade e dignidade. Mas as detenções, as torturas, as perseguições orquestradas pelo Estado grego são respondidas com a construção de novos espaços livres e auto-gestionados: parques e terrenos recuperados, mais okupas, com a luta pela liberação de nossos presos, pela defesa da terra e do meio ambiente, pelos direitos dos imigrantes, dos trabalhadores.
O terrorismo de Estado e do capital, com qualquer cor que se vista, não tem pátria. Tampouco a rebeldia e a solidariedade. E é este 'nós', os de baixo, que, como uma ponte, como uma pátria sem nacionalidade, sem limites geográficos, distâncias ou fronteiras, nos faz mais fortes para seguirmos lutando pela liberdade, a dignidade, a justiça, e que nos conduz cada vez mais a descobrir a força e o valor da solidariedade. E é a 'falta de respeito' rebelde que ridiculariza fronteiras, aduanas, exércitos, governos, guerras.
Seguimos as ações de difusão e de contra-informação sobre a repressão e agressões que sofrem nossos companheiros, as bases de apoio do EZLN e da Otra Campaña de Chiapas, sobre a condição dos presos políticos de Atenco, de Oaxaca, de Guerreiro, de todo o México, junto com os companheiros das assembléias, solidários anarquistas, antiautoritários e libertários, os quais somos todos simpatizantes e participantes.
Organizaram-se eventos de solidariedade que tiveram projeção com o vídeo 'A Autonomia Zapatista', debates, palestras, exposições fotográficas, espaços livres e auto-gestionados com os okupas, parques recuperados, faculdades ocupadas nas cidades de Tessalônica, Chania com o Rosa Negra (Ilha de Creta), Iraklio na okupa Evangelismo (Ilha de Creta), foram entregues panfletos, folhetos, expuseram-se mantos etc. Pelos próximos dias, estão sendo programados 3 eventos em Atenas: 29 de maio (parque okupado da rua Navarinou Exarjeia), 4 de junho (Okupa Lelas Karagianni, 37), 12 de junho (Okupa do prédio de Prapopulos).
Reiteramos mais uma vez nosso apoio firme e incondicional ao EZLN e às comunidades rebeldes zapatistas e à Otra Campaña.
Exigimos:
- A liberdade imediata e incondicional dos 7 companheiros presos políticos da Otra Campaña de San Sebastian Bachajón, dos companheiros de Atenco, de Oaxaca, de Guerrero e de todo México e do mundo.
- O cancelamento das ordens de prisão.
- O fim das agressões, perseguições e repressão contra as comunidades rebeldes zapatistas e de todos os rebeldes do México e do Mundo.
- Fim das perseguições dos lutadores sociais. Liberdade aos presos políticos!

A paixão pela liberdade é mais forte que todos os calabouços!
Para que a rebeldia não passe a ser um conto, uma lenda!
Rebeldia. liberdade, dignidade desde o México até o fim do mundo!
Por um mundo sem patrões, nem escravos, sem policiais, nem exércitos!
Sem cárceres, nem fronteiras! Até a libertação social mundial, a luta continua!
Tradução: Palomilla Negra

flecheira libertária (3)

"Flecheira Libertária" é uma seção do endereço libertário nu-sol. É um espaço de onde são lançadas flechadas certeiras e cortantes contra o senso comum e os mecanismos de domesticação e captura de nossa liberdade. É uma abertura, um buraco nas muralhas da engrenagem e na nossa tendência para a aceitação da ordem, nossa necessidade inconsciente de se entregar a uma visão sempre tranquilizadora do mundo e da história.
Flechadas que, geralmente através de um ou dois parágrafos, atingem em cheio o alvo e despertam para o risco de nos aquietarmos nas certezas estabelecidas, mesmo que tenham duramente conquistadas. Mesmo para quem não comunga das propostas anarquistas ou libertárias, vale a pena ao menos acompanhar o ousado e inusitado percurso dessas flechadas. E quem sabe se deixar flechar. Um pouco de lucidez e dúvidas não ferem tanto assim.
Flecheira 112, 26 de maio
assim já caminhou a humanidade.... ?
Chifre da África. 4 milhões de crianças correm o risco de desaparecer de fome, doenças, maus-tratos; 6 milhões de pessoas dependem de doações da caridade internacional, para serem mantidas lá, em seus campos de refugiados, em suas aldeias de terra seca, aguardando a caixinha de ração, a vacina contra sarampo, o fotógrafo condoído. E se a tal ajuda não chegar? Se nem o fotógrafo aparecer? Esses milhões começarão a se mover, a sair de suas choças e atravessar mares apenas para fazer viver suas crianças? Tal qual aqueles hominídeos primatas que se ergueram em duas pernas e, andando livres a partir da África, ocuparam o mundo inteiro, das estepes geladas às florestas úmidas, dos desertos às praias. Ou não, ou morrerão a míngua? Confinados dentro de cercas farpadas, esperando o comboio humanitário chegar pelo caminho empoeirado.

