pequena pedra
no verde vê.
...água...
paredão de pedra
na névoa verte.
...água...
pedra cá pede.
pedra lá perde.
...água...
prece à.
pressa da...
...água...
poema: roberto soares
fotografia: roberto soares - santana do paraíso, vale do aço, minas
pequena pedra
no verde vê.
...água...
paredão de pedra
na névoa verte.
...água...
pedra cá pede.
pedra lá perde.
...água...
prece à.
pressa da...
...água...
poema: roberto soares
fotografia: roberto soares - santana do paraíso, vale do aço, minas
mariana botelho
(fotografia: casa em padre paraíso, vale do jequitinhonha, minas - acervo da biblioteca municipal da cidade)FSM 2001
Não iremos ao Forum "Social" Mundial! E não estamos sós!
Companheir@s
Nós não iremos ao autoproclamado Fórum Social Mundial. Em nosso coletivo, há um "consenso" de que tal Forum é a tentativa dos setores da esquerda tradicional, a velha esquerda estatista e burocrática, de apropriar-se da luta contra a "globalização" capitalista numa perspectiva nacional - desenvolvmentista. É a esquerda que quer o capitalismo "humanizado"; que quer "socializar" a mercadoria; que quer governar o Estado. Não é à toa que se realizará em Porto Alegre, escolhida, aliás, como capital permanente do evento: é o laboratório dos governos da esquerda oficial em nosso país, com o PT à frente.
O Forum é uma articulação que vai desde a Conferência dos Bispos Católicos (CNBB), passando pela degradada CUT, os partidos da esquerda institucional, o MST, até organizações empresariais.
A estrutura do Forum é hierárquica, verticalizada, como sói de ser esses eventos da esquerda burocrática. Palestrantes/conferencistas, de um lado, e, de outro, público espectador. Não tem nada a ver com as nossas experiências horizontais, democráticas, autônomas, organizadas desde baixo, como no N30, M1, S26 e assim por diante. Aliás, é preciso que se diga: nenhum dos grupos que estão organizando o FSM participou de nenhum dos dias de ação global contra o capitalismo!!!! Eles não se sentiriam bem: o que eles sabem fazer são os velhos congressos de "representantes" que não representam ninguém, manifestações que mais parecem "showmícios", campanhas eleitorais mais estetizadas do que as dos partidos tradicionais da burguesia...
O que eles querem com esse Fórum?
1. Apropriar-se de uma luta da qual não participam: os dias de ação global conta o capitalismo;
2. Absorver a crítica anticapitalista numa elaboração de um projeto de administração capitalista, cujo centro a ilusão de uma política de "desenvolvimento nacional";
3. Catapultar-se eleitoralmente como alternativa de governo.
Nós não vamos ao Forum Social Mundial. Nem nós, nem a grande maioria (se não a totalidade) dos grupos que vêm participando das lutas em nosso país contra a farsa dos 500 anos, das ações globais, que rejeitaram a burocratização e a partidarização do II Encontro Americano pela Humanidade e contra o Neoliberalismo...
Coletivo Contra-a-corrente, 6 de Dezembro de 2000
BATTISTI E A UNIÃO DAS DIREITAS ÍTALO-BRASILEIRAS
Nos próximos dias, o Supremo Tribunal Federal se reunirá para decidir sobre o futuro de Cesare Battisti, cidadão italiano acusado de crimes políticos da luta armada dos chamados "anos de chumbo" em seu país, a quem o governo brasileiro concedeu, em decisão soberana, o status de refugiado político. Com a decisão adotada pelo Ministro Tarso Genro, o caminho do pedido de extradição de Cesare Battisti, preso desde 2007 em Brasília, deverá ter o caminho do arquivo. Deverá? Eis a questão que hoje movimenta animadas figuras expressivas do pensamento de direita dos dois países diretamente envolvidos – Itália e Brasil – e de toda a aldeia global.
A decisão do Supremo será tomada num contexto de franca ofensiva de comunicação dos reacionários dos dois países. A jurisprudência é clara, fixada em decisões anteriores do STF similares ao caso de Battisti, inclusive os que envolvem fugitivos da Justiça Italiana procurados ou condenados por ações armadas nos anos 70, quando a Corte brasileira negou os pedidos de extradição com fundamentos praticamente idênticos aos adotados pelo Ministro Genro em sua decisão atualmente tão contestada. Ela própria considerou constitucional dispositivos previstos na Lei 9.474/97, a mesma base utilizada para o parecer do Procurador Geral de Justiça em defesa do arquivamento do pedido de extradição movido pelo governo italiano contra Battisti, após a decisão soberana do governo brasileiro lhe concedendo o refúgio.
O que cria o suspense sobre a manifestação do Supremo é o contexto de luta política que se seguiu, tanto no plano interno quanto no internacional, contra a decisão de Tarso Genro, amparada em unânime e bem articulada grita dos meios de comunicação de massa dos dois países.
Sucessivos governos italianos assimilaram com aparente tranquilidade o asilo informal concedido a Battisti e outros participantes da luta armada na Itália pelo presidente François Mitterrand. Por mais de uma década, eles viveram em paz na França, ali constituíram família e desenvolveram atividades profissionais, sob a condição imposta pelo governo socialista que os acolhia de renúncia formal à luta armada. Battisti assinou tal declaração, casou-se, teve duas filhas, escreveu livros e construiu sua vida na França até que os ventos conservadores que varrem o Velho Continente levaram ao poder a direita francesa e Jacques Chirac lhes cassou o status conferido por Mitterrand. O mesmo não sucedeu desta feita.