zeladores
Moças e senhoras educadas dedicam-se a delatar condutas politicamente incorretas. São as novas policiais ou zeladoras da sua vida. Há homens também entre elas, firmes em deixar tudo limpo. Limpar o congresso, bares, escolas e lares. Nada de barulhos, risadas, choros, diversão; somente ruídos controlados, sorrisos breves, lágrimas com discrição: violência surda! Não fume, não beba, não minta, não diga as palavras erradas. Seja um (a) conformista sóbrio (a). Ao abrir a capa vê-se no corpo as carnes do fascista!

tráfico de gente ou imigrações ilegais?
Não há capitalismo sem ilegalidades, sem tráfico de mercadorias, produtos e gente. Não são poucos os livros, os relatórios, as reportagens jornalísticas que informam como se ganha dinheiro arruinando a vida de pessoas, paisagens, ares e lugares. Na maioria das vezes, e em nome da segurança, o cidadão responsável pede mais polícia, exército, força-tarefa. Não raramente polícias, comerciantes ilegais e as legalidades capitalistas associados extraem lucros em grana, bebem o sangue, detonam crianças e jovens, traficam gente para empresas legais e ilegais. Lidam com vidas de pessoas como excesso no matadouro.
flecheira 111 - 19/05/09
fósforos queimados
Gaza (Palestina), Bagram (Afeganistão), Fallujah (Iraque), tanto faz. Bombas explodem a pretexto de portar luz à noite durante combates e o pó de branca fumaça adere à pele de corpos vivos e queima até ser totalmente consumido. Polêmicas humanitárias espocam aqui e ali com alarde, depois caem na apatia. Estaria o fósforo branco dentro das proibições do direito de guerra internacional? Não é arma química, nem arma incendiária, concluem especialistas internacionais, os quais permitem seu emprego, exclusivamente, para sinalizar, iluminar e fazer fumaça. Queima? Tanto faz um fósforo ou outro queimado para a vitória dos exércitos, tanto faz qual exército.

você pode fumar baseado (continuação)
Deu na primeira página da grande imprensa paulista: jovens fumam maconha, a direção da escola chama a polícia e acontece o confronto. Universidades pelo Brasil: jovens fumam pelos cantos temerosos e sorrateiros. Nos lares por aí, o uso de drogas segue condenado pelos pais. Seus filhos usuários, bem domesticados, calam ou concordam. E com sorrisinhos marotos se declaram antitabagistas. Era da dissimulação e dos contingentes reativos que pedem segurança, polícia, vigilância, prisão, tribunal e, ao mesmo tempo, consomem sua droguinha de juventude. Enquanto isso o tráfico enriquece, os bancos lucram, a polícia se arma e espiona sob a alegação de controle dos perigosos.

você pode ...
Um desfigurado contingente reativo escorre pelas ruas e avenidas fritos pelo crack. Um montado pequeno contingente reativo sacode pelas pistas de danças com cocaína e sintéticos. Um enorme contingente reativo tenta dormir contagiado pelos medicamentos. Hoje você pode, mas no interior dos variados contingentes reativos.

“ na escola ensinam-lhe cidadania, patriotismo... e como eleger chefes”
“ os que optam pela via libertária têm pela frente todas as adversidades”
(edgar rodrigues).