Alguns "crimes" cometidos na decisão do Ministro da Justiça no caso Battisti açodaram a direita italiana em sua reação furiosa. Um deles foi a menção à violação aos direitos humanos pelo Estado Italiano, extrapolando as próprias leis de exceção editadas no período: "é público e incontroverso, igualmente, que os mecanismos de funcionamento da exceção operaram, na Itália, também fora das regras da própria excepcionalidade prevista em lei. Tragicamente, também no Estado requerente, no período dos fatos pertinentes para a consideração da condição de refugiado, ocorreram antes momentos da Historia em que o 'poder oculto' aparece nas sombras e nos porões, e então supera e excede a própria exceção legal. Nessas situações, é possível verificar flagrantes ilegitimidades em casos concretos, pois a emergência de um poder escondido 'é tanto mais potente quanto menos se deixa ver'. Isso é professado em nome da preservação do Estado contra os insurgentes, que não é menos ilegítima do que as ações sanguinárias dos insurgentes contra a ordem", afirma Genro em sua decisão (parágrafos 17 e 18).
Berlusconi e a direita italiana não gostaram de ver apenas o seu passado remexido. Ao analisar o pedido de Battisti, e fundamentar sua decisão igualmente na sua condição de perseguido e nos riscos à sua vida e integridade pessoal decorrentes da extradição solicitada pela Itália, o Ministro Genro também aponta elementos de continuidade entre a situação de exceção vivida nos anos 70 e a ofensiva da nova velha direita italiana de retomar os processos contra os militantes da luta armada daquele período. "Concluo entendendo, também, que o contexto em que ocorreram os delitos de homicídio imputados ao recorrente, as condições nas quais se desenrolaram os seus processos, a sua potencial impossibilidade de ampla defesa face à radicalização da situação política na Itália, no mínimo geram uma profunda dúvida sobre se o recorrente teve direito ao devido processo legal. Por consequência, há dúvida razoável sobre os fatos que, segundo o recorrente, fundamentam seu temor de perseguição", encerra Genro sua decisão (parágrafos 43 e 44).
Assim, o presidente espetaculoso da Itália, montado em sua coligação que integra todas as tonalidades do pensamento mais direitista de seu país, incluindo-se aí os neofascistas e racistas da Liga do Norte, e ainda respaldado pelos meios de comunicação de que é proprietário privado e dos meios de comunicação estatais sob seu comando, transformou o caso Battisti num elemento de "união nacional" e de legitimação do Estado Democrático de Direito italiano pretensamente atingido pela decisão do governo brasileiro.
A direita tupiniquim alvoroçada encontrou um mote para fustigar o governo Lula, no contexto de uma crise internacional que elevou ainda mais a popularidade do Presidente e do próprio governo a patamares recordes de mais de 80%. Alinharam-se assim os principais editorialistas dos jornais escritos e as redes de televisão no ataque à soberania brasileira, reproduzindo os argumentos fascistas de autoridades italianas que nos remetem à condição de República de Bananas a desafiar o berço do Direito e da Civilização Cristã Ocidental.
Nesta cruzada, direitas ítalo-brasileiras se juntaram, pressões diplomáticas injustificáveis foram adotadas na Itália e justificadas no Brasil, expressões preconceituosas e discriminatórias ofensivas contra o povo brasileiro foram veiculadas por meios impressos, rádio, TV e internet por uma direita sem bandeiras e sem outras perspectivas para o Brasil que não seja a submissão covarde aos ditames dos governos dos países que compõem o G-8, mesmo que econômica e politicamente decadentes, como é o caso da corte bufa de Berlusconi.
Vejamos como o STF resolverá o 'imbroglio'. Se manterá suas decisões anteriores, baseadas no direito e na Constituição brasileiras, ou se fará média com a mídia e os setores conservadores transnacionais em campanha para fazer de Battisti um instrumento da afirmação de sua prepotência e autoritarismo.
Renato Simões é conselheiro nacional do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH)
A seção “Falas” é um espaço reservado para trechos de obras em prosa, de autores consagrados ou não, publicados ou inéditos.
Inauguramos com um fragmento do livro “A fascinação pelo pior’, (publicado no Brasil pela Editora Rocco, em 2008) do jovem escritor francês Florian Zeller, nascido em 1979.
“Já tinha observado, por exemplo, que é muito raro as pessoas abandonarem essa atitude falsamente distanciada e irônica que as protege tão bem do mundo. Hoje em dia, tudo o que se expressa só pode fazê-lo através do filtro deformador da aproximação rápida e do humor - não o humor, na verdade, mas a piada, a ironia, a mera leviandade. Tudo vira pretexto para rir, mas se trata de um riso besta e grosseiro. Todos, no fundo, absolutamente distantes uns dos outros, o que significa dizer, no fim das contas, uns à custa dos outros. Alguém que pense e sinta por conta própria nunca poderia participar dessa espécie de euforia triste. É algo que sinaliza o fim da conversação entre as pessoas e, portanto, de certa forma, aponta para o reino da solidão.” (Florian Zeller, “A fascinação pelo pior”, p. 90)